Publicado em 21/06/2020 às 08:59:24
O Globoplay anunciou nesta semana um acordo inédito com fabricantes de televisores para que o aplicativo passe a fazer parte dos novos modelos de aparelhos, ao invés de entrar na lista de apps da SmarTV. A mudança é planejada pelo Grupo Globo desde que houve a decisão de investir no serviço de streaming e pode ser o caminho do futuro para a TV aberta, fugindo da concessão e garantindo espaço na TV da internet.
O movimento vai muito além que garantir comodidade aos assinantes para acessar a plataforma, mas é uma tentativa de deixar empresas de comunicação capazes de ter sua própria TV sem a necessidade da dependência de uma concessão governamental. Como não existe regulamentação da internet, qualquer empresa pode lançar uma TV na internet e a Globo tenta sair na frente para alcançar a maior parte da população brasileira.
“A grande inovação dessa parceria é a construção de uma nova experiência de assistir TV. É o que chamamos de TV híbrida. Criamos uma ponte entre a transmissão de TV aberta da Globo, recebida pela antena, com o Globoplay, que está conectado na internet. Com isso começamos a derrubar a barreira existente entre o consumo linear de TV aberta e on demand do Globoplay, colocando de vez a Globo na mãos dos consumidores”, contou Raymundo Barros, diretor de Tecnologia da Globo, ao anunciar a parceria com empresas que fabricam televisores.
Essa mudança, segundo explicação de técnicos da Globo, irá revolucionar a forma como o público assiste TV no Brasil. No futuro, nas novas TVs 4K e 8K, por exemplo, será possível ter esses conteúdos ao vivo em HD pelo ar e, utilizando o recurso da TV hibrida no Globoplay, esse mesmo conteúdo estaria disponível em live streaming sincronizado em 4K ou 8K pela internet.
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O Globoplay já oferece a programação ao vivo da Globo pela internet e em tempo real, mas ainda trata-se de um aplicativo. Agora, a grande sacada é que chegando a televisores de pelo menos quatro marcas diferentes já pré-instalada, a plataforma garante um avanço importante porque haverá um botão no controle remoto dos eletrodomésticos que garantirá ao telespectador acessar a programação ao vivo da emissora carioca com um único clique.
Embora seja considerado um grande avanço, ainda é cedo para cravar que esta seja o novo modelo da televisão aberta no Brasil. Isso porque existem alguns problemas a serem contornados e que vão muito além da capacidade das emissoras. Um deles é o fato de que o alcance da internet para a população brasileira está muito longe da TV aberta via concessão. Estudos mostram que, em 2018, quase 50 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet. Isso representa mais de 20% da população, o que a coloca ainda bem abaixo do alcance da TV aberta, em que mais de 95% da população acessa diariamente, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Outra situação a ser resolvida é a qualidade da internet brasileira. Embora tenha avançado nos últimos anos, ainda há muitos lugares, principalmente no interior do Brasil, em que a velocidade de conexão é considerada muito abaixo do necessário para entregar produções com a qualidade de imagem. Se já é difícil para o Globoplay com suas séries e novelas gravadas, ao vivo tudo se torna ainda mais complexo.
A Globo está em pé de guerra com o presidente Jair Bolsonaro, que já ameaçou mais de uma vez não renovar a concessão da emissora em 2022. Mas o movimento do Globoplay não chega a ser um plano B para o caso da ameaça se cumprir. Nenhum diretor da cúpula do Grupo Globo acredita que o presidente teria condições de fato de tirar o sinal da emissora.
Até porque, embora faça parte das decisões de um presidente a manutenção ou não da concessão de TV, a legislação não dá este poder isolado a ele. Caso Bolsonaro tente o movimento, ele terá de viabilizar a aprovação do Congresso Nacional para acabar com o sinal da Globo. E é nisso que a empresa aposta, já que tem bom relacionamento com a classe política e dificilmente haveria aprovação de uma decisão assim.
O Globoplay como TV aberta na internet é um movimento que a Globo busca desde o início da década, seguindo uma tendência mundial. A expectativa é de que a forma como a imagem televisiva chegue na casa das pessoas mude sensivelmente nos próximos 20 anos e o Globoplay pode ser a nova Globo.
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