“Os últimos seis anos foram especialmente difíceis para os trabalhadores da cultura. Apesar do cenário, o ano passado foi positivo para mim.”
Publicado em 07/02/2023 às 05:01:00,
atualizado em 07/02/2023 às 13:13:13
Lucas Oradovschi dá vida a Jairo, o segurança galã e homem de confiança de Lui Lorenzo (José Loreto) em Vai na Fé. Na forma como tenta conquistar a dançarina Ivy (Azzy), o personagem leva à trama uma abordagem sobre machismo. O debate e a dubiedade da trama são celebrados pelo ator, que nesta entrevista exclusiva ao NaTelinha também fala sobre sua formação, outros trabalhos e os mais de 20 anos de carreira no teatro.
“Os últimos seis anos foram especialmente difíceis para os trabalhadores da cultura. Apesar do cenário, o ano passado foi positivo para mim”, afirma Lucas Oradovschi. Além da nova novela, ele fez uma participação em Além da Ilusão (2022) e emplacou projetos em plataformas de streaming. “Estou otimista que o novo governo aposte numa retomada cultural como caminho possível para a reconstrução do país e para nos livrar desse limbo conservador e negacionista.”
Segundo o ator, Jairo é complexo como os demais personagens de Vai na Fé. “Não são uma coisa só, têm suas contradições. O que dramaturgicamente é super interessante, pois é como somos na vida”, diz. Para ele, a postura do segurança com Ivy é reprovável. “Essa construção pode permitir que Jairo ainda seja muitas coisas na trama, tanto para o bem quanto para o mal. É muito instigante como ator ter essa pluralidade de camadas para lidar.”
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O decorrer da história reserva surpresas. Pouco antes de morrer, Carlão (Che Moais) pedirá que o colega proteja Sol (Sheron Menezzes). “Será que Jairo tomará isso como uma missão ou usará para outros fins? Desde então, tenho lido o personagem por essas perspectivas”, antecipa o intérprete.
O ator elogia o elenco predominante negro e comemora a presença em uma novela preocupada com questões sociais. Na entrevista, ele também relata como lida com o machismo. “Interpretar um personagem com uma conduta tóxica pode ser uma excelente oportunidade para mostrar ao público que outros caminhos de masculinidade são possíveis. Homens precisam ter responsabilidade afetiva em seus relacionamentos.”
NaTelinha: Fale um pouco sobre sua trajetória de vida e de carreira até aqui.
Lucas Oradovschi: Os meus 20 anos de carreira se deram principalmente sobre uma trajetória no teatro. Nesse tempo, fiz também muitas participações em filmes, séries e novelas. Na TV, fiz as cinco temporadas da série de humor Adorável Psicose, no Multishow, como o Cara de Bigode, personagem que me marcou muito. Atuei em coletivos do teatro carioca por muito tempo, como o Teatro de Operações, a Cia dos Bondrés e o Bonobando. Destaco algumas montagens, como: Deus é Química, com Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães; Instantâneos, da Cia dos Bondrés; e Cidade Correria, do Bonobando, que eu assino a direção.
O teatro foi me ampliando percepções, caminhos de vida, me ensinando ofícios. Comecei como ator, mas logo descobri que dar aula de atuação, sobre o jogo do ator, me ajudava a organizar os princípios técnicos pro meu próprio trabalho como ator. Eu sou apaixonado por este campo de estudo, de pesquisa, de formação. Venho da universidade pública, fiz minha graduação na UNIRIO e mestrado na UFRJ.
“Os últimos seis anos foram especialmente difíceis para os trabalhadores da cultura. Apesar do cenário, o ano passado foi positivo para mim.”
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Além de ser escalado para Vai na Fé, estreei duas peças, O Balcão e Cão Gelado, e retomei o projeto de teatro infantil, Rosa e a Semente. Fiz participações em Desalma, da Globoplay; o cigano Misha em Além da Ilusão, da Globo; As Bruxas de Assis, na Disney+; e o especial Feliz Ano Novo de Novo, da Amazon Prime.
“Estou otimista que o novo governo aposte numa retomada cultural como caminho possível para a reconstrução do país e para nos livrar desse limbo conservador e negacionista.”
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NT: Como você define o Jairo de Vai na Fé?
Lucas Oradovschi: Jairo é segurança, motorista, amigo e braço direito de Lui Lorenzo. É seu homem de confiança. Dele e de sua mãe, dona Wilma. Percebo que os personagens de Vai na Fé são complexos, não são uma coisa só, tem suas contradições. O que dramaturgicamente é super interessante, pois é como somos na vida.
“Ao mesmo tempo que inspira confiança, Jairo tem algumas atitudes reprováveis como, por exemplo, a maneira como tenta seduzir Ivy. Essa construção pode permitir que Jairo ainda seja muitas coisas na trama, tanto para o bem quanto para o mal.”
Lucas Oradovschi
É muito instigante como ator ter essa pluralidade de camadas para lidar. Outro importante dado para o desenvolvimento do personagem é o fato de que, pouco antes de sua morte, Carlão pede para que Jairo proteja Sol. Será que Jairo tomará isso como uma missão ou usará para outros fins? Desde então, tenho lido o personagem por essas perspectivas.
NT: Essa é sua estreia em novelas? Como tem sido a experiência?
Lucas Oradovschi: Como elenco fixo, sim. Tenho aprendido e me divertido. Tem sido uma delícia me exercitar como ator na linguagem da TV. Me sinto feliz como uma criança descobrindo coisas novas todos os dias e trabalhar ao lado de Renata Sorrah, Lobianco, Loreto, Sheron tem sido um prazer e uma honra para mim. A direção do Paulinho Silvestrini e sua equipe é sempre cuidadosa, com amorosidade, o que torna o ambiente sempre leve e acolhedor. Isso faz toda a diferença para o desenvolvimento de um bom trabalho.
NT: Qual repercussão tem chegado até você desde a estreia da novela?
Lucas Oradovschi: A repercussão da novela está sendo maravilhosa. Estou sentindo no dia a dia o alcance de uma novela que já estreou como sucesso. As pessoas na rua comentam, amigos próximos e distantes me procuram para dizer que não assistiam novela há anos e que estão amando Vai na Fé.
“Credito parte dessa repercussão ao fato de ser a primeira novela da história da teledramaturgia brasileira com elenco majoritariamente composto por atrizes e atores pretos. Num país de maioria da população negra, isto é muito relevante.”
Lucas Oradovschi
Eu me sinto muito honrado de ser exatamente essa a minha primeira novela como elenco fixo, pois as lutas por reparações de injustiças históricas fazem parte das minhas reflexões e atitudes no dia a dia. E também orientam minhas escolhas profissionais e posicionamentos políticos.
NT: O personagem vai servir para uma abordagem do machismo. Como lida com essa questão na vida real? É uma preocupação no seu dia a dia?
Lucas Oradovschi: Não tenho palavras para descrever a alegria de estar em uma novela da Rosane Svartman, autora sensível, coerente e atenta ao nosso tempo histórico e às questões urgentes a serem levantadas e debatidas. O dia a dia para as mulheres no Brasil é muito pesado. São muitas violências, as mais variadas, assédios são banalizados, vemos poucos exemplos de homens respondendo criminalmente por seus atos contra mulheres.
“Em meu processo de amadurecimento, e crescimento como ser humano, venho incessantemente me revisando, com ajuda de terapia, de auto cuidado, para encontrar caminhos para uma masculinidade mais saudável.”
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Sou de uma geração que não teve bons exemplos e referências, que não teve acesso a debates fundamentais como masculinidade tóxica, responsabilidade afetiva. Hoje tento dar outros exemplos aos meninos da minha família, aos amigos à minha volta. E apontar outras possibilidades de como ser homem no mundo, de um modo mais responsável, sensível, menos negligente e embrutecido.
“Acredito que interpretar um personagem com uma conduta tóxica pode ser uma excelente oportunidade para mostrar ao público que outros caminhos de masculinidade são possíveis. Homens precisam ter responsabilidade afetiva em seus relacionamentos.”
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NT: Além da novela, você está envolvido em algum outro projeto?
Lucas Oradovschi: Este ano, financiado pelo Fomento à Cultura Carioca da Secretaria Municipal de Cultura, montarei um espetáculo solo que se chamará Um Pássaro Não é uma Pedra, em que abordaremos uma experiência de teatro comunitário no campo de refugiados de Jenin, na Palestina. A ideia é estudar a violência colonial de Israel diante dos palestinos, para falar da nossa violência colonial aqui, no Brasil contemporâneo.
Convidei três diretoras para estarem comigo e experimentarmos uma direção coletiva. No momento, estou em algumas frentes, a maioria no teatro. Estou em três projetos: O Balcão, direção do Renato Carrera; Cão Gelado, direção do Gunnar Borges; e Rosa e a Semente, direção do Isaac Bernat. No audiovisual, posso ser visto em participações no Feliz Ano Novo de Novo, especial do Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães para a Amazon Prime e, em A Magia de Aruna, da Disney+, que tem previsão de estreia para este ano.
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