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Livro revela uma Dercy Gonçalves que poucos conheceram

Atriz e dramaturga, Lucy Freitas lembra trajetória da veterana em Minha Tia Dercy, com episódios e detalhes da vida pessoal e familiar da biografada

Dercy Gonçalves morreu em 2008, aos 101 anos - Foto: Reprodução
Por Walter Felix

Publicado em 08/07/2022 às 06:30:00

A primeira lembrança que Lucy Freitas tem da tia-avó, Dercy Gonçalves (1907-2008), vem dos três anos de idade. Da coxia, ela assistia ao espetáculo A Dama das Camélias. “Foi ali que começou toda a minha saga com minha tia. Quando, do palco, ela deu uma piscada para mim, lembro de pensar: ‘Eu quero ser isso’”, revela, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.

Atriz e dramaturga por influência da parente, Lucy Freitas está lançando Minha Tia Dercy – já à venda on-line pela Editora Agora É –, em que revela uma Dercy Gonçalves que poucos conheceram. “O livro tem aspectos da vida familiar, a maneira de ser em casa, com a família e como ela se sentia amiga e em ter amigos. Era muito preocupada com os outros e ajudava muita gente.”

A decisão de escrever o livro veio após prestar consultoria à Globo para a produção da minissérie Dercy de Verdade (2012), escrita por Maria Adelaide Amaral – autora também da biografia Dercy de Cabo a Rabo, lançada em 1994. Ao perceber que Lucy conhecia detalhes inéditos da vida da homenageada, a escritora sugeriu que ela investisse em um novo livro.

“A biografia [Dercy de Cabo a Rabo] se apegou muito à trajetória artística, dos bastidores da carreira, mas não tanto da vida pessoal. E minha tia dizia que eu era quem mais sabia da vida dela. Além disso, ela ainda viveu 14 anos após o lançamento do primeiro livro. Resolvi escrever sobre muitos momentos importantes da vida dela em que eu estava presente.”

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Trechos de Minha Tia Dercy revelam, por exemplo, a volta da artista para Santa Maria Madalena, na Região Serrana do Rio, sua cidade-natal, onde comprou uma casa e construiu um mausoléu. Anos antes, o casamento da autora do livro foi acompanhado com êxtase pela madrinha, que tinha fascínio por essas cerimônias.

Logo após terminar a escrita de Minha Tia Dercy, Lucy Freitas desenvolveu o roteiro de um espetáculo que teve o livro como base. O projeto da dramaturga era chamar Heloísa Périssé para dar vida à homenageada. Contudo, foi convencida por amigos de que ela mesma deveria levar a peça aos palcos.

A decisão fez com que Lucy adaptasse o texto, escrito inicialmente com Dercy em primeira pessoa. A autora optou por narrar ela mesma suas lembranças da tia, sem interpretá-la. Inédita no Brasil, a peça já foi apresentada para a comunidade brasileira em Londres, e logo deve chegar aos palcos brasileiros.

“Trabalhei quase 40 anos com minha tia. Entre idas e vindas, porque a gente brigava”, revela sobrinha de Dercy Gonçalves

Minha Tia Dercy traz muito da relação da artista com Lucy Freitas, como já antecipa o título. “Trabalhei quase 40 anos com minha tia. Entre idas e vindas, porque a gente brigava muito (risos)”, conta a autora. Esta atuava como atriz e também fazia a produção dos espetáculos da veterana, cujos últimos anos de vida foi morando lado a lado com a sobrinha.

“Talvez até por um comportamento imitativo, tenho um gênio muito parecido com o dela. E minha tia era muito autoritária. Não aceitava que eu trabalhasse em outros projetos que não fossem com ela. Qualquer convite gerava muito ciúme. A vida toda me diziam: ‘Sua tia atrapalha sua carreira’. No fundo, eu sabia, mas sempre voltava para o ninho.”

Uma recordação marcante é do dia em que Dercy a deu força para seguir na carreira artística, na juventude. Na ocasião, a tia disse à sobrinha: “É isso que você quer? Então faça! Na vida, não pedimos licença, porque ela pode não dar. Temos que entrar de peito e cabeça erguida para ser respeitada. Deixa que com seu pai eu me entendo”.

“Ela foi uma lição de vida para mim. Digo no livro que ela me deu mais régua e compasso do que meu pai e minha mãe. Desde muito cedo tivemos uma ligação especial, e ela nunca se colocou em uma posição superior, mas de igual para igual.”

Na entrevista por telefone, Lucy se emocionou por diversas vezes ao resgatar essas lembranças. “Depois que ela morreu, vi que não era ela quem me prendia, eu é que não conseguia sair do lado dela. Minha tia era aquele ídolo que vi aos três anos de idade, aquela coisa mágica que nunca me deixou.”

A tia é uma presença constante no cotidiano de Lucy, passados 14 anos da morte da veterana. “Sinto que ela ainda me orienta em muitas coisas. Minha tia é imortal não é só para mim, não, mas para muita gente. Você está falando comigo por quê? É pela Lucy Freitas? Não! É por causa de Dercy... Tenho perfeita consciência disso. Enquanto eu estiver viva, estarei brindando o nome da minha tia.”



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