A primeira lembrança que Lucy Freitas tem da tia-avó, Dercy Gonçalves (1907-2008), vem dos três anos de idade. Da coxia, ela assistia ao espetáculo A Dama das Camélias. “Foi ali que começou toda a minha saga com minha tia. Quando, do palco, ela deu uma piscada para mim, lembro de pensar: ‘Eu quero ser isso’”, revela, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.
Atriz e dramaturga por influência da parente, Lucy Freitas está lançando Minha Tia Dercy – já à venda on-line pela Editora Agora É –, em que revela uma Dercy Gonçalves que poucos conheceram. “O livro tem aspectos da vida familiar, a maneira de ser em casa, com a família e como ela se sentia amiga e em ter amigos. Era muito preocupada com os outros e ajudava muita gente.”
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A decisão de escrever o livro veio após prestar consultoria à Globo para a produção da minissérie Dercy de Verdade (2012), escrita por Maria Adelaide Amaral – autora também da biografia Dercy de Cabo a Rabo, lançada em 1994. Ao perceber que Lucy conhecia detalhes inéditos da vida da homenageada, a escritora sugeriu que ela investisse em um novo livro.
“A biografia [Dercy de Cabo a Rabo] se apegou muito à trajetória artística, dos bastidores da carreira, mas não tanto da vida pessoal. E minha tia dizia que eu era quem mais sabia da vida dela. Além disso, ela ainda viveu 14 anos após o lançamento do primeiro livro. Resolvi escrever sobre muitos momentos importantes da vida dela em que eu estava presente.”
Trechos de Minha Tia Dercy revelam, por exemplo, a volta da artista para Santa Maria Madalena, na Região Serrana do Rio, sua cidade-natal, onde comprou uma casa e construiu um mausoléu. Anos antes, o casamento da autora do livro foi acompanhado com êxtase pela madrinha, que tinha fascínio por essas cerimônias.
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Logo após terminar a escrita de Minha Tia Dercy, Lucy Freitas desenvolveu o roteiro de um espetáculo que teve o livro como base. O projeto da dramaturga era chamar Heloísa Périssé para dar vida à homenageada. Contudo, foi convencida por amigos de que ela mesma deveria levar a peça aos palcos.
A decisão fez com que Lucy adaptasse o texto, escrito inicialmente com Dercy em primeira pessoa. A autora optou por narrar ela mesma suas lembranças da tia, sem interpretá-la. Inédita no Brasil, a peça já foi apresentada para a comunidade brasileira em Londres, e logo deve chegar aos palcos brasileiros.
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“Trabalhei quase 40 anos com minha tia. Entre idas e vindas, porque a gente brigava”, revela sobrinha de Dercy Gonçalves
Minha Tia Dercy traz muito da relação da artista com Lucy Freitas, como já antecipa o título. “Trabalhei quase 40 anos com minha tia. Entre idas e vindas, porque a gente brigava muito (risos)”, conta a autora. Esta atuava como atriz e também fazia a produção dos espetáculos da veterana, cujos últimos anos de vida foi morando lado a lado com a sobrinha.
“Talvez até por um comportamento imitativo, tenho um gênio muito parecido com o dela. E minha tia era muito autoritária. Não aceitava que eu trabalhasse em outros projetos que não fossem com ela. Qualquer convite gerava muito ciúme. A vida toda me diziam: ‘Sua tia atrapalha sua carreira’. No fundo, eu sabia, mas sempre voltava para o ninho.”
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Uma recordação marcante é do dia em que Dercy a deu força para seguir na carreira artística, na juventude. Na ocasião, a tia disse à sobrinha: “É isso que você quer? Então faça! Na vida, não pedimos licença, porque ela pode não dar. Temos que entrar de peito e cabeça erguida para ser respeitada. Deixa que com seu pai eu me entendo”.
“Ela foi uma lição de vida para mim. Digo no livro que ela me deu mais régua e compasso do que meu pai e minha mãe. Desde muito cedo tivemos uma ligação especial, e ela nunca se colocou em uma posição superior, mas de igual para igual.”
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Na entrevista por telefone, Lucy se emocionou por diversas vezes ao resgatar essas lembranças. “Depois que ela morreu, vi que não era ela quem me prendia, eu é que não conseguia sair do lado dela. Minha tia era aquele ídolo que vi aos três anos de idade, aquela coisa mágica que nunca me deixou.”
A tia é uma presença constante no cotidiano de Lucy, passados 14 anos da morte da veterana. “Sinto que ela ainda me orienta em muitas coisas. Minha tia é imortal não é só para mim, não, mas para muita gente. Você está falando comigo por quê? É pela Lucy Freitas? Não! É por causa de Dercy... Tenho perfeita consciência disso. Enquanto eu estiver viva, estarei brindando o nome da minha tia.”
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