Publicado em 28/06/2020 às 08:30:00
Travesti. É assim que Luísa Marilac se autodefine e faz questão de reafirmar a cada pergunta sobre seu gênero. Famosa pelo vídeo viral dos "bons drinques“ na piscina, aos 42 anos e reconhecida por lei como mulher, sente o peso dos olhares e os comentários quase sempre nas suas costas.
Mas ela também passou por vários episódios que deixaram marcas profundas. Uma delas é evitar os banheiros públicos por medo de ser novamente humilhada. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha no Dia do Orgulho LGBTQIA+, Marilac também conta o dia que médicos riram ao vê-la no hospital por ser travesti: "Me senti um lixo".
Ao ser questionada se fosse uma pessoa influente que pudesse mudar alguma coisa, Luisa diz que só queria o direito de ir e vir. "Mulheres como eu não tem esse direito. A travesti não tem o direito de ir a qualquer lugar, entrar em qualquer lugar".
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Preconceito na pele, de discriminação, eu não sofri. De me sentir inferior ou mal. Mas sinto preconceito no meio artístico na falta de oportunidades porque não nos dão espaços.
São tantos. Um dia que eu estava mal, bastante debilitada e fui para um hospital. Dentro do hospital quando a atendente chamou Luísa Marilac, ela não esperava que fosse aparecer uma travesti. Mandou esperar e logo em seguida vieram os médicos que começaram a rir da minha cara. Eu estava tão mal que não tive força para gritar pelos meus direitos e fazer um escândalo. Me senti um lixo porque eu estava muito fragilizada e eles fizeram um juramento com médicos e enfermeiros e poderiam ter honrado o compromisso médico.
Outro episódio que me marcou muito foi quando eu entrei em um bar, comprei um refrigerante e pedir para usar o banheiro e fui ao feminino. Quando eu abaixei a calcinha, eu consigo ajeitar bem a periquitinha e ninguém diz que eu não sou operada. Eu tava ali daquele jeito e o dono do bar deu chute na porta, me puxou pelos braços e me jogou para fora do local em uma velocidade que eu fiquei sem ação, sem reação.
Tinha mulheres e homens dentro do bar e ele falou em alto e bom tom ‘olha que ela tem até perereca’. Ele debochava de mim e as pessoas riam. Foi uma situação muito humilhante. Chamei a polícia, fiquei duas horas esperando e a polícia não chegava. Ele pegou um pedaço de pau para me bater e eu fui embora. Ficou por isso mesmo. Foi uma situação constrangedora. Teve outras situações e isso me trouxe traumas porque hoje em dia, eu não consigo ir em qualquer banheiro. Evito usar qualquer banheiro público, fico me segurando e acabei tendo problemas com infecção urinária.
O direito de ir e vir de mulheres como eu. A travesti não tem o direito de ir a qualquer lugar, entrar em qualquer lugar, de ir ao toalete feminino. As pessoas pensam que eu me vitimizo, mas isso acontece com todas. Dentro do LGBTQ+ a letra que mais sofre é a T de travestis, inclusive dentro do meio LGBT. Acho que letras merecem mais carinho e respeito de todos e da sociedade em geral. Somos seres humanos. Sentimos dores, fome, temos família e somos iguais. Hoje eu sou Luisa Marilac e tenho carinho das pessoas, mas antes eu era invisível para a sociedade e queria que muitas outras travestis tivessem esse carinho também. O mundo seria mais colorido. Se eu pudesse fazer algo, claro que eu faria.
Fazer lei não muda a cabeça do brasileiro. Nós, travestis temos o direito de usar o banheiro feminino porque está na lei e quantas vezes as vemos serem arrancadas por homens e pela polícia. Existem vários vídeos circulando que provam isso e fica por isso mesmo. Ninguém se importa em comprar o barulho e defender. Se fosse como uma mulher hetero, todo mundo sairia em defesa. Somos a minoria e a minoria está aí mesmo para tomar porrada e se lascar.
Confira o canal do YouTube de Luísa Marilac:
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