Análise

A Globo desaprendeu a fazer novela? Direção precisa assistir Cabocla e Alma Gêmea

Mania de Você preocupa e o remake de Vale Tudo também

Novelas da Globo passam por crise de criatividade - Foto: Divulgação/Globo/Montagem NaTelinha
Por João Paulo Dell Santo

Publicado em 23/09/2024 às 09:00:00,
atualizado em 23/09/2024 às 09:59:08

Nos seus quase 60 anos de existência, a Globo se acostumou a emplacar um sucesso atrás do outro na seara das novelas. Na última década, porém, isso mudou, principalmente na segunda metade, com o novo "normal" imposto pela pandemia.

Na faixa das 21h, o seu carro-chefe, contabiliza-se apenas 5 de um total de 17 títulos que furaram a bolha: Império (2014), A Força do Querer (2017), O Outro Lado do Paraíso (2017), A Dona do Pedaço (2019) e Pantanal (2022). É um saldo muito pequeno para o que o horário representa.

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Nos últimos dez anos, os telespectadores viraram a cara para produções como Babilônia, A Regra do Jogo, A Lei do Amor, O Sétimo Guardião, Um Lugar ao Sol e Travessia, por exemplo. Sacada para repetir o sucesso de Pantanal, Renascer também deixou a desejar.

Com 12 capítulos exibidos, Mania de Você impõe um desafio e tanto para a sua equipe e, mais do que isso, para a direção da Globo. Conforme informou o NaTelinha com exclusividade no domingo (22), os índices de audiência aquém do esperado abriram uma crise interna.

Há, sobretudo, uma preocupação como o remake de Vale Tudo, desenvolvido especialmente para comemorar os 60 anos do plim plim, vai herdar a faixa. Não é por acaso que a volta de Aguinaldo Silva, demitido em 2020 após 41 anos de casa, foi confirmada na última semana. É um retorno às origens.

Apesar de ver muitas qualidades em Mania de Você e confiar no roteiro de João Emanuel Carneiro, como destacado neste texto, e achar No Rancho Fundo uma obra graciosa, em mais um acerto de Mário Teixeira, as melhores novelas em exibição no momento são, nessa ordem, Alma Gêmea (2005) e Cabocla (2004). Duas reprises.

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É como se a Globo de 2004/2005 não existisse mais - aliás, ela existe, se chama Canal Viva. Os atores conhecidos sumiram. Os autores foram aposentados sem substitutos à altura. Os diretores migraram para o streaming e o cinema. E há muitos nomes no mercado, à espera de um convite - que o digam os veteranos!

É de uma estupidez trocar Irene Ravache, Antonio Fagundes, Vera Holtz, Renata Sorrah, Othon Bastos, Susana Vieira, Patrícia Pillar, Malu Mader, Claudia Abreu e outros mais por jovens atores, a fim de economizar, ou por influenciadores digitais, de olho em número de seguidores.

Fundador da Globo, Roberto Marinho (1904-2003) tirou a emissora do papel aos 61 anos. Qual a leitura que a atual direção do canal faz sobre isso? Será que doutor Roberto seria hoje preterido pelo Felipe Neto? É pra pensar.

Os erros e defeitos de Mania de Você

Como dito, Mania de Você tem mais acertos e qualidades do que erros e defeitos. No entanto, não é uma trama redondinha. E a culpa disso se resume a dois pontos fundamentais.

Como sustentar uma novela das nove protagonizada por jovens atrizes, com cara de Malhação, quando o público da faixa, acima dos 45 anos, se acostumou com outras referências? Como torcer para Luma e Viola - sem qualquer juízo de valor ao trabalho de Agatha Moreira e Gabz, pelo contrário -? É preciso criar vínculos, o que remete ao que foi mencionado anteriormente: a ausência de figuras conhecidas em sua maioria.

O segundo ponto entra na agilidade adotada pelo autor João Emanuel Carneiro e pelo diretor Carlos Araújo, que acabou acentuada com os cortes e ajustes solicitados pelo executivos Amauri Soares (Diretor da TV Globo e dos Estúdios Globo) e José Luiz Villamarim (Diretor de Teledramaturgia). É como se Mania de Você, que já tem todo um jeitão de série, fosse assistida na velocidade 2x do WhatsApp.

Ainda é possível corrigir a rota e evitar um cenário de terra arrasada para Vale Tudo. Há profissionais para isso. No mais, convém a Amauri e Villamarim acompanhar alguns capítulos de Cabocla e Alma Gêmea. Talvez a ficha caia, os grandes atores, que fizeram a história da Globo, voltem e os novelistas testados e aprovados, cujas sinopses são rejeitadas a rodo, tenham a oportunidade de fazer novela com cara de novela, algo que o público se acostumou a ver.

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