Patrícia Moretzsohn fala sobre "Malhação" e ideia de formato canadense: "Topei na hora"
"Malhação" está há 23 anos no ar
Publicado em 27/07/2018 às 08:15
Patrícia Moretzsohn é experiente quando o assunto é "Malhação". Ela foi a primeira titular da novelinha e escreveu de maneira ininterrupta a temporada 1995 até o ano 2000.
Em 2007 e 2009, novamente escreveu a trama. A última vez aconteceu em 2013, na temporada "Casa Cheia", e após cinco anos, regressa para dar sequência a bem-sucedida "Viva a Diferença", de Cao Hamburger.
Ao NaTelinha, Patrícia conta que a Globo já a procurou com a ideia de adaptar um formato canadense, "30 Vidas", onde a cada quinzena, um aluno é o protagonista da história. "Topei na hora", recorda ela.
A autora relembra que "Malhação" começou sendo ambientada numa academia, reproduzindo a realidade de jovens da classe media do Rio de Janeiro. "Naquela época não tínhamos respostas imediatadas do público como temos hoje com a internet", compara.
Ela ainda destaca a importância que a novela tem na programação da Globo há mais de duas décadas e opina sobre o que é preciso para manter o jovem na frente da TV.
Confira a entrevista na íntegra:
Você já é veterana em "Malhação". Por que adotar um formato importado desta vez na construção da narrativa?
Patrícia Moretzsohn - A Globo me procurou já com o projeto de adaptação, pois tinham adquirido o formato canadense. Sou muito curiosa e já fiz duas adaptações, a novela “Floribella” na Band (de um original argentino) e o filme “Não se Aceitam Devoluções” (mexicano). Gosto muito desse processo e considero uma oportunidade de entender como a televisão e o cinema são vivenciados em outros países. Sendo assim, topei na hora.
O que você mais acredita que tenha mudado da primeira "Malhação" que você escreveu em 1995 para a "Malhação" de 2018 no que se refere ao mundo dos jovens? O que mudou na maneira de retratá-los na TV?
Patrícia Moretzsohn - Nós começamos “Malhação” em 1995 ambientada em uma academia, reproduzindo bastante a realidade de jovens de classe média do Rio de Janeiro. Naquela época não tínhamos respostas imediatas do público como temos hoje com a internet, então, acabávamos trabalhando com a ideia de um jovem estereotipado. Hoje em dia já podemos enxergar muitas nuances e a maneira como os jovens se colocam, com suas causas e seus anseios. Não dá mais pra falar sobre “o jovem”, “o adolescente”. Hoje são milhares de vozes e fazemos um esforço para dialogar com elas da melhor maneira possível.
"Malhação: Vidas Brasileiras" tem abordado temas séries e delicados, como por exemplo, a intolerância religiosa. Quais cuidados são necessários para se abordar esse tipo de tema? Quais pesquisas você faz, e fez, principalmente nesse caso?
Patrícia Moretzsohn - Além das nossas pesquisas particulares, temos uma profissional na equipe que é a pesquisadora de texto, que além de nos fornecer material específico, checa as informações com consultores das áreas. No caso da intolerância religiosa, tivemos a consultoria direta de religiosos e associações ligadas ao candomblé e umbanda.
A cada duas semanas, um novo aluno ganha o protagonismo na novela. Não acredita que desta maneira, os temas a serem tratados não têm a mesma profundidade?
Patrícia Moretzsohn - Vou aproveitar o gancho das aulas de Literatura da nossa prof Gabi pra dizer que enxergo Vidas Brasileiras como um livro de contos. Não lemos um conto de 10 páginas da mesma forma que lemos um romance de 500 páginas, o envolvimento é outro. Concretamente, a cada quinzena trazemos o debate para a sociedade, para que os espectadores tomem conhecimento de assuntos relevantes e possam, quem sabe um dia, escrever eles mesmos as suas sagas de aprendizado e transformação.
Você já conhecia o formato "30 Vidas", do Canadá, que "Malhação" se embasou? O que achou dele originalmente?
Patrícia Moretzsohn - Não conhecia, só travei contato depois da encomenda e a partir daí fui pesquisar os vídeos e os históricos. Achei muito bem realizado.
Gabriela é uma professora que se envolve de verdade com o problema dos alunos. Até demais. Existem Gabrielas por aí ou cada vez mais esse tipo de professora fica somente na ficção?
Patrícia Moretzsohn - Existem sim. Só a título de exemplo, antes de nossa estreia tivemos um “Dia da Educação”, organizado junto ao departamento de Responsabilidade Social da Globo, e pudemos conhecer professores e diretores de escola cujo envolvimento com os alunos vai muito além da sala de aula. Na ocasião, os depoimentos do antropólogo Tião Rocha, educador de Minas Gerais, da coordenadora pedagógica Janaína Barros, do Sul da Bahia, e da diretora de escola Eliane Ferreira – que atua aqui no Rio, na Maré – emocionaram a todos.
O que é preciso para prender o jovem na TV, sobretudo em "Malhação"?
Patrícia Moretzsohn - Eu diria que identificação.
"Malhação" já tem mais de 20 anos na grade da Globo. Qual a importância dela na grade, principalmente sobre sua perpetuação nela?
Patrícia Moretzsohn - A minha leitura particular é que a longa história de Malhação transformou essa faixa horária em um ponto de encontro dos jovens e seus responsáveis. Depois de tantos anos, o público sabe o que vai encontrar ali e eu me orgulho de poder participar disso, incentivando o diálogo nessas famílias.