Autora de "Vitória" admite erro em abordagem e fala de audiência e história
Publicado em 02/03/2015 às 15:17
Com cinco novelas ao longo de 10 anos na Record, Cristianne Fridman atualmente ostenta o título de uma das mais importantes roteiristas da emissora.
Diferente de colegas como Marcílio Moraes, Carlos Lombardi ou até mesmo outros nomes que já deixaram a casa, como Lauro César Muniz, Cristianne não tem tramas próprias na Globo em seu currículo. Apesar de já ter trabalhado lá e no SBT, sua carreira cresceu e chegou ao status atual pela Record.
Atualmente à frente de "Vitória", a autora concedeu uma entrevista exclusiva ao NaTelinha onde falou sobre vários assuntos relacionados à trama, como o esticamento - algo temido por qualquer autor -; a saída de personagens; a narrativa; a qualidade técnica e os próximos projetos para a carreira.
Ainda em suas declarações, Fridman deixou claro sua satisfação com o resultado final da história, a qual finalizou o último capítulo na quinta-feira passada (26). A bandeira do Alzheimer, por exemplo, é uma das que mais deixa a autora orgulhosa: "Se a novela, de alguma forma, ajudou aos amigos, parentes, ao portadores do Alzheimer, eu fico realizada e feliz".
Apesar de se mostrar otimista com a abordagem e também com o elenco, destacando nomes como Lucinha Lins, classificada como "brilhante", Fridman também reconheceu seus erros. "Não tive condições de dar a alguns nomes a trama que mereciam", disse. Ela também reconhece que errou na abordagem do neonazismo: "Acredito que grande parte desta rejeição tenha sido provocada pela maneira como eu apresentei, abordei o tema. Foi um erro meu".
Confira a entrevista na íntegra:
NaTelinha - "Vitória" deve se encerrar com aproximadamente 208 capítulos - cerca de 30 a mais do que o planejado inicialmente e a famosa "barriga" ainda não é percebida pelos telespectadores. Apesar da Record ter enxugado a duração de suas novelas, as suas sempre ultrapassam essa barreira. Já esperava e se preparava para um possível esticamento? Quais foram as apostas para evitar o desgaste?
Cristianne Fridman - Trinta e oito a mais, RISOS! A previsão era da novela ter 170 capítulos. Esticar novela é uma possibilidade que todo autor sabe que existe, mas daí a se preparar antecipadamente para isto, vai um certo masoquismo. Não gosto de sofrer por antecipação não, risos! Não me preparei.
NaTelinha - Um dos temas abordados por "Vitória" foi o Alzheimer, que foi narrado desde o seu princípio, com nuances que até então haviam sido pouco tratadas na TV. Você já abordou a síndrome de down em "Vidas em Jogo", a AIDS e o HIV na mesma produção como também em "Chamas da Vida". Qual saldo avalia ter tido desta vez e com a performance de Lucinha Lins e dos integrantes de sua família? O que lhe motiva a levantar bandeiras como estas?
Cristianne Fridman - A Lucinha Lins é brilhante, um assombro! Meu coração fica miúdo toda vez que vejo as cenas da Zuzu. Gosto muito também do trabalho de todos que fazem parte da “família da Zuzu”. Foi um encanto escrever para este núcleo.
Eu gosto de falar sobre assuntos que fazem parte da preocupação, da esperança das pessoas na atualidade. O Alzheimer, o seu diagnóstico, o saber lidar com os portadores da doença, tudo isso é um tanto recente e ainda carece de um conhecimento maior sobre ele. Se a novela, de alguma forma, ajudou aos amigos, parentes, ao portadores do Alzheimer, eu fico realizada e feliz.
NaTelinha - Jonas Bloch, intérprete do Ramiro, teria pedido para deixar "Vitória", conforme divulgado na imprensa. Esta informação procede? Como se deu este processo?
Cristianne Fridman - A mim ele não pediu para sair não e também não chegou nenhum pedido neste sentido vindo do diretor ou outra pessoa ligada à novela. A morte do personagem do Jonas estava prevista na sinopse, que foi entregue bem antes da estreia, na reunião de elenco. E o personagem morreu, conforme previsto na sinopse, e o Jonas saiu depois de ter feito um trabalho excelente como delegado Ramiro.
NaTelinha - Existem atores em "Vitória" com os quais você vem tendo hábito de trabalhar - desde "Bicho do Mato", sua primeira novela como autora solo, e outros com parcerias renovadas de "Vidas em Jogo". Incluem-se nomes como Antonio Grassi, Gabriel Gracindo, Marcos Pitombo, Claudio Gabriel, Jonas Bloch, Cesar Pezuolli, Gustavo Otoni, Luciana Braga, Beth Goulart, Juliana Silveira, André di Mauro - que fez todas as suas novelas -, entre outros. Como é sua sintonia com estes atores?
Cristianne Fridman - Maravilhosa! Nesta novela não tive condições de dar a alguns destes nomes a trama que mereciam, mas eu os tenho no meu coração e sou muito, muito agradecida por emprestarem o talento deles ao meu trabalho. É uma honra.
NaTelinha - Um dos problemas iniciais de "Vitória" foi a saída de Dado Dolabella, que foi afastado e posteriormente demitido da Record. Você já havia trabalhado com ele em "Chamas da Vida". Como foi contornar esta baixa inesperada? Até que ponto ela se refletiu no que vai ao ar hoje em relação à sinopse original?
Cristianne Fridman - A saída do Dado, como a de qualquer ator em uma novela, provoca um abalo, sim, mas que tem que ser contornado. Tive uma outra saída, que também foi inesperada. Alterou, sim, a sinopse original, mas novos caminhos foram criados e seguimos em frente. No final deu tudo certo!
NaTelinha - "Vitória" foi escalada para ir ao ar às 21h, porém "Pecado Mortal" foi iniciada às 22h - mudando de horário depois de alguns meses e a sucessora "Dez Mandamentos" irá ao ar contra o "JN". Não há uma certa decepção por ter sido escalada para o horário mais difícil enquanto outras produções tiveram contextos melhores para apresentarem números mais expressivos?
Cristianne Fridman - Eu não tenho dúvida alguma de que "Vitória" alcançaria números mais expressivos se tivesse ido ao ar às 22 horas. Bater de frente com o principal produto da Globo não é fácil. Mesmo assim, embora tenha patinado no início, "Vitória" alcançou até agora, em sua maioria, a vice-liderança. Este era o principal objetivo.
NaTelinha - Outra das apostas da história de "Vitória" eram os neonazistas, que começaram com atos da própria célula e depois foram deslocados para seguir as ordens do vilão Iago (Gabriel Gracindo). Não acredita que, para o telespectador, não passou uma imagem de rebaixamento de um núcleo tão importante e inédito para o posto de simples apoios ao maior vilão? Houve rejeição aos neonazistas?
Cristianne Fridman - Houve, sim, uma rejeição do telespectador ao tema do neonazismo. E eu acredito que grande parte desta rejeição tenha sido provocada pela maneira como eu apresentei, abordei o tema. Foi um erro meu. Não tive outra saída a não ser reduzir o neonazismo e trabalhar com a característica de vilão deste núcleo.
Não vejo como um rebaixamento, mas como uma correção de percurso. Juliana Silveira está espetacular como Priscila, mesmo tendo passado para o núcleo do Iago. Ju Silveira e o Gabriel Gracindo estão arrebentando como Priscila e Iago. Tenho a maior admiração por eles, enorme mesmo e agradeço aos dois, muitíssimo!
NaTelinha - Aos que acompanham a dramaturgia da Record, foi percebida uma queda na qualidade técnica de "Vitória" se comparado à "Vidas em Jogo" e até mesmo a "Chamas da Vida" - e ainda mais se comparado à antecessora "Pecado Mortal". Cenários, fotografia e a própria qualidade técnica perderam força. Acredita que estes fatores tenham influenciado para índices mais tímidos?
Cristianne Fridman - Não, não acredito. E também não sei se houve essa queda toda na qualidade não. Acho que a responsabilidade é da autora aqui e do horário de exibição da novela.
NaTelinha - "Vitória" é a sua segunda novela com a direção de Edgard Miranda. Como avalia a reedição desta parceria cinco anos após o sucesso de "Chamas da Vida"?
Cristianne Fridman - Eu o considero um dos melhores diretores da teledramaturgia. Edgard dirige muito bem cenas de ator, é brilhante na execução das cenas de ação, busca um clima de trabalho harmonioso, está sempre entusiasmado, não “deixa a peteca cair”, sempre corre atrás do melhor para a novela. A parceria com ele foi excelente! Uma vitória pra mim.
NaTelinha - Por fim, já foi comentado na imprensa que a Record lhe propôs renovação de contrato, porém que as negociações ainda não haviam começado. Você continuará na casa? Já existem projetos em vista para os próximos anos?
Cristianne Fridman - Sempre fico com um pouco de vergonha quando me perguntam se tenho projetos na gaveta. Não tenho: só bala de hortelã, chave de casa, perfume de bolsa, essas coisinhas, risos. Tenho desejos a alcançar nos próximos anos: fazer um seriado, por exemplo. Amaria. Entreguei o último capítulo ontem e agora acho que vamos retomar a questão do meu contrato.
NaTelinha - O que o telespectador pode esperar da reta final de "Vitória"?
Cristianne Fridman - Eu chorei e me agoniei um bocado, viu! Ação, emoção e humor! Vamos fechar lindamente e espero que gostem! Gostaria de aproveitar o espaço e agradecer aos meus colaboradores: Jussara Fazolo, Gabriel Carneiro, Alexandre Teixeira e Carla Piske. Grandes parceiros, obrigada!!!