Com personagens imorais, Walcyr Carrasco pesa na tinta em "O Outro Lado do Paraíso"
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Publicado em 12/03/2018 às 09:25
Estamos passando por um momento bem complicado em nosso país, nos telejornais 70% das notícias são ruins, seja sobre política ou sobre o dia a dia e a violência que tanto tem nos assustado.
Há os que defendam que as novelas têm que ser pura diversão, outros acham que precisam se aproximar da realidade e da coerência.
Na nossa cultura, novela é um produto muito forte, já que entra nos lares de diversas famílias diariamente, torna-se assuntos nas mesas de bares, cria modas, estilos, populariza gírias... Ela não precisa ser didática, também não precisa ser 100% realista ou coerente, mas quem as escreve ter que ter consciência da responsabilidade que é fazer para milhões de pessoas.
A autora Glória Perez recentemente no presenteou com uma excelente novela ("A Força do Querer"), onde tratou de assuntos espinhosos, tabus e atuais, com uma sutileza, com um texto primoroso (e olha que ela escreve sozinha) e em nenhum momento subestimou a inteligência ou agrediu o telespectador.
Lá atrás, a grande Janete Clair tratava de questões existenciais de uma forma ímpar. Manoel Carlos, que sabe criar personagens femininos como ninguém, também usa de sutileza e leveza para debater os assuntos que nos angustia no dia a dia.
Todos eles sempre tiveram grandes Ibopes em suas tramas sem necessariamente partir para apelação - Manoel Carlos, nos seus últimos trabalhos não conseguiu a mesma audiência de antes, não por falta de qualidade no texto, mas, por ter se repetido na criação dos personagens e tramas.
Walcyr Carrasco, quando escrevia suas comédias pastelão no horário das 18h, tinha como forte seu humor algumas vezes até ingênuo. Quando foi para o horário das sete, começou a criar personagens principais sempre flertando com a pieguice ou a incoerência.
Depois disso, lhe foi oferecido o horário adulto (21h) e a partir daí o que se viu foi um autor que anseia por Ibope, por repercussão, e para conseguir pesa a mão mesmo nas cores: há uma violência gratuita, diálogos grotescos... Ele cria "personagens imorais" que tem atitudes altamente questionáveis e para justificar seus atos busca os caminhos mais fáceis, subestimando a inteligência do telespectador.
Sr. Walcyr, talvez eu não tenha feito as mesmas faculdades que o senhor, não tenha lido os mesmos livros, não tenha o mesmo conhecimento, mas posso lhe garantir que "eu represento" boa parte dos telespectadores que mesmo vivendo em um mundo complicado, quer chegar em casa e sonhar que é possível ter um mundo melhor.
Já que o senhor insiste em afirmar que se inspira em determinados livros e filmes, então, vou dar uma dica, que tal: "A Vida é Bela", onde pai e filho são levados para um campo de concentração nazista e o diretor usa o lúdico para contar um drama semelhante a fatos ocorridos na vida real.
Sei que suas tramas não precisam ser cor-de-rosa, mas, não queira ser um Quentin Tarantino, ele é único.
José Luciano de Almeida Moura é Assessor Jurídico e reside em Salvador, Bahia. Faça como ele, envie sua análise, crítica ou reflexão sobre a TV. Saiba como aqui.