Histórico

Dono da Globo fala pela 1ª vez sobre relação com Lula, Dilma e Bolsonaro

João Roberto Marinho deu depoimento ao documentário O Século do Globo

João Roberto Marinho abriu o jogo sobre as relações construídas com Lula, Dilma e Bolsonaro - Foto: Reprodução/Globo
Por João Paulo Dell Santo

Publicado em 12/07/2025 às 15:20:00,
atualizado em 12/07/2025 às 15:49:54

Presidente do Conselho Editorial e do Grupo Globo, João Roberto Marinho deu um depoimento histórico ao quarto e último episódio do documentário O Século do Globo, exibido pela emissora na última sexta-feira (11) em comemoração aos 100 anos do jornal O Globo.

Filho do meio de Roberto Marinho (1904-2003), João Roberto analisou a relação da TV Globo com os últimos quatro presidentes da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.

+ Liberty Media recusa milhões de dólares de Record e Band para devolver Fórmula 1 à Globo

+ Drauzio Varella revela corrida de táxi inusitada: "Pode dar uma olhadinha?"

Lula

"Quando nós fizemos a cobertura da Lava Jato, o diálogo não foi cortado. Eu estive com o presidente pelo menos uma vez, que eu me lembro, mas talvez mais de uma vez. No processo [da Lava Jato], ele reclamava muito [da cobertura], mas a relação se mantinha. Nós fizemos uma cobertura dura, evidentemente, [porque] o assunto justificava", declarou o empresário e jornalista.

"[A relação] sempre foi muito boa, com divergências e concordâncias. Ele sempre foi muito republicano, vamos dizer assim, na relação. Nunca tivemos um problema maior. Tinham questões políticas e tal, lá no primeiro governo. Tinha um discurso de que precisava regular a mídia, regular as televisões. E foi um momento de embate forte, porque eles queriam apostar em alguma coisa que ajudasse a controlar a mídia. Isso visivelmente [provocou uma divergência]", contou João Roberto Marinho.

Dilma

"A relação era boa. A relação era boa. Ela era difícil, uma pessoa difícil, mas a gente tinha uma relação bastante boa. Mas [ela era] sempre muito correta, assim, independente de se irritar com críticas e tal", afirmou.

Diretor do documentário, Pedro Bial, então, questionou se era verdade a história que circula de que João Roberto teria procurado o na época ex-presidente Lula e sugerido que ele concorresse às eleições de 2014, evitando que Dilma buscasse a reeleição.

"Não, não, nunca houve isso. Isso, assim, não estaria em mim essa atitude. Eu sei que existe essa história, mas eu nunca fiz isso. Me surpreendeu ali, como ele não foi capaz de controlar a presidente Dilma e ele ser o candidato, que era o plano inicial. E ele perdeu o controle ali da situação. Isso me surpreendeu. Eu acho que [surpreendeu] a todos nós naquele momento", comentou.

VEJA TAMBÉM

Temer

"O presidente Temer estava fazendo uma excelente presidência e fez um governo reformista muito bem articulado, com um programa muito bem definido", elogiou.

"Eu considero que realmente o [ex-procurador-geral da República] Rodrigo Janot manipulou ali, deu mais dramaticidade à gravação [na qual Temer supostamente negociava um esquema de corrupção], mas tira isso fora, ouvindo a gravação, eu achei ela bem complicada para o presidente", lembrou Marinho.

"A nossa percepção é que, a partir daquele episódio, a autoridade dele estava comprometida, que a melhor coisa que podia acontecer era ele renunciar, responder ali ao que fosse naquele assunto e o governo seguir", disse.

Bolsonaro

"A nossa cobertura era até simpática à economia do governo dele, às propostas ali do [ministro] Paulo Guedes. A gente apoiou várias iniciativas na economia, mas foi um período muito duro. Nunca imaginamos passar por isso, pelo nível de coisas que aconteceram", revelou João Roberto Marinho.

"O que o Bolsonaro fez com uma das nossas jornalistas [Mirian Leitão], que tinha sido presa, torturada na época da ditadura... O que ele fez com ela, debochando desse momento da vida dela e tal, foi uma coisa assim, completamente inaceitável e que mostra uma desumanidade da parte dele. Assim, é uma pessoa que fico pensando, nossa, que pessoa é essa?", criticou, a respeito do episódio em que Jair Bolsonaro disse que tinha pena da cobra que foi colocada no quarto em que Miriam, grávida, foi presa em plena ditadura.



TAGS:
NOTÍCIAS RELACIONADAS
MAIS NOTÍCIAS