Publicado em 02/07/2024 às 18:20:00
Aos 73 anos e afastado das narrações esportivas na TV aberta, Galvão Bueno concedeu uma longa entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, e falou sobre alguns pontos importantes da sua longa trajetória profissional - o comunicador segue contratado da Globo até o fim de 2024 e negocia a renovação do vínculo.
No programa, o narrador comentou que, da parte dele, não há qualquer queixa contra Neymar Jr, mas não sabe dizer se a recíproca é verdadeira. "A situação com o Neymar é assim: um jogador fora da curva, um craque excepcional. As pessoas falam muito sobre a vida pessoal dele, das festas, mas ninguém nunca ouviu uma palavra minha sobre [esse assunto]. Até porque eu não admito que interfiram na minha nesses anos todos. Falar do Neymar sempre foi em campo", afirmou Galvão Bueno.
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"Em alguns momentos, dentro de campo, ele se perdeu um pouco. Perdeu o controle, tomou algumas atitudes, fez algumas bobagens. Aí, ele pode não ter gostado [dos meus comentários]. Se ele talvez não se sinta bem perto de mim, não tenho absolutamente nada contra o Neymar", disse o veterano.
"Torço muito por ele. Que ele possa ter um grande retorno, possa estar na próxima Copa do Mundo. Mas que tenha um pouco mais de tranquilidade dentro de campo. A vida é dele, ninguém tem absolutamente nada a ver com isso", ponderou o global.
Galvão Bueno também falou sobre a rixa que conquistou ao criticar o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, diante do 7 a 1 que o Brasil tomou da Alemanha na Copa do Mundo de 2014. "O Felipão diz que eu apontei o dedo do país contra ele. Podia ser mais bonzinho? Não, não podia. Era o fato. Era o momento. Era aquilo que estava acontecendo. Não fiz nada contra ele. Se ele não quer mais falar comigo, lamento", disparou.
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Sobre o racismo sofrido por Vinícius Júnior no futebol europeu, Galvão saiu em defesa do brasileiro. "Ele conquistou uma vitória recentemente. É a primeira vez na Espanha que pessoas foram condenadas à prisão por um ato racista em um jogo. Ele tem uma frase que é: 'Eu não sou uma vítima do racismo. Eu sou um algoz dos racistas'. Isso é bom demais. Ele conversando, falou com lágrimas nos olhos: 'É duro. É claro que eu sofro. Mas eu vou lutar muito. Eu não quero que o meu irmão pequenininho passe pelo que eu estou passando, e mais ninguém preto, em qualquer parte do mundo'. Além de ser muito bom de bola, é um moleque valente, com a cabeça muito forte", elogiou.
Na entrevista ao Roda Viva, Galvão Bueno também revelou que cogitou se aposentar após a morte de Ayrton Senna, em 1994, em Ímola, na Itália. "O acidente aconteceu quando estava abrindo a sétima volta. Não me sai da cabeça um erro que cometi. Era uma vontade que tinha, assim como milhões de brasileiros, que ele pudesse sair bem. A primeira sensação que tive era: vão tirar ele do carro, ele vai bater a poeira e vai embora. Mas aquela demora para tirar do carro, aquela coisa mais séria, não deixa ninguém ver, vem a ambulância, o helicóptero", lembrou.
"Tem um momento em que ele mexe a cabeça. E eu digo: 'Senna mexeu a cabeça, está voltando'. Depois de todas as conversas que tive com o Sid Watkins, que era o médico da Fórmula 1, aquele foi o estertor da morte. Depois ficamos sabendo que a barra da suspensão quebrou, entrou e saiu", contou.
"Eu não tive coragem de vê-lo. Quando chegamos eu, Berger e Braguinha, fomos no helicóptero do Berger, o Sid Watkins veio na sala falar com a gente e disse: 'A notícia que eu tenho é a pior possível: ele está morto. O coração bate, mas a morte cerebral já foi determinada faz tempo. Mas posso garantir a vocês que ele não está sofrendo. Não posso impedir ninguém de vê-lo, mas não aconselho'. Na hora, eu disse que não ia ver, o Braguinha também. O Berger falou que queria entrar para ver pela última vez. Botaram uma roupa para entrar na UTI, ele entrou e eu só fui vê-lo três dias depois no funeral", recordou.
"Quando ele [Senna] sai e o helicóptero decola, eu me lembro direitinho o que disse: 'Vá, meu amigo, vá com Deus. Seja forte e lute muito. Estamos todos torcendo e rezando por você, o mundo inteiro. Seja forte'. Pela conversa, ele já tinha tido a morte cerebral. Na hora, o [Roberto] Cabrini já largou a transmissão, foi para Bolonha no hospital e o contato era muito difícil. Por dois ou três momentos, pedi ao Reginaldo para tocar [a transmissão], eu precisava ir lá fora respirar, não estava aguentando. Eu tinha que levar até o fim, era a minha função", confidenciou Galvão Bueno.
"A corrida seguinte foi em Mônaco. A Fórmula 1 fez uma homenagem fantástica, porque o local da pole position ficou vazio, era o lugar dele. O pole largou na segunda posição. Na quinta-feira, no primeiro treino, teve um acidente terrível. Aquilo me assustou muito, eu disse: 'Não, tudo de novo, não'. A corrida seguinte foi na Espanha, teve outro acidente muito forte. Falei: 'Gente, acho que eu vou parar'. Mas é aquele 'acho que vou parar' naquele momento, naquela hora. Eu sabia que muita história ainda teria que ser contada. Na outra dimensão, onde ele continua brilhando muito, ele não gostaria que eu tivesse parado de transmitir. E foram mais 25 anos", declarou o narrador.
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