Publicado em 28/12/2018 às 12:31:21
Após 30 anos, o jornalista Alexandre Garcia decidiu encerrar sua carreira na Globo.
Na manhã desta sexta-feira (28), o diretor de jornalismo da emissora, Ali Kamel, emitiu um comunicado falando sobre a saída de Garcia e agradecendo por todos os serviços prestados.
O motivo mencionado seria para amenizar o seu "ritmo frenético de trabalho", mas especula-se que tenha a ver com um recente convite para compor a equipe de comunicação do governo Jair Bolsonaro, que começa no próximo dia 1º de janeiro.
Fora isso, Garcia seguirá com seus comentários políticos sendo reproduzidos em centenas de rádios e jornais espalhados pelo Brasil.
Alexandre Garcia chegou à Globo em março de 1988 e entre seus primeiros trabalhos na emissora, apresentou um quadro de crônicas com seu nome no "Fantástico".
Na mesma época, também foi repórter especial do "Jornal Nacional", "Jornal Hoje" e "Jornal d Globo".
Fez parte da equipe que cobriu a promulgação da Constituição de 1988 e as eleições presidenciais de 1989. Ao lado de Joelmir Beting, apresentou o programa "Palanque Eletrônico", no qual entrevistou todos os candidatos à Presidência. Também foi um dos mediadores nos dois debates entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor, no segundo turno das eleições.
De 1990 a 1995, Alexandre Garcia foi diretor de jornalismo da Globo em Brasília, onde acompanhou a posse de Fernando Collor na presidência e a decretação do Plano Brasil Novo, o Plano Collor. Dos estúdios da emissora, junto com Joelmir Beting, Paulo Henrique Amorim e Lillian Witte Fibe, tentou esclarecer as dúvidas dos telespectadores com relação ao plano econômico do governo.
Em 1996, Alexandre Garcia passou a apresentar o "Espaço Aberto" na Globo News. No ano seguinte, fez uma série de reportagens para o "Jornal Nacional" sobre a Justiça, discutindo os problemas que levam ao atraso dos processos e a burocracia do Poder Judiciário no país.
De 2001 até 2011, o jornalista também apresentou o jornal local "DFTV – 1ª Edição", e depois assumiu a função de comentarista no telejornal, fazendo análises diárias. De Brasília, participou da cobertura das eleições presidenciais de 2002, de 2006 e de 2010.
Nos últimos tempos, Garcia fazia parte do grupo de apresentadores do "Jornal Nacional" aos sábados e era comentarista do "Bom Dia Brasil" fazendo de Brasília os análises sobre a política brasileira.
A Globo vem enfrentando uma onda de saídas de jornalistas de seu casting, seja por decisão própria dos contratados ou dispensas por motivos variados.
Entre os que deixaram a emissora, estão Mara Luquet, Evaristo Costa, William Waack, Carla Vilhena, Cristina Serra, Tonico Ferreira e Izabella Camargo.
O último grande nome a sair foi o repórter André Luiz Azevedo, após 37 anos de casa, conforme antecipado pelo NaTelinha em primera mão.
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Conheci pessoalmente Alexandre Garcia em 1991, quando fui diretor do jornal O Globo em Brasília e ele era o diretor regional de jornalismo da Globo na capital. Costumávamos nos encontrar às terças, quando o saudoso Toninho Drummond, então diretor da Globo em Brasília, oferecia um almoço com fontes e nos convidava. Percebi em Alexandre, de imediato, o homem que ele é: correto, íntegro e também extremamente gentil e generoso. Ele, um super consagrado jornalista, com presença marcante no vídeo, além das atribuições editoriais do cargo; eu, um recém chegado a Brasília, com 29 anos, nove anos de profissão. Apesar disso, Alexandre me tratava como um igual e me ajudava no que podia. Ao chegar à Globo em 2001 reencontrei o mesmo Alexandre: profissional completo, com conhecimento de pós-graduado na cobertura política, mas o mesmo homem gentil que eu conhecera 10 anos antes. Em decisão muito refletida, depois de quase 31 anos de trabalho aqui na Globo, Alexandre decidiu deixar a emissora para amenizar um pouco o seu ritmo frenético de trabalho. Diante do trabalho exemplar ao longo de todos esses anos, é uma decisão que respeito. Ele deixa um legado de realizações que ajudaram o jornalismo da Globo a construir sua sólida credibilidade junto ao público. O trabalho na Globo foi a sequência de uma vida profissional que poucos podem ostentar.
A naturalidade frente às câmeras sempre foi um dos trunfos de Alexandre. Consta que quando começou na Globo, o saudoso Armando Nogueira dizia que ele estava inovando porque fazia gestos na televisão. Enquanto a norma era uma postura mais formal, Alexandre caminhava, fazia gestos. Essa naturalidade vinha de criança. Aos sete anos já atuava como ator infantil na rádio em que seu pai, o radialista Oscar Chaves Garcia, trabalhava. Aos 15, transmitia a Missa na Rádio de Cachoeira do Sul, onde nasceu em 1940. Aos 16, era locutor, redator, apresentador, repórter de rua da pequena rádio Independente de Lajeado. Ao se mudar para Porto Alegre para continuar os estudos, virou locutor da Rádio Difusora, dos Diários Associados. Ele conta que o salário pagava a pensão e a escola.
Quando entrou na PUC/RS para estudar Comunicação Social(onde foi o primeiro lugar no vestibular e no curso todo e presidente do Centro Acadêmico) era funcionário concursado com primeiro lugar no Banco do Brasil. Agora era o bancário sustentando os estudos do futuro jornalista. Conseguiu seu primeiro estágio na sucursal do Jornal do Brasil na capital gaúcha. Especializou-se na cobertura de economia, com ênfase na Bolsa de Valores. Ao ser contratado pelo JB, apostou no seu talento como jornalista e encerrou sua carreira de bancário.
Em 1973, cobriu o fechamento do Congresso uruguaio, que deu início à ditadura militar no país. Foi transferido então para Buenos Aires, onde ficaria três anos, acompanhando a agonia do governo peronista e a crise que levaria também ao golpe militar. Alexandre teve que deixar a Argentina às pressas depois de uma reportagem em que denunciava o esquema de corrupção da polícia rodoviária argentina próximo à cidade de Mar del Plata.
De volta o Brasil, foi trabalhar na sucursal do JB em Brasília, onde permaneceu dez anos, firmando-se como um bem sucedido repórter de política. Em 1983, estreou no vídeo na extinta TV Manchete. É dele a entrevista do último presidente militar, João Figueiredo, de quem foi porta-voz por um período. Foi a antológica entrevista em que Figueiredo disse: “Eu quero que me esqueçam!” Continuou a carreira como correspondente internacional cobrindo as guerras civis no Líbano e Angola - e a Guerra das Malvinas, o que lhe valeu a Ordem do Império Britânico, concedida pela Rainha Elizabeth II.
Em março de 1988, a convite de Alberico Souza Cruz, começou a trabalhar na TV Globo de Brasília. Entre seus primeiros trabalhos, um quadro no Fantástico que levava o seu nome: A Crônica de Alexandre Garcia, em que divertia os brasileiros com gafes e bastidores do mundo político da capital, num texto irresistível. Como repórter especial dividia-se entre o JN, o JH e o Jornal da Globo. Participou de momentos memoráveis da história recente do Brasil como as primeiras eleições democráticas para presidente, em 1989, depois da ditadura militar. Ao lado de Joelmir Betting, entrevistou todos os candidatos no programa Palanque Eletrônico. Ainda foi um dos mediadores do debate de segundo turno entre Lula e Fernando Collor, realizado em pool pelas quatro grandes emissoras de então, Globo, Band, SBT e Manchete.
Entre 1990 e 1995, como disse, Alexandre Garcia foi diretor regional de jornalismo da Globo de Brasília, sem deixar de lado seu trabalho frente às câmeras. Em 1993, estreou como comentarista do JG, em 96, passou a ter um programa na GloboNews, Espaço Aberto.
De 2001 a 2011 foi o âncora do DFTV. Comentava, analisava, cobrava das autoridades soluções para os muitos problemas que afetam os brasilienses. Nos últimos anos, tornou-se comentarista político do Bom dia Brasil, comentarista local diário do DFTV e faz parte do grupo de apresentadores que se reveza na bancada do JN aos sábados. Durante todo esse período, não houve cobertura de política no Brasil sem que ele brilhasse.
Em nossa conversa, Alexandre me disse que deixa a Globo, mas não o jornalismo. Ele continuará a ter seus comentários políticos transmitidos por duzentas e oitenta rádios Brasil afora. Do mesmo jeito, continuará a escrever artigos para um sem número de jornais por todo o país. E, entre seus planos, está o de acrescentar outro títulos ao seu livro de grande sucesso “Nos Bastidores da Notícia”, lançado em 1990 pela Editora Globo.
Em nome da Globo, eu agradeço tudo de grande que Alexandre fez para o jornalismo da emissora, um legado que deve inspirar a todos nós que aqui trabalhamos: profissionalismo, brilho, correção e competência. E eu agradeço tudo o que fez por mim, seu jeito gentil, sua generosidade. Muito obrigado Alexandre, um grande abraço, que você seja muito feliz, porque você fez por merecer.
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