Publicado em 28/08/2024 às 12:15:00,
atualizado em 28/08/2024 às 14:16:40
Em seu livro O Lado B de Boni, o ex-diretor e ex-vice-presidente de Operações da Globo admite que a novela Que Rei Sou Eu?, clássico de 1989, ajudou na eleição de Fernando Collor de Mello à Presidência da República naquele ano. Na biografia, o executivo sugere que a trama da TV tenha inspirado o lema da campanha do político.
Na publicação recém-lançada pela Editora Best-Seller, o capítulo intitulado Caça aos Marajás trata da concepção de Que Rei Sou Eu? pelo autor Cassiano Gabus Mendes (1929-1993) e também a atuação da Globo na disputa à Presidência da República em 1989, a primeira eleição democrática após o período de ditadura militar no Brasil.
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“Desde 1975, o Cassiano Gabus Mendes vinha insistindo para que a Globo produzisse um humorístico de capa e espada no horário das sete da noite. No início, pensei que ele queria mesmo fazer uma aventura, no estilo O Capitão Blood, com o Errol Flynn. Eu nunca toparia. Mas ele me explicou que seria um humorístico, uma sátira ao regime brasileiro”, conta Boni.
Após a censura à primeira versão de Roque Santeiro, em 1975, a ideia foi vetada. “Em 1985, com a queda das exigências de censura prévia, nós tivemos finalmente a oportunidade de produzir a novela do Dias Gomes (1922-1999). Assim que Roque Santeiro foi ao ar, liguei para o Cassiano: Agora podemos ir com o Que Rei Sou Eu?”.
A novela foi finalmente produzida para entrar no ar em fevereiro de 1989. “Pensei em um rap para a abertura, então eu mesmo escrevi a letra do Rap do Rei. Eu e o Hans Donner pensamos imediatamente nas imagens lembrando a Revolução Francesa.” Veja a abertura:
Com uma crítica política e social, a trama fez história às 19h. “O Cassiano criou a expressão ‘marajás’ para os ricaços corruptos da novela, e não se sabe de fato, mas parece que foi da novela que o Fernando Collor tirou a expressão de sua campanha ‘caça aos marajás’. O fato é que, mesmo sem qualquer intenção, a novela do Cassiano acabou ajudando o candidato”, admite Boni.
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O site Teledramaturgia, de Nilson Xavier, resgata que a novela foi acusada de fazer campanha a Collor pelas semelhanças com o herói da trama, Jean Pierre, vivido por Edson Celulari. Em contrapartida, a trama das 20h da época, O Salvador da Pátria, parecia fazer alusão a Lula com o personagem Sassá Mutema, de Lima Duarte.
Em O Lado B de Boni, o veterano da TV também lembra a edição do Jornal Nacional que favoreceu Collor e prejudicou Lula às vésperas da eleição. A emissora já reconheceu o caso publicamente e cita, em uma seção de erros do site Memória Globo, "equívocos na cobertura em importantes momentos da vida política brasileira".
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