"A gente está à margem, da margem, da margem... No meu melhor cenário de vida, eu nunca estaria aqui [TV Globo] conversando com vocês porque era uma coisa muito inalcançável pra mim".
Publicado em 24/07/2024 às 08:23:00
Igor Fortunato conquistou o rótulo de galã aos 32 anos graças ao personagem Zé Beltino, que interpreta em No Rancho Fundo, novela das seis da Globo. Nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, o ator lembra com carinho o que escreveu em um post na estreia da novela, em abril.
"Eu fiz um post no Instagram dizendo que era o dia que eu ia entrar em cena para a maior quantidade de público da minha vida, e que isso é muito assustador e divertido ao mesmo tempo", recordou durante conversa com a imprensa nos Estúdios Globo, com a presença do NaTelinha.
Para um artista como ele, que veio do interior do nordeste, é com esse trabalho que Igor Fortunato está aprendendo que pode ocupar outros lugares e espaços, sonhar e chegar aonde ele quiser.
"A gente está à margem, da margem, da margem... No meu melhor cenário de vida, eu nunca estaria aqui [TV Globo] conversando com vocês porque era uma coisa muito inalcançável pra mim".
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Com vasta experiência no teatro, o ator que começou a atuar aos 13 anos conta estar aprendendo a fazer televisão. "Muito feliz com essa descoberta de poder aprender a fazer esse outro veículo, de poder estar aprendendo a fazer uma nova forma de atuar, de exercer o meu ofício", comemora.
"Eu sou um ator de teatro. Fiz teatro a minha vida inteira. Me reconheci enquanto pessoa, enquanto cidadão dentro do teatro. O teatro me deu autonomia pessoal, libertação, me salvou e me salva diariamente de muitas questões, minhas e questões que vêm de fora e atravessam o meu corpo. Eu começo a me enxergar enquanto cidadão do mundo a partir do teatro", pontua.
Na saída da infância para a adolescência, além de tímido Igor sofria bullying por causa de sua aparência física. Foi o teatro que lhe ajudou a passar por todas essa mudança. "Eu fico fingindo costume diante de tanta gente", confessa.
"Eu fui uma criança que sofreu muito bullying, era obeso, usava óculos. Muitas minorias estavam impregnadas no meu corpo e possibilitavam as pessoas ao meu redor a praticarem esse bullying comigo. O teatro foi o primeiro lugar que eu olhei e disse: 'eu não preciso ter medo, eu posso me impor também, não preciso ficar calado, eu posso falar o que eu quiser para além de outras questões pessoais'".
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Para o ator, o homem tem dificuldades de nomear suas emoções, de saber o que está sentindo, e o teatro foi fundamental para ele entender e nomear as suas emoções. "Teatro é libertador nesse lugar. Quase terapêutico, não é terapia", opina.
"O teatro me deu um pouco mais desse poder, de que eu posso estar na frente de alguém falando alguma coisa, qualquer coisa. Me ensinou a ligar o famoso botãozinho do 'foda-se'. Eu não preciso estar certo, errado ou impressionar ninguém. Eu só preciso ser eu, estar aqui e lidar com essas situações", sinaliza Igor.
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Para Igor Fortunato, Zé Beltino é o cara mais ingênuo de No Rancho Fundo. Questionado se emprestou alguma característica sua para o personagem o ator diz que a intensidade.
"Eu tenho uma facilidade muito grande de me aproximar e estabelecer relações um pouco mais profundas com as pessoas, eu gosto de me aprofundar, gosto de conhecer as pessoas, do convívio, de conversar, e isso, consequentemente, me leva a me apaixonar mais, a querer estar mais perto. Eu sou um pouco intenso e eu acho que essa intensidade é a característica minha que eu mais empresto pra ele".
Igor Fortunato
E assim como o personagem da novela da Globo, o ator não está livre de viver decepções. "Quebro a cara, muito, porque quando você é muito dado, muito aberto, você acredita nas pessoas. Tem gente que, não necessariamente, vai ser legal, bacana", observa.
"Mas é a melhor forma que eu encontrei de estar no mundo e ser legal comigo mesmo. E me respeitar! Quebrar a cara pra mim não é a maior dor. A maior dor seria se e eu estivesse agindo de outra forma que não fosse a forma como eu consigo enxergar o mundo".
Igor Fortunato
Na trama, Zé Beltino se deixou levar pela Blandina, uma golpista que só pensa em se dar bem. A expectativa do ator é para que a personagem vivida por Luisa Arraes se apaixone de verdade pelo seu personagem.
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"Eu espero que Blandina tenha essa lição de vida. Seria uma grande contradição essa mulher que tentou passar a perna em todo mundo, que tenta se dar bem a qualquer custo, se apaixonar, se encantar, pelo cara mais inocente da novela. A pessoa que mais acredita no ser humano. O Zé Beltino acredita muito no ser humano", admite.
Igor, porém, ressalta que ainda não sabe o que vai acontecer. "Eu acho que ela se apaixonar por esse cara talvez seja a grande lição moral que ela possa ter na trajetória dela", insiste.
Agora, a história vem caminhando para um possível triângulo amoroso entre Zé Beltino, Blandina e Dracena (Nina Tomsic), que vem a ser a melhor amiga da interesseira. O ator revela para quem vai sua torcida.
"A Dracena tem um Q de Zé Beltino. É rude, gosta da verdade, de falar as coisas como elas são, de tratar as coisas como devem ser tratadas. Ela tem uma ética, uma moral que me lembra muito o Zé Beltino", lista.
"Eu torço muito por esse casal, com a Dracena também, e de ver a Blandina sofrer um pouco atrás do Zé Beltino. Eu acho que ela merece sofrer um pouco e ele essa reparação. [risos]. Foi tão enganado! Tá sendo, né?", brinca.
Diferente da televisão, no teatro a resposta do público é imediata. Então, Igor Fortunato adquiriu o hábito de assistir No Rancho Fundo acompanhando as redes sociais e percebe que o publico pensa assim como ele.
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"Tem gente que quer guardar Zé Beltino em um potinho quando ele está mais inocente, mais machucado, dolorido. [risos]. As pessoas torcem pela Dracena, para a Blandina quebrar a cara, se apaixonar e que ele não a queira mais. Eu acho... Eu espero que aconteça isso de fato, mas a gente ainda não sabe. Não chegamos nesse lugar".
Igor Fortunato
Igor termina a conversa falando sobre o rótulo de galã. "Eu não me considero galã. Eu acho que sou ator e se eu conseguir fazer esse papel de galã que massa. Mas eu não quero estar só nesse lugar, eu quero tá no lugar de ator que possa fazer qualquer coisa", avalia.
"Eu me preparei a vida inteira, me preparo todos os dias para estar em todos os lugares, em todas as linguagens, fazendo todos os personagens possíveis, independentemente se é no teatro, no cinema ou na televisão. Personagem feio eu quero, bonito eu quero, eu não tenho esse filtro. Agradeço a quem disse que eu sou galã, digo: 'muito obrigado, são seus olhos [brinca], mas eu quero estar além disso'", conclui.
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