“A dinâmica de trabalho na TV é intensa e agora sei que, antes, eu não estaria preparado para encarar esse desafio diário. Não é nada fácil fazer novela.”
Publicado em 08/12/2022 às 06:37:00,
atualizado em 08/12/2022 às 11:45:19
Veterano no teatro e estreante em novelas, Odilon Esteves dá vida ao advogado Firmino Queiroz em Mar do Sertão. Em entrevista ao NaTelinha, o ator mineiro afirma que encarar o gênero, mesmo com mais de 20 anos de experiência nos palcos, tem sido um desafio. Ele comenta a construção e os rumos de seu personagem, que agora flerta com um triângulo amoroso.
“Tem sido uma nova faculdade de atuação. É muito mais desafiador do que eu imaginava. E está sendo apaixonante”, comenta Odilon Esteves. “A dinâmica de trabalho na TV é intensa e agora sei que, antes, eu não estaria preparado para encarar esse desafio diário. Não é nada fácil fazer novela”, admite o ator.
A escalação para Mar do Sertão veio por conta da repercussão de um trabalho desenvolvido on-line durante a pandemia da Covid-19. Ele levou para a web uma leitura de Guimarães Rosa (1908-1967), autor que já havia reverenciado no teatro. “Fiquei numa alegria imensa, mas só acreditei mesmo que estava escalado depois que vi minha primeira cena no ar.”
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A paixão platônica de Firmino por Lorena (Mariana Sena) já ganhou uma forte torcida do público para se concretizar. Agora, o advogado também está envolvido por Xaviera (Giovanna Cordeiro), dando início a um possível triângulo amoroso. “Como é uma obra aberta, não sei o que vai acontecer”, aponta o ator.
O tipo vivido por Odilon Esteves em Mar do Sertão em nada lembra sua experiência anterior na TV: a travesti Cíntia da minissérie Queridos Amigos (2008). O ator fala com saudade daquele trabalho. E avalia: “Hoje, provavelmente a Cíntia seria feita por uma atriz trans. Vejo nisso um avanço muito grande da nossa sociedade. Uma conquista delas, numa luta nada fácil”.
NaTelinha: Mar do Sertão é sua primeira novela. O que essa experiência representa para a sua carreira? Odilon Esteves: Tem sido uma nova faculdade de atuação. É muito mais desafiador do que eu imaginava. E está sendo apaixonante. Além do trabalho com o meu personagem, tenho estudado os capítulos inteiros para entender a construção como um todo. Aí, quando posso, fico no set vendo meus colegas gravarem, observando a abordagem de cada diretor ou diretora, as formas diversas como a equipe inteira contribui nesta engrenagem... Cresci assistindo à televisão, sempre quis fazer isso, e estou completamente absorvido por essa experiência. “A dinâmica de trabalho na TV é intensa e agora sei que, antes, eu não estaria preparado para encarar esse desafio diário. Não é nada fácil fazer novela.” Você entra no set de gravação todo dia sabendo que aquela cena só será feita daquela vez. Exige, então, uma espécie de prontidão talvez parecida com a de um atleta que vai cobrar um pênalti decisivo. É preciso ir com tudo. Obviamente nem sempre a gente consegue marcar o gol, isso faz parte do jogo. Mas é preciso entrar inteiro em campo, com a escuta e o coração abertos para entregar o seu melhor possível naquele dia. NT: Como surgiu a oportunidade de estar no elenco? Odilon Esteves: Em agosto do ano passado, o Vinícius Coimbra, diretor de cinema e TV, com quem eu já havia trabalhado na minissérie Queridos Amigos (2008) e no longa A Hora e a Vez de Augusto Matraga (2011), me mandou uma mensagem dizendo ter visto uma leitura que eu tinha feito de Guimarães Rosa, on-line, durante o isolamento social, no auge da pandemia. E que tinha pensado em mim para fazer o Firmino. O Vinícius não continuou no projeto mas o Alan Fiterman, diretor artístico da novela, refez o convite. Eu fiquei numa alegria imensa, mas só acreditei mesmo que estava escalado depois que vi minha primeira cena no ar!
NT: Como trabalhou a construção do personagem? Odilon Esteves: Começou com a descrição do Mário Teixeira na sinopse, e nas primeiras cenas que li do Firmino. “Sou de Novo Cruzeiro, uma cidade do norte de Minas Gerais, onde vivi até os treze anos de idade. Nossa cultura tem uma proximidade forte com a do sul da Bahia. Além disso tenho primos e primas baianas, com quem convivi muito desde pequeno. Aproveitei todas essas referências da minha infância para colocar no personagem.” Peguei ainda duas pessoas próximas como inspiração mais direta. Tive as contribuições preciosas do Vinícius Arneiro, preparador de elenco da novela, e da Iris Gomes da Costa, preparadora de prosódia. Cada diretor e cada diretora trazem suas contribuições todo dia. Sem contar que o personagem vai se moldando também na relação com os outros personagens. É uma construção contínua que vai se dando ao longo da novela toda. NT: Formular o sotaque de Canta Pedra foi um desafio? Odilon Esteves: Sotaque é sempre um desafio. Nossa vantagem é que Canta Pedra é uma cidade fictícia que comporta vários nordestes, com nuances dos vários estados de onde vem grande parte do elenco: Paraíba, Pernambuco, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia! A riqueza dos sotaques é essa... Eles possuem diferenças mesmo dentro de cada um destes estados. A Iris, preparadora de prosódia, estabeleceu dois fonemas (o "t" e o "d" como são falados na Paraíba) como uma espécie de unidade fonética para o sotaque, mas, dentro disso, cabem variações. E nós sudestinos vamos aprendendo com os nordestinos dia após dia. NT: O que pode nos adiantar sobre o destino do Firmino? O romance com Lorena vai se concretizar? Odilon Esteves: Ainda não sei muito coisa. Uma amiga de BH, Juliana Caldeira, me diz que torce para que ele se torne prefeito e Lorena primeira-dama de Canta Pedra... Ia ser lindo! Já pensou? Mas, como é uma obra aberta, não sei o que vai acontecer. E ainda tem muita água pra rolar. “Tomara que o romance com Lorena se concretize. Embora o Firmino esteja construindo também uma relação de amizade muito bonita com Xaviera. Tem gente que torce pra ele ficar com Lorena. Mas tenho visto muita gente também torcendo pra ele ficar com Xaviera.” NT: Mar do Sertão está chegando à metade. Qual balanço você faz desse trabalho até aqui? Odilon Esteves: Estou muito orgulhoso do que está sendo feito: a forma como diversos temas são abordados, o ritmo da novela, a fotografia, o texto, a trilha sonora, os personagens, a diversidade de estilos de atuação, o trabalho de Juzé e Lukete trazendo as cenas dos próximos capítulos, é tudo muito bem cuidado, muito inspirador! Todo dia tem alguma coisa que me faz rir, ou me emocionar, ou me apaixonar, ou vibrar, ou refletir... E, mais do que saber o que vai acontecer, eu tenho gostado de ver o dia a dia das personagens, as relações entre elas, sabe? Sou interiorano, né?! Nem sempre acontece alguma coisa grande numa cidade pequena e no entanto, na aparente pasmaceira, sempre tem algo acontecendo, "um milagre que não estamos vendo" como nos ensina Guimarães Rosa. “Acabei de passar uma semana em casa com Covid e, portanto, isolado, então aproveitei para maratonar 33 capítulos que estavam acumulados. É que gosto de ver na ordem e se perco um dia, eles acabam virando uma bola de neve. Vou te dizer... Fiquei tão feliz com essa maratona! Tenho achado a novela tão linda que, contrariando minha criação mineira, perdi até o pudor de assumir aqui que estou completamente apaixonado por ela.”
NT: Há 14 anos, você fez a Cíntia de Queridos Amigos. Quais são suas principais recordações daquele trabalho? Odilon Esteves: Tenho saudade da Cíntia, como se tivesse convivido com ela profundamente por alguns meses, e depois tivéssemos nos separado. Queridos Amigos foi um trabalho muito importante pra mim, por muitos motivos: por ter me possibilitado trabalhar com a Fernanda Montenegro, artista que é um farol pra minha vida; por ter sido meu primeiro trabalho na televisão; Cíntia me fez conhecer o universo feminino de uma outra perspectiva, tanto o universo trans, quanto o cis. As discussões sobre transgeneridade naquele momento não tinham a dimensão que têm hoje. Com a internet vimos muitas pautas consideradas tabus conquistarem mais espaço e interesse da sociedade ao longos desses quase 15 anos desde a estreia da minissérie. Ainda não estava posta também a questão da representatividade trans, que veio à tona alguns anos depois com muito vigor e potência. Hoje, provavelmente a Cíntia seria feita por uma atriz trans. Vejo nisso um avanço muito grande da nossa sociedade. Uma conquista delas, numa luta nada fácil. E quando vou ao teatro, ao cinema, ou ligo a TV e vejo tantas atrizes trans na cena, como a Wallie Ruy, a Fabia Mirassos, a Renata Carvalho, a Juhlia Santos, a Dandara Vital, a Jade Sassará (que está em Mar do Sertão), a Gabriela Loran (que está em Cara e Coragem), a Kika Sena – primeira atriz trans a ganhar o Troféu Redentor do Festival do Rio pelo filme Paloma, de Marcelo Gomes, este ano –, enfim, só pra citar algumas… Tudo isso mata um pouco da minha saudade da Cíntia, meu orgulho por ela, e ao mesmo tempo nos esfrega a pergunta: "Onde essas mulheres estavam esse tempo todo?". Ao mesmo tempo, me dá esperança, porque vejo um mundo caminhando! O NaTelinha divulga todos os dias os resumos dos capítulos, detalhes dos personagens, entrevistas exclusivas com o elenco e spoiler da novela Mar do Sertão. Confira!
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