Publicado em 10/05/2020 às 10:45:00
Em 2003, a direção da Record colocou como meta ultrapassar a Globo e se tornar a principal emissora do país. Para isso, abriu os cofres, contratou profissionais da concorrente em diversas áreas, incluindo dramaturgia, e negociou a compra dos estúdios que pertenciam ao humorista Renato Aragão.
Em 10 de março de 2005, a Record virou proprietária do espaço de gravações localizado no bairro de Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A empresa rebatizou os estúdios que passou a se chamar RecNov e definiu que gravaria Prova de Amor, novela contemporânea de Tiago Santiago.
Na época, o investimento surpreendeu o mundo da televisão. A Record gastou R$ 60 milhões em infraestrutura e tecnologia, expandiu a área de 40 mil m² para 200 mil m², os três antigos estúdios foram reformados e equipados e o RecNov ganhou ainda mais três estúdios, juntamente com um prédio que abriga as áreas administrativas, os camarins, dois galpões, fábrica de cenários e o depósito de cenários.
Antes da compra do espaço, as novelas da emissora eram gravadas em São Paulo – como Escrava Isaura e Essas Mulheres – e a ida para o Rio de Janeiro servia para atrair grandes estrelas da Globo que já viviam em terras cariocas. Um exemplo disso é Lavínia Vlasak, que recusou integrar o elenco de outras tramas do canal por ser na capital paulista.
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Contudo, com os novos estúdios, a atriz aceitou protagonizar Prova de Amor e quase contracenou com Fábio Assunção, que estudou a proposta da Record, mas acabou recusando e se mantendo na Globo. Carmo Dalla Vecchia, Bruno Ferrari, Ângelo Paes Leme e Cláudio Heinrich fizeram testes para realizar par romântico com Lavínia, mas Marcelo Serrado é quem ganhou o posto.
Leonardo Vieira se tornou o antagonista e ali fechava um trio conhecido do grande público. Nathália Timberg foi outro nome que quase aceitou trabalhar na Record, entretanto, rapidamente a Globo a chamou para a minissérie JK. Vanessa Gerbelli, que fez sucesso em Mulheres Apaixonadas (2003), aceitou o contrato da emissora e virou outra estrela do canal na época.
Apesar de não ter contratado ninguém do primeiro escalão da Globo, a emissora montou um elenco de nomes conhecidos – Raul Gazolla, Maria Ribeiro, Renata Dominguez, Ricardo Pereira e Pedro Malta – e chamou atenção dos telespectadores, principalmente pelas propagandas do canal em relação ao RecNov.
A construção do RecNov serviria para a Record ter dois horários de novelas. Com a ida de Lauro César Muniz, discutiu-se a chance do enredo do autor ser feito nos estúdios, mas Prova de Amor ocupou todos os espaços e a emissora optou por levar Cidadão Brasileiro para São Paulo.
Prova de Amor rapidamente se tornou um fenômeno para os padrões da Record e passou a assustar a Globo, que fracassava no horário das sete por conta de Bang Bang, uma das novelas mais problemáticas do canal.
“É uma junção de fatores. O texto do (autor) Tiago Santiago, a equipe técnica que veio da Globo, a qualidade da imagem e a sorte de ter pego uma concorrência que não emplacou entre os espectadores. Todos nós estamos fazendo essa novela com muita garra, torcendo para que tudo dê certo. Afinal, isso é abertura de mercado. As pessoas podem mudar de canal e ter bons programas em mais de uma emissora”, comentou Marcelo Serrado em 2005, ao jornal O Tempo, sobre o motivo do sucesso da trama.
"Fizemos questão de investir em atores experientes. A Record tem um projeto de longo prazo, irreversível e pretendemos, dentro de um ano, ter três horários de novela", afirmou Hiran Silveira, na época diretor do núcleo de teledramaturgia da Record.
Prova de Amor tinha como meta de média geral 11 pontos e consolidou com 16,6, tornando-se a novela de maior audiência da Record no século. O último capítulo, por exemplo, que ocorreu numa segunda-feira, marcou 25 pontos e chegou a ameaçar o Jornal Nacional.
A Record ainda teria outros dois grandes sucessos para assustar a Globo: Vidas Opostas e a trilogia Os Mutantes. Os bons índices de audiência e o retorno em repercussão fizeram com que o canal concluísse a obra de mais quatro instalações no RecNov, totalizando 10 estúdios de uso exclusivo para a produção de teledramaturgia, o que custou R$ 80 milhões.
Com a ampliação do espaço, seis produções simultâneas poderiam ser realizadas no local com piso feito de garrafas plásticas recicladas, energia renovável e materiais usados na construção de baixa emissão de poluentes.
Atualmente, o RecNov está arrendado para a Casablanca, produtora responsável pelas novelas da Record. Nos estúdios, a empresa tem gravado as tramas bíblicas do canal, Amor Sem Igual e já prepara para iniciar os trabalhos da segunda temporada de Topíssima - caso os planos não mudem por causa da pandemia do coronavírus.
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