Fazer novelas é um longo aprendizado. A cada estreia, é como se fosse a sua primeira. É uma coisa para a qual você não está nunca preparado
João Emanuel CarneiroPublicado em 13/05/2018 às 09:00:14
João Emanuel Carneiro volta à TV nesta segunda-feira (14) com “Segundo Sol”, sua sexta novela na Globo - a quarta na faixa das 21h. Desta vez, em um folhetim mais dramático e centrado nas relações intrafamiliares dos protagonistas Luzia (Giovanna Antonelli) e Beto Falcão (Emílio Dantas).
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o autor confessa que cada estreia “é como se fosse a sua primeira”, sempre sendo um novo “risco” e um “desafio”. “Essa novela em essência é um drama familiar, com personagens e dilemas muito humanos”, comenta João.
Na conversa, o escritor aproveita para afastar supostos traumas envolvendo “A Regra do Jogo” (2015), abre o coração ao ver um “amadurecimento” progressivo a cada trabalho e relembra com carinho “A Favorita” (2008), sua primeira incursão no horário nobre da emissora, prestes a completar 10 anos: “minha preferida”.
Desde que começaram as primeiras notícias envolvendo “Segundo Sol”, há um ano, se bate na tecla de que é uma novela mais alegre, positiva, alto astral. O autor reafirma a ideia. “’Segundo Sol’ traz uma história para emocionar. Um drama de uma mãe que luta pelo amor dos seus filhos. Em paralelo, a história da falsa morte de Beto Falcão, ídolo do axé, e as consequências dessa mentira para ele e sua família”, diz. “É uma novela que traz todo o frescor da Bahia, suas paisagens e cores, sua musicalidade, suas particularidades”, completa João.
Fazer novelas é um longo aprendizado. A cada estreia, é como se fosse a sua primeira. É uma coisa para a qual você não está nunca preparado
João Emanuel Carneiro
A direção da trama é assinada por Dennis Carvalho e Maria de Médicis, uma parceria até então inédita. “É muito bom poder contar com o talento dessa direção. Nós falamos a mesma língua, prezamos pelo realismo em cena, com diálogos coloquiais. Confio neles para me ajudarem a contar essa história”, conta.
Até então, com Dennis, João só trabalhou quando era colaborador de “Desejos de Mulher” (2002), de Euclydes Marinho. Já com Maria, o único encontro foi em “Da Cor do Pecado” (2004), quando ela era subordinada à equipe de Denise Saraceni.
Agora, o novelista vem com duas “grandes vilãs”: Laureta (Adriana Esteves) e Karola (Deborah Secco). “Laureta e Karola têm uma relação ambígua. Karola é uma mulher mais passional, enquanto Laureta é mais racional. As duas são parceiras, cúmplices, e juntas carregam um grande segredo. São elas as grandes, mas não as únicas, catalisadoras de ação da história”, explica.
“Costumo dizer que as vilãs da minha história me ajudam a contá-la, pois são as peças que mais movimentam todas as outras”, complementa João Emanuel Carneiro. Talvez essa seja uma resposta às críticas sobre a falta da figura da “grande vilã” em “A Regra do Jogo” (Atena), a exemplo de Flora (Patrícia Pillar, “A Favorita”), Bárbara (Giovanna Antonelli, “Da Cor do Pecado”), Leona (Carolina Dieckmann, “Cobras & Lagartos”) e Carminha (Adriana Esteves, “Avenida Brasil”).
É uma história que talvez não pudesse mais ser contada nos dias de hoje em virtude dessa demanda tão imediata de audiência
Autor sobre A Favoritacontinua depois da publicidade
Sem traumas
Questionado sobre “A Regra do Jogo”, sua última novela, o autor nem de longe mostra arrependimentos ou traumas. “É uma novela que me dá muito orgulho. Ela tinha uma história ousada, sobre um bandido que se apaixona pela ideia de ser um santo. Cada vez me recordo com mais saudade dela”, afirma. Na época, João enfrentou uma pressão intensa: antecipação em quase um mês da estreia, responsabilidade de reerguer os índices e conter o sucesso de “Os Dez Mandamentos”, da Record TV. Mas uma lição ficou. “Eu acho que fazer novelas é um longo aprendizado. A cada estreia, é como se fosse a sua primeira. É uma coisa para a qual você não está nunca preparado, por mais experiência que você tenha nesse assunto”, pondera.
A Favorita, literalmente
Há dez anos, João Emanuel Carneiro estreava na faixa das 21h com “A Favorita”. E ele não esconde sua “paixão” pela trama. “Das minhas novelas, a minha preferida. Foi um trabalho muito prazeroso, que me rendeu ótimos frutos, e que me mostrou que o público também gosta de ser surpreendido, que gosta de desafios”, comenta.
O escritor é realista, analisando a atual conjuntura da TV brasileira. “É uma história que talvez não pudesse mais ser contada nos dias de hoje em virtude dessa demanda tão imediata de audiência. Era muito experimental por só estabelecer quem era a vilã e quem era a mocinha no capítulo 60, passado o primeiro terço da narrativa”.
Madureza
Ao fazer uma autoanálise de sua carreira, João reflete: “Amadureci e acabei compreendendo melhor o público para o qual eu escrevo”.
O roteirista se vê mais resistente para enfrentar a rotina de escrever uma novela, depois de tantos desafios encarados. “Costumo dizer que é um trabalho sem fim, que exige muita entrega, muitas renúncias. Mas, ao final, dá muito orgulho. E eu me sinto privilegiado por poder contar mais uma história a vocês”, finaliza.
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