Publicado em 23/02/2017 às 11:11:26
Por Diego Falcão e Gabriel Vaquer
Em "A Lei do Amor", Heloísa Jorge interpreta a angolana Laura, que faz parte do plano de Tião (José Mayer) para atrapalhar a vida de Pedro (Reynaldo Gianecchini) e Helô (Claudia Abreu).
A atriz concedeu uma entrevista exclusiva ao NaTelinha e fala um pouco sobre sua personagem na novela, vida pessoal e outros trabalhos.
"Vibro muito vendo a Vera Holtz fazer a Magnólia e o José Mayer fazendo o Tião", revela.
Confira a entrevista na íntegra:
NaTelinha - Você é angolana, e veio para o Brasil com 10 anos. Como vê o nosso país atualmente? Como foi chegar aqui tão nova e de uma forma tão triste, fugida da guerra?
Heloísa Jorge - Quando cheguei ao Brasil eu via o país com olhos esperançosos de quem saiu de um conflito civil. Deixar a minha mãe e irmãos, isso sim, foi mais difícil e doloroso. Depois de Montes Claros (MG), cidade do meu pai, onde passei toda a adolescência eu fui estudar Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia em Salvador e adotei aquela cidade como a minha terra, o meu lugar, a identificação foi imediata.
Fiquei estudando, trabalhando e respirando aquela terra mágica por 10 anos. Todas as minhas referências, inclusive artísticas, são dali. Atualmente vivo no Rio de Janeiro.
NaTelinha - Fazer uma escrava em "Liberdade, Liberdade" foi importante pessoalmente falando em que sentido para você? Acha que os negros ainda são pouco valorizados no Brasil?
Heloísa Jorge - Todos os personagens e projetos em que me envolvo me ensinam alguma coisa e a Luanda não foi diferente. Essa personagem me fez repensar a história do Brasil. A história que nós aprendemos na escola e a história do Brasil, que nós brasileiros ainda hoje desconhecemos.
É por conta desse desconhecimento que o racismo no país ainda é "eficaz". Não se consegue falar com clareza sobre ele, porque nós ainda achamos que convivemos em uma democracia racial.
NaTelinha - Como você avalia a personagem Laura, que entrou recentemente em "A Lei do Amor"?
Heloísa Jorge - A Laura desconstrói todos os estereótipos quando se pensa em alguém que veio do continente africano. Isso é o que ela tem de mais precioso, porque vai na contramão de um imaginário coletivo preconceituoso alimentado por anos. Tô bem feliz com essa sacada dos autores e muito grata por terem confiado a mim essa mulher tão forte.
NaTelinha - Como telespectadora, qual sua personagem favorita até o momento?
Heloísa Jorge - Vibro muito vendo a Vera Holtz fazer a Magnólia e o José Mayer fazendo o Tião. Acho os personagens complexos e bem construídos.
NaTelinha - Você fez novelas no seu país, uma delas indicada até ao Emmy. Qual a diferença técnica e de interpretação entre Brasil e Angola?
Heloísa Jorge - Tive a oportunidade de voltar a Angola em 2014, depois de algum tempo fora do país para protagonizar a novela "Jikulumessu" ao lado de Borges Macula, Sandra Gomes e Fernando Mailogi. Foi uma experiência muito linda.
O reconhecimento da indicação (EMMY) foi recebido com muita alegria por toda a equipe, porque só nós sabemos o que passamos para contar aquela história. Uma equipe em que angolanos e portugueses trabalharam arduamente para fazer uma novela de qualidade num país que não tem as mesmas condições que o Brasil. Fizemos um belo trabalho, mesmo sabendo que arte ainda não é prioridade no país. Fizemos arte em Tv aberta! Angola começa a dar passos importantes no diz respeito à industria televisiva.
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