Publicado em 29/05/2017 às 15:09:20
Ao terminar daqui na semana que vem, a novela “Rock Story” se consagra como uma boa surpresa na teledramaturgia da Globo após uma safra irregular de novelas das 19h, cujo último sucesso havia sido em 2015 com “Totalmente Demais”, um conto de fadas contemporâneo, leve e despretensioso, que invertia a chave cômica exagerada das tramas no horário.
Menos adocicada, mas também tão despretensiosa quanto, “Rock Story” tem como eixo principal os bastidores do mundo da música, e a autora Maria Helena Nascimento, até então colaboradora de outras tramas, construiu personagens humanos, mais propensos aos altos e baixos da fama do que a gestos arrebatadores de vilania ou de afeto. Tendência que a teledramaturgia não só da Globo, como a da concorrência, pareceram sufocar recentemente em enredos ora conservadores, ora tão ousados que deixaram o gênero novela à beira do irreconhecível (quem não se lembra de “A Regra do Jogo”?).
Desde 2012, quando os arrasa-quarteirões “Avenida Brasil” e “Cheias de Charme” oxigenaram o horário nobre da emissora, a teledramaturgia brasileira precisou se reinventar, fosse na forma ou no conteúdo, para fisgar o público cada vez mais diluído em meio às várias telas que ofertavam ficções igualmente variadas.
O fenômeno é, aliás, mundial: a tecnologia cada vez mais avançada dos monitores de TV permitiu que as equipes de filmagem se arriscassem na exploração de imagens (fotografia, direção de arte, iluminação, edição e etc.), sendo possível o surgimento do faroeste urbano da série americana “Breaking Bad” e nos trópicos, da linguagem cinematográfica de “Avenida Brasil”, enquanto Moisés na novela “Os Dez Mandamentos” dividiu o Mar Vermelho em plena RecordTV (com a ajuda de um estúdio norte-americano de efeitos especiais).
A abertura para tantas inovações foi, nos anos seguintes, aproveitada de modo atabalhoado. Mesmo que “Os Dez Mandamentos” tenha sido exibida em 2015, a emissora de Edir Macedo atualmente sofre com as tramas bíblicas repetitivas, caricaturais. A Globo revive agora a época de bons índices de audiência e de repercussão em todos os horários, com as novelas “Novo Mundo”, a já citada “Rock Story” e “A Força do Querer”.
Diferentemente de 2012, a revolução atual (ou a sua segunda onda) é mais serena, conciliadora. Compreende que o gênero novela tem a sua linguagem própria, contudo, sem recusar as inovações trazidas pelas novas estéticas e pelos novos arcos narrativos.
A personagem Bibi, interpretada por Juliana Paes em “A Força do Querer” às 21h, se tornará uma poderosa traficante ao assumir os negócios do marido, um ex-professor de Química que enveredou para o tráfico de drogas. Uma importação meio cara de pau de “Breaking Bad”, mas com toques nacionais amadurecidos, sem bordões, merchandising social apelativo ou núcleos avulsos de personagens.
A revolução está sendo televisionada e a sua segunda onda, muito bem-vinda.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há oito anos.
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