O Observador: O espaço dos programas policiais na nossa TV

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Por Redação NT

Publicado em 27/10/2012 às 20:45:20

Numa entrevista interessante ao jornalista Maurício Stycer, José Luiz Datena disse que pode estar abandonando o “Brasil Urgente” em breve. Segundo o próprio apresentador, o motivo seria simples: ele não sabe até que ponto o tipo de jornalismo do programa pode ajudar a reduzir a violência. Há muito tempo essa discussão vem sendo debatida. Há limites para programas policiais? O que devem mostrar e, principalmente, como devem mostrar?

Esse jornalismo que explora o tão polêmico “mundo-cão” é responsável por atrair muitos olhares e chamar atenção – prova disso está no fato do “Brasil Urgente” ser responsável, há anos, pelas maiores audiências da Band todos os dias.

O público quer acompanhar a notícia do modo que ela acontece, sem tanta maquiagem ou retoques. A população quer ver o rosto do criminoso na TV e saber detalhes sobre o crime. O público quer imagens. E gosta disso, se sente atraído. 

José Luiz Datena, o principal nome desse tipo de jornalismo no Brasil, sabe fazer bem feito e, talvez a mais importante de suas características, possui a confiança do telespectador. É assim com vários desses apresentadores. Se tornam heróis do povo por denunciar e exibir realidades não mostradas em outros lugares.

Apesar de uma parcela grande da população ser contra a esses tipos de programa, é importante que eles estejam no ar. E isso tem alguns motivos: O discurso direto que os apresentadores desses programas usam para as autoridades, cobrando medidas contra violência, gerada pela desigualdade social e outros motivos, é o que garante a eles credibilidade perante todo o público, sobretudo as classes menos favorecidas.

Outra coisa: os brasileiros que assistem a “programas policiais” muitas vezes são os tristes protagonistas desses. Esse talvez seja o principal combustível dessas atrações.

Entretanto, alguns programas do gênero, e é exatamente nesse ponto que há controversas, usam de sensacionalismo barato para conseguir audiência e métodos nada respeitosos. Exemplos não faltam.

Na Bahia, há alguns anos, o programa “Na Mira” várias vezes foi acionado pelo Ministério Público por explorar a desgraça alheia de forma indevida. Na época, o programa exibia cenas de violência e humilhação de pessoas menos favorecidas.

Há um episódio mais recente também, quem não se lembra? Trata-se da repórter Mirella Cunha, do programa “Brasil Urgente Bahia”, que desrespeitou e fez chacota com um entrevistado suspeito de cometer um crime. A repórter foi demitida pelo canal dias depois da matéria ser veiculada.

A conclusão que fica é que há espaço para esse tipo de jornalismo, esse tipo de notícia. Mas precisa haver também – e isso tem que ser prioridade e estar antes de qualquer outra coisa – respeito. 

Breno Cunha escreve sobre mídia e televisão há quatro anos e sempre foi conhecido por grandes discussões provocadas por suas críticas. No NaTelinha não é diferente. Converse com ele: brenocunha@natelinha.com.br / Twitter @cunhabreno

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