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Cinco vezes que Silvio Santos melhorou a programação da Globo

Silvio Santos também mexeu na concorrente para melhor


Faustão, Xuxa e Jô Soares
Faustão, Xuxa e Jô: Silvio Santos teve papel fundamental na carreira deles - Foto/Montagem NaTelinha

O apresentador Silvio Santos faleceu neste sábado (17), aos 93 anos, devido a uma broncopneumonia após infecção por Influenza (H1N1), conforme comunicado do Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo. Ele estava internado desde o dia 1º de agosto.

Com uma trajetória marcante na TV brasileira, o “homem sorriso” não apenas transformou a grade do SBT, mas também influenciou positivamente a programação da Globo, realizando mudanças significativas nas últimas décadas, algumas das quais perduram até hoje.

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Nesta série de reportagens especiais, relembramos como Silvio conseguiu impactar naquela que já foi sua principal concorrente, desde destinar um grande espaço da programação para as crianças com Xuxa e até contratar Faustão para quebrar sua hegemonia aos domingos.

Xuxa na Globo

Em 1986, o SBT estava no auge com o palhaço Bozo e a Globo buscava alguém que pudesse brigar de igual com a programação infantil da concorrente. Na TV Manchete (1983-1999), despontava uma loira cativante e com um carisma único: Xuxa Meneghel.

Apresentando o Clube da Criança (1983-1998), Xuxa chamou a atenção de Boni, ex-todo poderoso da emissora, que decidiu lhe convidar para comandar as manhãs globais. Depois de um longo namoro, eis que finalmente ela assinaria com o canal carioca.

A partir daí, a Globo passou a investir maciçamente em suas manhãs e dedicá-la aos pequenos, mesclando musicais, brincadeiras no palco e desenhos animados, travando guerras de audiência contra o SBT, que sempre investiu na programação infantil.

Boris Casoy e o TJ Brasil

Cinco vezes que Silvio Santos melhorou a programação da Globo

O lançamento do TJ Brasil (1988-1997) marcou uma das grandes revoluções no jornalista. Segundo Albino Castro Filho, aquela seria a passagem da televisão brasileira para a modernidade.

Boris Casoy, então, com 47 anos de idade, acreditou que aquilo era uma prova profissional. "Não posso dizer que já domino totalmente o veículo, mas já fiz rádio", disse ao Jornal do Brasil em agosto daquele ano.

A ideia era fazer o que a TV deveria ter feito na década de 60, segundo Marcos Wilson, diretor-geral de telejornalismo do SBT na época: um telejornal produzido e apresentado por jornalistas com a figura do âncora, que também pode tecer comentários e críticas.

Tudo isso ajudou a transformar o Jornal Nacional, que revolucionou o jornalismo e a TV brasileira em 1969. Foi o primeiro telejornal para todo o país, apostando em um jornalismo "isento", consolidando um formato fixo com a cobertura da política nacional, internacional, esporte e variedade. Apostou na agilidade e rapidez da notícia curta, mas em meados da década de 1990, era apontado como ultrapassado.

Em 1996, o JN decidiu seguir uma linha futurista no cenário e a introdução de âncoras. Com a contratação de Lilian Wite Fibe, que estava no SBT, e a chegada de William Bonner, que já estava na emissora. Estava dada a largada para se assemelhar ao concorrente.

O JN, então, passou a contar com Wite Fibe e William Bonner a partir de 1996, substituindo Sergio Chapelin e Cid Moreira, que ficou por 26 anos no telejornal. E o próprio SBT sabe que ajudou nessa transformação.

Depois de 26 anos no ar, a Globo resolveu seguir o raciocínio do SBT e colocar jornalistas para apresentarem telejornais. "Estamos orgulhosos porque criamos o primeiro âncora do país ao colocar Boris Casoy à frente do telejornalismo", festejou Albino Castro ao Jornal do Brasil em 1996.

Domingão do Faustão

A guerra de audiência aos domingos sempre foi mais acirrada. Naquela época, Silvio Santos ainda reinava durante mais de oito horas distribuindo prêmios e brincando com suas colegas de trabalho no SBT.

A Globo, observando isso, já queria lançar uma atração nos mesmos moldes. O próprio diretor Daniel Filho dizia que a emissora buscava um programa de variedades, descompromissado e alegre.

Em 1988, a rede já tinha ousado e tirado Gugu Liberato (1959-2019) do SBT, que estava no auge com o seu Viva a Noite aos sábados. Silvio Santos não hesitou em ir até o Rio de Janeiro e conversar diretamente com Roberto Marinho para romper o acordo, pagando uma multa milionária para manter o seu pupilo, até devido ao problema que tinha na garganta.

A Globo sabia que só concorrendo com um programa semelhante, já que todas as outras opções foram tentadas, conseguiria finalmente vencer o SBT e fazer da liderança um fato. Dito e feito.

Estreava o Domingão do Faustão em março de 1989, rapidamente abocanhando a liderança nas quatro horas em que ia ao ar, entre 15h e 19h. Silvio chegou a ficar 11 pontos atrás de seu concorrente, e a disputa só viria a ficar mais acirrada no final daquele ano, com o efeito novidade que já tinha passado.

Embora Silvio ainda se alternasse em algumas ocasiões na liderança até o início dos anos 90, não demorou muito para que perdesse de vez o trono aos domingos. Foi o responsável direto para a contratação de Faustão pela Globo. E que permanece até hoje no ar.

Tela Quente

Em 1988, Silvio Santos contratou Jô Soares, que dava até 70 pontos no Ibope com seu Viva o Gordo (1981-1987) na segunda-feira à noite. E não é que ele decidiu lançar o Veja Gordo (1988-1990) justamente na segunda-feira?

A Globo, então, resolveu se apoiar em grandes produções do cinema e lançar uma espécie de sessão premium, onde haveria somente os campeões de bilheteria e filmes inéditos. Nascia ali a Tela Quente, que exibiu Star Wars - O Retorno de Jedi na sua estreia. E também está no ar até hoje.

Com filmes, a Globo agradou as suas principais parcerias de Hollywood e também o público, que conseguia assistir aos grandes sucessos do cinema nas segundas-feiras à noite depois da novela.

O sonho de Jô Soares

Silvio Santos só conseguiu contratar Jô Soares porque também lhe concedeu a realização de um sonho: ter um talk-show nos mesmos moldes dos americanos, nos finais de noite. Diariamente, Jô entrevistou as mais diversas personalidades entre 1988 e 1999 no Jô Soares Onze e Meia, que nunca ia ao ar exatamente nesse horário.

No ano de 1999, a Globo lhe chamou de volta para oferecer justamente aquilo que sempre havia negado: um talk-show. E Jô Soares aceitou a proposta. Se existiu ressentimentos? Jô garante que não.

Tanto que quando Jô estava saindo do SBT, Silvio Santos lhe fez uma homenagem no extinto Em Nome do Amor (1994-2000) e deixou as portas abertas caso quisesse voltar. No ano 2000, estreava o Programa do Jô na Globo, onde ficou no ar até o final de 2016. Mais uma vez Silvio Santos conseguiu incrementar a grade da, até então, principal concorrente.


Nota: Esta matéria foi publicada originalmente em 12/12/2020, quando Silvio Santos completou 90 anos. O apresentador faleceu em 17 de agosto de 2024, às 4h50, em decorrência de broncopneumonia após infecção por Influenza (H1N1). 

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