Globo rejeita remake de novela de Janete Clair
Sucesso de Janete Clair teve remake rejeitado pela Globo
Publicado em 23/06/2024 às 17:37,
atualizado em 23/06/2024 às 18:14
Ricardo Linhares apresentou para a Globo o projeto do remake de uma novela de sucesso de Janete Clair. O autor tentou emplacar uma nova versão de Fogo Sobre Terra (1974), mas não obteve retorno da cúpula do canal e a ideia acabou engavetada.
Quem fez a revelação foi Vincent Villari, responsável por obras de sucesso como Tititi (2010) e Sangue Bom (2013), em que ele escreveu ao lado de Maria Adelaide Amaral. O autor deixou a Globo após ser um dos colaboradores de João Emanuel Carneiro em Todas as Flores (2023), para o Globoplay. Desde então, ele mantém um canal no YouTube, onde conta curiosidades de trilhas sonoras e revela bastidores do canal.
Num desses vídeos, lançado recentemente, ele fala sobre Fogo Sobre Terra. "Vejam a genialidade de Janete Clair: ela foi obrigada a enfraquecer a legitimidade da luta do Pedro. Então ela chamou a atenção para um fato ainda mais relevante, que era que aquelas terras pertenciam aos indígenas", disse.
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O novelista deu detalhes sobre o período em que a trama foi exibida. "A censura deve ter dado de ombros para isso, porque a importância que eles davam aos indígenas era zero. De fato, essa é uma questão que adquiriu importância nas últimas década com a visibilidade e luta dos povos originários por reconhecimento. Então as mudanças feitas pela autora fizeram a novela ser a frente do seu tempo"
Foi neste momento que Villari revelou a tentativa de uma nova versão da obra. "Essa novela sim pede e implora por remake. O Ricardo Linhares foi o primeiro a sacar isso e entregou um projeto de remake para a Globo, mas ninguém deu bola", disse, sem dar detalhes sobre o caso.
Vincent perdeu espaço na gestão de Silvio de Abreu, mas não deixa se claro se foi ele ou José Luiz Villamarim que engavetou o projeto. O próprio novelista chegou a escrever uma novela das nove ao lado de Maria Adelaide, A Lei do Amor (2016), que foi um fiasco de audiência e motivo de briga entre a autora e o então diretor de dramaturgia, Silvio de Abreu.
Ricardo Linhares
Linhares é um autor respeitado na Globo e responsável por várias obras. Ele já foi parceiro de Gilberto Braga (1941-2021) e de Aguinaldo Silva e seu último trabalho autoral foi em Babilônia (2015). Desde então, o dramaturgo fez diversas supervisões, como em Rock Story (2016), Deus Salve o Rei (2016), Amor de Mãe (2019) e, mais recentemente, Fuzuê (2023).
Neste período, Ricardo chegou a ter uma sinopse aprovada para o horário das 21h, que ele escreveria ao lado de Maria Helena do Nascimento. Mas a trama acabou reprovada e foi engavetada, com a autora sendo remanejada para uma produção das sete, ao lado de Izabel de Oliveira. Neste momento, não há projeto para Linhares na Globo.
Fogo Sobre Terra
Fogo Sobre Terra conta a história dos irmãos Pedro Azulão (Juca de Oliveira) e Diogo (Jardel Filho). Os dois estão em lados opostos na pacata cidade de Divineia, que Diogo quer investir no progresso empresarial, enquanto o outro não aceita a imposição do parente no ritmo pacato que vive o município.
A novela sofreu nas mãos da censura, a ponto de Daniel Filho comentar em seu livro. “Até agora não sei porque Fogo Sobre Terra foi proibida (…) O Governo não gostou e cassou a produção sem dó nem piedade, talvez por enxergar semelhanças entre a história e a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que estava em pleno andamento.”
Um dos diretores da trama também concordou e cravou. “Fizemos três novelas em uma só: uma que foi escrita, outra que foi realizada e uma terceira que foi ao ar.”
Janete Clair chegou a desabafar. “É preciso dizer que não tem sido fácil escrever Fogo Sobre Terra. Por vezes o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. Em Fogo Sobre Terra, de uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram de minha máquina e não chegaram ao vídeo.”
Ainda assim, a produção foi um sucesso, marcando 52,2 pontos de audiência, o maior Ibope da faixa das oito da Globo até então.