Atriz trans de Mar do Sertão lamenta falta de referências na TV: "Angústia"
Aos 28 anos de idade, ela se jogou em oportunidade de viver papel cômico
Publicado em 29/12/2022 às 08:57
Jade Sassará vive a secretária Aleluia em Mar do Sertão. A atriz trans de 28 anos de idade é uma exceção na TV, que sofre com essa falta de representatividade. "A falta de referência faz a gente viver muita angústia. As referências fazem toda a diferença", disse ao GShow, portal de entretenimento da Globo na web.
Para ela, esse processo imaginário é carente de pessoas como ela. "Da gente imaginar o que a gente pode ser, o que a gente quer ser. Que corpos estranhos possam habitar lugares para além da violência. Possam habitar lugares de prosperidade, de amor. Lugares de humanidade. Que eu possa fazer a diferença na vida de uma pessoa trans, esteja onde ela estiver", almejou.
Para que a família a aceitasse, o processo não foi fácil. "Mas é um processo que ao longo do tempo foi nos aproximando. As pessoas, pela falta de referência, não sabem lidar com corpos estranhos. O primeiro momento é o luto, uma morte. Foi muito difícil para minha mãe, para o meu pai. A minha relação ficou quebrada com eles no início. Mas temos nos reaproximado", detalha.
Há quatro anos, Jade vivia em São Paulo e se reconhecia como uma pessoa não binária, usando pronome neutro. "Em 2020 eu comecei a usar nome feminino. Assim, tive mais uma mudança de nome. Essas transições são eternas. Uma das poucas coisas que eu consigo me reconhecer é na mutabilidade, na transmutação das coisas", afirmou.
Atriz aceitou o desafio em Mar do Sertão
Por seis meses, ela estudou Design de Som em Nova Iorque e ajudou a desenvolver seu talento para assinar várias trilhas sonoras de peças teatrais. Em Mar do Sertão, o convite a deixou um pouco intimidada, já que não se via como atriz da comédia.
"Diria até mais próxima do drama [seu estilo]. Mas o convite me instigou. Gosto muito de me sentir desafiada. Está sendo um prazer viver a Aleluia. Dou meu tom cômico de forma gostosa e fluída."
Hoje, comemora ajudar trans a ter representatividade na TV. "Mais velha, vivi a benção e a honra de cruzar o caminho de outras travestis, de outras pessoas trans em São Paulo, quando fui morar lá. Elas foram minhas referências e alimentaram a minha coragem para me afirmar e para me reconhecer como pessoa trans."