O Outro Lado do Paraíso

Flávio Tolezani fala sobre "transtorno absurdo" de Vinícius e elogia Walcyr Carrasco: "brilhante"

Delegado pedófilo foi condenado e acabou assassinado a facadas na cadeia


vinicius-outro-lado-do-para_bf93108c9d3d98676bc2d71b1ed0e8cc518da673.jpeg
Fotos: Divulgação/TV Globo

O julgamento de Vinícius (Flávio Tolezani) foi responsável pelo capítulo da maior audiência de "O Outro Lado do Paraíso" até aqui. A trama escrita por Walcyr Carrasco chegou a 46 pontos de média na última terça-feira (20).

O intérprete do personagem pedófilo falou com exclusividade ao NaTelinha sobre a doença de Vinícius e seu desfecho. "O fim do Vinícius foi perfeito", resumiu, sobre sua condenação por pedofilia e posterior assassinato a facadas na cadeia.

Para Flávio Tolezani, Vinícius tinha um nível máximo de doença. Algo que ele classifica como um "transtorno absurdo". Para chegar nesse tom, ele estudou a psicopatia e os psicopatas. "O estudo do comportamento deles foi fundamental. Muitos depoimentos, antes e depois, coisas foram chegando, o que acho que foi muito bom pra mim, o quanto esses caras não tem limites", analisou.

Confira a entrevista na íntegra:

Seu personagem casou com uma mulher não por amor à ela, mas sim por sua filha. Dito isso, qual nível de doença você acredita que Vinícius tinha por conseguir suportar um casamento de anos visando a enteada?

Flávio Tolezani - Conseguir casar visando a filha, é um nível máximo de doença. Esse cara tem um nível de transtorno absurdo. Tem que ter um grau muito elevado de autocontrole, de sordidez para conseguir 15, 16, 17 anos de tocar um casamento com esse objetivo tão fora do nosso alcance. É um doente mental.

Dentre outras questões, o psicopata precisa de álibi, precisa manter as coisas sob controle. Ele precisava do casamento para ir atrás de outras, outras vítimas, a partir do momento que ele não conseguia mais ter nada com a enteada. E também diante da sociedade, né? Esse modelo, padrão de família feliz. Entra num pacote de coisas que um psicopata precisa ter, para garantir que as coisas que ele planeje deem certo.

O julgamento foram dois dias intensos de gravações. É muito desgastante fisicamente, claro que mexe muito com a cabeça. De sair de lá com dor de cabeça

Flávio Tolezani

Você fez algum tipo de laboratório para o personagem? Que caso semelhante que você ouviu ou leu que mais te assustou nessa composição do Vinícius?

Flávio Tolezani - Muitos casos foram estudados por mim, pela direção. Muitos casos e pra mim o foco era estudar psicopatas, o comportamento desses caras que não dão valor pra nenhum outro indivíduo. Foram esses casos que estudei, criminosos famosos, que estão na bibliografia. E temos um vasto material desses personagens.

O estudo do comportamento deles foi fundamental. Muitos depoimentos, antes e depois, coisas foram chegando, o que acho que foi muito bom pra mim, o quanto esses caras não tem limites. Tipo de olhares que eles sabem que é ameaçador... Eles sabem que deixam a vítima com medo. Os comentários de que: 'esse olhar acontecia exatamente comigo', então, foi nesse sentido.

Lorena teve todos os indícios de que algo errado estava acontecendo... Ela apenas fechou os olhos ou o amor realmente cega?

Flávio Tolezani - É muito complexo, né? É um monte de coisa junto. A gente conversava muito sobre isso. Qualquer uma das escolhas acho que serve no resultado final. Até mesmo se o amor cega, até que ponto não é uma coisa quase inconsciente de querer fechar os olhos? Qualquer uma das alternativas leva ao mesmo resultado final. Ela foi levada por isso, pelo comportamento ardiloso (do Vinícius), que manipula as pessoas.

Vinícius não parecia ter noção de que era doente e apertou aquele "famoso botãozinho" no final de seu julgamento. A que você credita o comportamento de seu personagem atribuindo a culpa a si e humilhando até sua mulher na parte final do julgamento?

Flávio Tolezani - O fato do Vinícius ter tirado a máscara no final do julgamento tem um sentido muito claro pra mim. Esses caras precisam estar por cima, eles se acham muito melhores. Até chegar o ponto de contar como tudo foi feito, conseguir foco, a atenção das pessoas e ter na cabeça que é melhor. Ele manipulou todo mundo até aquele momento.

Posso até citar um caso muito conhecido, que é Ted Bundy, que foi um assassino, que tem uma trajetória que não dá pra acreditar. Ele tinha fãs... Muitas mulheres se tornaram fãs dele. E ele foi negando até o final mesmo diante das evidências e aí depois da condenção, ele deu uma entrevista contando isso, como ele fazia, como agia, como ele fisgava as vítimas e agia a partir daí. Faz parte desses caras, como um último recurso para se colocar acima dos outros e abrir tudo.

Como foi para você gravar uma sequência dessas? Fez algum ritual depois para se livrar da energia pesada?

Flávio Tolezani - A sequência final, ainda teve a morte... Vamos por tudo como uma sequência só. O julgamento foram dois dias intensos de gravações. É muito desgastante fisicamente, claro que mexe muito com a cabeça. De sair de lá com dor de cabeça, é normal em qualquer atividade física ou intelectual de muito tempo.

Tem um lado que é um personagem, um ator. As coisas são completamente diferentes, então é fácil separar. O que resta depois é o desgaste físico. Uma dorzinha aqui ou li, por conta do trabalho corporal. Não digo que é um ritual, mas digo, exercícios para melhorar o corpo... Só dessa forma eu resolvo.

Flávio Tolezani fala sobre \"transtorno absurdo\" de Vinícius e elogia Walcyr Carrasco: \"brilhante\"

O que você conversou com seus filhos sobre a trama da pedofilia que abordaria na novela?

Flávio Tolezani - Tenho uma filha de 13 anos, quase fazendo 14. Foi uma conversa muito franca, muito simples, ela tem uma cabeça muito boa. De contar o que aconteceria, o que meu personagem faria. Tinha a preocupação de ela ver o que tava acontecendo em cena... É bom até pra abrir um canal de conversa com ela, nunca tinha tido. Foi tudo muito bom.

O que achou do fim do seu personagem e como foi trabalhar mais uma vez com Walcyr Carrasco?

Flávio Tolezani - O fim do Vinícius foi perfeito. A Justiça foi feita quando ele foi condenado, foi preso. É isso que tem que acontecer. É isso. Perfeito o desfecho, depois ainda veio a morte que aconteceu no presídio, o que é ótimo dramaturgicamente. É genial. Não veria outra saída.

Do ponto de vista da vida real, claro que isso tá errado. Isso acontece de fato, os presos tem sua própria justiça lá dentro. Isso só revela um sistema carcerário falido e que eles comandam lá dentro. E os agentes são coniventes ou tem medo. É um desfecho que faz uma relação com a realidade. Mas não é assim que a justiça tem que ser feita.

O que dizer do Walcyr? Brilhante o que ele faz. Desde "Verdades Secretas"... Os personagens dele são muito complexos, e para o ator, é o material que a gente quer.

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado