Publicado em 14/08/2024 às 14:44:00,
atualizado em 14/08/2024 às 16:25:22
Após 32 anos à frente do Skank, Samuel Rosa deu início à sua carreira solo em 2024. Em entrevista ao programa Na Palma da Mari, da CNN Brasil, o cantor falou sobre seu processo de criação e abordou a relação com a paternidade e o futebol.
"Eu me patrulho muito pra não cair nesse lugar do tiozão, de julgar a música que meus filhos ouvem, tento entender que agora é a vez deles. E como eu acho que na minha geração a gente sofreu esse tipo de abordagem, tipo 'que porcaria é essa que você tá ouvindo e tal', as pessoas mais velhas torciam o nariz. E era aquela geração da qual eu com o Skank, Gabriel, o Pensador, Cidade Negra, Raimundos, O Rappa, tanta gente fez parte", comentou o artista.
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"Tem mesmo essa questão geracional, mas, por outro lado, também não sou daqueles que dizem que o novo é sempre melhor a qualquer custo. Muitas vezes não. Muitas vezes a mudança infelizmente, não é pra melhor. O moderno não é melhor do que aquela outra parada meramente porque é moderno ou meramente porque é de agora. Há que se ter também essa ressalva, né? Algum tipo de critério", disse Samuel Rosa em conversa com Mari Palma.
"Eu acho que houve uma involução na forma de consumir música, como se a gente voltasse a comer com as mãos, abandonasse os talheres. Vamos comer com a mão de novo. Eu acho que a gente tem que andar pra frente, tem que melhorar tudo. Por exemplo, eu me lembro de mostrar alguma coisa para Ninoca [filha mais velha] no carro e ela dava o skip em todas as músicas. Falei: 'Minha filha, mas você não ouve a música?'. E ela respondeu: 'Ninguém escuta música até o final'. Ela falou que aquilo era quase uma regra. Porque é isso, é audiência. Esse mundo supersônico que a gente vive hoje, muito estressado, muita informação. É claro que isso não resulta em qualidade", refletiu o cantor.
"Eu acho que a música é entretenimento, mas também está ali para constituir uma educação, uma visão de mundo. Ela é educativa, ela é pedagógica, e você não vai aprender nada ouvindo uma música de um artista, um minuto junto com uma dancinha e tal. É um contexto e um contexto. Com Beatles ou com o rock anos 80, por exemplo, você ficava sabendo as agruras daquela juventude, o que se passava na juventude. Você pega um Tábua de Esmeraldas, um Transa, do Caetano, um disco dos Secos e Molhados do início da década de 70, aquilo te traz uma cena para um contexto e você aprende sobre aquilo que o cara falava, como é que ele pensava naquela época, como era, o que era valor, o que não era. Então essa é a minha birra com a forma de consumo de música hoje", admitiu Samuel.
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Na entrevista à CNN Brasil, que será disponibilizada na próxima quinta-feira (15), às 20h, Samuel Rosa falou como vê o processo de criação. "Eu falo que há um pacto nefasto entre artista e público que contamina a parte criativa que é 'eu não mudo e você não me abandona'. E o cara fica ali tocando 'chacudun' uma vida inteira, quando na verdade isso é desperdiçar uma atenção que já recaiu sobre você e o pessoal já está te olhando. Então pode haver uma estranheza inicial, mas se você conseguir trazer o público para uma outra viagem, que é a sua mais verdadeira, porque você já não é aquele cara lá dos anos 90, aí é um golaço, né?", disse.
"Então eu acho que é mais perigoso e mais arriscado, mas é mais verdadeiro também. Eu me lembro que quando a gente, no meio daquele turbilhão de Garota Nacional, Partida de Futebol, Pacato Cidadão, lançamos Resposta, uma música intimista violãozinho, voz e violão. E para nós aquilo era uma espécie de trunfo, a gente não estava engessado naquele formato. Mas na época o diretor da gravadora, mudou o single, porque não estava sendo pedida na rádio", revelou Rosa.
O famoso também refletiu sobre a paternidade. "Acho que cuidar do outro é das coisas mais nobres da vida. Não estou falando outro necessariamente de filho, mas da mãe, do pai, do irmão, do amigo. É prover bem-estar. É quando a única recompensa é ver o outro bem. E isso com a criança você vive intensamente. E eu vejo que apesar de ser um recomeço, o que eu faço pela Ava [de 4 meses] hoje não é ser pai de novo, porque eu nunca deixei de ser pai. É um recomeço e tal, mas já fui batizado com a paternidade. É mera continuidade, acho que fico ainda mais apaixonado pela bela paternidade", afirmou.
"Me preocupa a nossa dificuldade em criar uma nação que olhe de forma igualitária para cada indivíduo, para cada ser que nasce nesse Brasil, que nasce nesse território. É uma coisa que a gente não sabe, cuidar e olhar e respeitar todo mundo do mesmo jeito", analisou Samuel.
Sobre outra paixão, o futebol, Samuel Rosa foi bem sincero. "Eu sou repreendido a todo momento: 'Pai não pode falar mais assim. Sabe essas coisas que ficava gritando no Mineirão? Não pode mais não', o Juliano me diz [filho mais velho]. Eu fui até proibido de ver jogo de futebol na casa de uma amiga do Juliano porque ele diz que viro um ogro quando vejo futebol, que falo coisas absurdas. Então estou aprendendo com eles, já melhorei muito e ainda bem", confidenciou.
"O futebol está chato. É muita simulação hoje, começa o jogo e o jogador encontra com outro, o cara fica, dá três cambalhotas para o lado, parece que está morrendo, agonizando ali, fingindo uma dor que não está sentindo. Devia ter uma forma de coibir esse tipo de encenação, que está prejudicando muito o futebol. Eu já fui defensor do VAR, hoje menos, acho que está burocratizando demais. E quando o juiz vira protagonista do espetáculo, alguma coisa está errada", concluiu o artista.
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