Gigante das artes

Ney Latorraca faz 80 anos, revisita o passado e lamenta perda dos amigos: "O ator só acaba quando morre"

Veterano não faz televisão desde 2019, quando participou de um episódio do humorístico Cine Holliúdy

Ney Latorraca completou 80 anos na quinta-feira (25) - Foto: Markos Fortes/Divulgação
Por João Paulo Dell Santo

Publicado em 27/07/2024 às 17:40:00,
atualizado em 27/07/2024 às 18:58:12

Afastado da TV desde 2019, quando fez uma participação em Cine Holliúdy, e sem fazer uma novela inteira há quase duas décadas, quando integrou o elenco de Negócio da China (2008), Ney Latorraca completou 80 anos na última quinta-feira (25).

Em entrevista ao Gshow, o ator falou sobre como se sente ao atingir essa marca. "Até hoje estou no lucro. Não sei nem explicar como me sinto nessas datas redondas. Dizer que não sente nada é mentira. A gente sente o corpo. Não tem mais aquela vivacidade. Dar três voltas na Lagoa não dá mais. A gente fica querendo menos e vivência todas as etapas", comentou Ney Latorraca.

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"Ser eclético na arte é uma delícia para mim. Não é aquela coisa acomodada no sentimento. É sempre uma coisa de risco, mas de nível. As comédias, os musicais... Tudo é uma maneira de eu me exercitar. Mesmo com 80 anos, me sinto como se estivesse na escola de teatro, começando tudo de novo", afirmou o artista, que deu vida na televisão a tipos icônicos, como o Barbosa da TV Pirata e o Conde Vlad de Vamp.

"[O desafio] me mantém vivo! Claro, tem fases que estou com preguiça, que quero estar na minha casa. Tenho preguiça. O conforto que tenho conquistei com o meu trabalho", brincou Ney, que mora em uma cobertura em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro, com seu companheiro, o escritor, ator e diretor Edi Botelho, 64.

"As pessoas falam que estou muito retraído, dentro de casa. Já fui arroz de festa. Eu gosto de estar na minha casa. Sou muito sincero. A pessoa convida, eu digo que não posso ir. E quando perguntam por que não vou, digo simplesmente: 'Porque não quero'", disparou.

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No momento, ele dedica boa parte do seu tempo revendo personagens que fez em produções que estão no Globoplay, mas não gosta do que assiste. "Eu não tinha tempo de ver e hoje faria tudo diferente. Sou muito crítico. Me questiono porque fiz aquilo. Porque não fiz menos... Minha exuberância me leva para um caminho de realização que se eu danço tango, danço mesmo. Se é para chorar, eu choro. Vou com tudo! É uma delícia isso", declarou.

"Sabe que de vez em quando eu me olho no espelho e vejo rugas que eu não conhecia um dia antes? Elas aparecem de repente, quando olho para aquele espelho maior, com lente de aumento. Mas que loucura! Olho e me pergunto: 'O que é isso? Eu não tinha!'. Mas têm dias que me olho e falo: 'Você está muito bem!'. Também disfarço, né! Ponho um boné, um óculos escuros, e pronto!", brincou Latorraca.

Ney Latorraca fala sobre morte e perda dos amigos

No papo, Ney Latorraca revelou que criou um ritual próprio antes de dormir para amenizar a dor de perder os amigos. "Deito, rezo um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e começo a pensar nas pessoas que foram embora. Numa boa, sabe. Aí, vou indo, vou indo e pego no sono. Sonho muito com eles", confidenciou.

De todos as perdas, a morte de Marília Pera, em dezembro de 2015, foi a que mais mexeu com ele - a atriz é a sua madrinha do teatro e, durante 11 anos, o dirigiu junto com Marco Nanini na peça O Mistério de Irma Vap.

"Fiquei muito mal com sua morte. Fiquei de luto, triste. Eu ligava para a Marília todos os dias para falar as mesmas coisas. Falava sobre as peças que eu fazia e ela dizia: 'Já reparou que quando você liga para mim, só você fala?'. Eu falava: 'Tá bom, não vou ligar mais para você'. E ligava um minuto depois", relatou.

Ao olhar para o passado, Ney Latorraca disse que valeu a pena. "Ele [o Ney menino] apostou e deu certo. Valeu a pena ter feito tudo isso com a maneira de ser como profissional. Sou um apaixonado pelo que faço no cinema, no teatro e na televisão. Tenho orgulho de ter sido um ótimo filho, um bom amigo e um bom ator. Mas ator só acaba quando morre, né?", filosofou o veterano.



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