Publicado em 30/05/2024 às 06:00:00,
atualizado em 30/05/2024 às 15:25:45
Susana Vieira contribuiu, com seu desempenho como Cândida na novela Escalada (1975), para a promulgação da Lei do Divórcio, nos anos 1970. Essa é a percepção do biógrafo Mauro Alencar, especialista em teledramaturgia que assina com a atriz o livro Senhora do Meu Destino, lançado recentemente pela Globo Livros.
Segundo o autor, Susana Vieira foi alçada ao posto de estrela na TV ao fazer de sua personagem um sucesso popular. O drama do casamento fracassado de Cândida comoveu a audiência da novela de Lauro César Muniz e impulsionou uma mudança social sobre o tema. Na época, só havia o desquite, que, entre outros direitos negados, não permitia a constituição de um novo casamento.
+ Em livro, Susana Vieira critica imitação de Dani Calabresa: "Crueldade"
VEJA TAMBÉM
“Você não tem ideia do furor que isso causou em 1975”, relembra Mauro Alencar, em entrevista exclusiva ao NaTelinha. “A mídia explorou esse jogo entre ficção e realidade ao máximo. E isso chegou ao Congresso Nacional. Conclusão: dois anos depois, era aprovada a Lei do Divórcio no Brasil. E Susana Vieira conquistou todos os prêmios.”
O recém-lançado livro também dá destaque a outras célebres personagens, como Nice, de Anjo Mau (1976), Marina, de A Sucessora (1978), e Branca, de Por Amor (1997). Para Mauro, a forte interpretação da atriz nesses e em tantos outros papéis tem relação com a vida na intensa Argentina, onde passou parte da infância.
Toda a trajetória de Susana é passada a limpo, do convívio com a família, ainda menina, à carreira de sucesso na TV e nos palcos. A exposição de sua vida pessoal, as paixões, os memes, “tretas” com outros famosos e a forma como encara, aos 81 anos, o diagnóstico de leucemia autoimune também têm espaço.
Para a biografia, não foram feitas entrevistas convencionais, mas “encontros existenciais, artísticos e sociais”. O título, clara referência à novela Senhora do Destino (2004), estrelada por ela, foi uma escolha do editor Guilherme Samora. “Resume de maneira absoluta a vida e obra artística de nossa biografada”, aponta Mauro.
NaTelinha: Como foi o trabalho desenvolvido para a biografia? Quantas foram as entrevistas e quanto tempo todo esse processo durou? Mauro Alencar: Foram dez anos adensando o nosso relacionamento. Fui conhecendo cada vez mais o processo criativo de Susana Vieira e sua relação com a vida cotidiana, com os familiares, amigos, com a sociedade. Nesse período eu estava na Globo, desenvolvendo diversos projetos, com inúmeros trabalhos, viajando muito também (fui mais de uma vez para a Coreia do Sul e China!). Além disso, a minha vida acadêmica, congressos pelo Brasil e no estrangeiro, apresentações na Academia Brasileira de Letras... E tudo isso, claro, só foi aprimorando o nosso trabalho. Do outro lado, Susana sempre extremamente ativa com novelas, teatro, comerciais, eventos, etc. Depois, ela mora no Rio de Janeiro e eu em São Paulo (ainda que eu viva muito no Rio também). Dentro de toda essa viagem, esse mergulho no mar de sentimentos, emoções e acontecimentos que é Susana Vieira (e aqui eu tomo emprestado o encantador conto de Clarice Lispector, As Águas do Mundo). Sinceramente, não parei para pensar ou contar quantas foram as entrevistas. Joguei-me no mar de emoções que é Susana Vieira, separei a Sônia Maria (seu nome de batismo) da atriz – estrela e diva Susana Vieira – e fui avante! E para ser mais exato, não foram entrevistas convencionais e sim encontros existenciais, artísticos e sociais. NaTelinha: Quais são suas principais lembranças dessa convivência? Houve algum episódio ou momento especial para você? Mauro Alencar: A maneira intensa como ela descreve ou conta cada episódio da sua vida, os detalhes da criação de suas personagens atreladas ao cotidiano pessoal, profissional e social. Um momento muito especial foi o relato de sua relação com a mãe e o pai, a base de sua personalidade. Também particularmente especial foi compreender as filigranas de sua construção artística e a trajetória da formação da atriz, depois alcançando o posto de grande atriz; a consagração como estrela e, finalmente, diva aplaudida no teatro antes mesmo de começar a atuar. Além disso, o convívio com os cachorrinhos e os lanches saborosos com o bom café oferecidos em cada encontro! NaTelinha: Qual fato da trajetória da Susana mais te surpreendeu? Houve alguma grande descoberta sobre a atriz, alguma passagem da vida ou da carreira que você só soube no trabalho como biógrafo? Mauro Alencar: Sinceramente, eu já sabia quase tudo sobre Susana Vieira. Afinal, acompanho sua carreira desde Pigmalião 70 [novela que marcou a estreia da atriz na Globo, em 1970]. E o que não sabia, anterior a essa época, me foi contado pelas pioneiras Dulce Santucci e Ivani Ribeiro [autoras de novelas]. Depois, já na Faculdade de Comunicação (FAAP), mestrado e doutorado (USP), fui debruçando-me cada vez mais em sua trajetória tão emblemática na indústria cultural. Então, eu tinha algumas obsessões como desvendar a questão do nome da irmã que ela tomou para si; o seu romance com o ator Rubens de Falco (que eu também adoro!), misturando realidade e ficção e a maneira como ela construiu a sua carreira. Ou seja, esses detalhes, para um profissional como eu, que sou fascinado com a construção da indústria do entretenimento, onde Susana Vieira tornou-se um ícone, é como fazer um “pós-doutorado”.
NaTelinha: A Cândida, de Escalada, é uma das personagens mais importantes, mas talvez pouco lembrada entre tantos papéis de destaque que vieram depois. Por que esse trabalho marcou a carreira da atriz? Quais foram os diferenciais? Mauro Alencar: Sim, pouco lembrada porque trata-se de uma novela de 1975, produzida em preto e branco, e sabemos que o Brasil não prima por cultivar a sua História. Mas a personagem Cândida alavancou em definitivo a carreira de Susana Vieira ao posto de grande atriz protagonista. Basta dizer que foi a primeira mulher a beijar Tarcísio Meira na era da moderna telenovela brasileira e, junto com o grande ator, foram coroados “Rei e Rainha da TV brasileira” por Silvio Santos. Na questão social, Cândida “simplesmente” impulsionou a Lei do Divórcio no Brasil. A personagem Cândida é uma roceira, uma fazendeira cheia de vida e de graça em sua charrete, muito sedutora. Casa-se com Antônio Dias (Tarcísio Meira), conhece a ascensão socioeconômica e aos poucos vai transformando-se numa mulher da sociedade em função do convívio com a vida urbana. E, claro, enfrenta uma violenta crise conjugal. Isso mexeu com todo o Brasil. Você não tem ideia do furor que isso causou em 1975! A protagonista feminina em briga conjugal com Tarcísio Meira! A mídia explorou esse jogo entre ficção e realidade ao máximo. E isso chegou ao Congresso Nacional. Conclusão: dois anos depois era aprovada a Lei do Divórcio no Brasil. E Susana Vieira conquistou todos os prêmios. Lembro de minha mestra Helena Silveira (pioneira cronista da TV, na Folha de S. Paulo) comentar comigo a importância do detalhe na composição da personagem de Susana, o cuidado que ela teve em cada fase da novela e da personagem que foi da vida rural à vida urbana de maneira cada vez mais intensa, mostrando todas as peculiaridades em diferentes fases da vida, em diferentes contextos sociais e econômicos. E ainda libertando - se de um casamento falido em plena ditadura militar!
NaTelinha: A Branca de Por Amor se consolidou como uma das maiores vilãs da TV. Quais fatores fizeram com que essa personagem sobrevivesse no imaginário popular mesmo após décadas? Mauro Alencar: A Branca é uma vilã por ser antagonista da heroína da história, Helena (papel de Regina Duarte). Mas Branca fazia críticas que, na maioria das vezes, todos nós queríamos fazer. Ou seja, a personagem tornou-se uma espécie de cronista sem filtro do nosso cotidiano (em que pese as necessárias situações folhetinescas e dramáticas). E tornou-se ao lado de Odete Roitman de Beatriz Segall, uma das vilãs mais bem construídas e complexas da história de nossa teledramaturgia. Daí ter sobrevivido no imaginário popular até hoje. O período que Susana viveu em Olivos, município de Buenos Aires, colonizado por ingleses que se misturaram à estética argentina, muito contribuiu para moldar a verve interpretativa latino-americana de Susana Vieira. E grande parte do sucesso de Branca vem dessa origem geográfica. NaTelinha: O livro também dá espaço a passagens polêmicas e memes da Susana. Acha que a figura midiática que ela se tornou contribuiu ou interferiu de alguma forma para a carreira da atriz? Mauro Alencar: Claro que sim! A ascensão artística de Susana Vieira misturada com a sua figura midiática sempre foi um objeto muito aprofundado de meus estudos. Isso é essencial para a manutenção do ecossistema artístico e da história social da arte. NaTelinha: Boni te define, na orelha do livro, como “o mais perfeito estudioso de nossa teledramaturgia e protetor incansável da preservação das telenovelas e de seus profissionais”. Sente que a nossa TV é carente dessa preservação? Mauro Alencar: Antes de mais nada, muita gentileza do Boni! Mas, sim, a TV é carente dessa preservação e manutenção de sua história como produtora de arte dramática. Foi isso inclusive que me fez criar meu próprio Acervo que, felizmente, encontrou morada no Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo. E cito também como exemplo três países que vou com certa frequência e que possuem o maior cuidado com a manutenção e divulgação de seu Acervo: Coreia do Sul, China e Japão. A TV NHK, em Tóquio, é um exemplo maior do retorno que a preservação e divulgação da arte audiovisual pode gerar para uma empresa, para a formação de novos profissionais e para a sociedade em geral, uma vez que um país só cresce e se expande com investimento na Arte, a exemplo da indústria do entretenimento dos Estados Unidos. Vilã não morreu Mulheres de Areia: Isaura tem reencontro emocionante com Raquel Estreou na TV aos 7 Lembra dele? Ex-ator mirim, Matheus Costa virou galã e bomba na web Ousada Mensagem divina Viralizou Anúncio Apaixonados Será? Especulações Eita! Vítima de rubéola Direto e reto É a vida Juntos há 3 anos O maior de todos Pingos nos is Luto Eita! Tatiana Tiburcio Monetização Aos 6 anos Entrevista exclusiva