Análise

Por que a mocinha de Amor Sem Igual não pode se converter?

Mocinha vai virar evangélica no final da novela


Cena de Amor Sem Igual com Poderosa andando na rua
Em Amor Sem Igual, Poderosa vai se converter - Foto: Reprodução

Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais nos últimos dias foi o desfecho preparado para a mocinha da novela Amor Sem Igual, da Record. Segundo os spoilers da trama de Cristiane Fridman, Poderosa (Day Mesquita) se converterá ao protestantismo no fim da história e abandonará a vida de prostituição e, por causa disso houve fortes críticas por parte dos usuários da web dando a entender que a decisão da autora foi uma espécie de imposição da emissora, ligada a Igreja Universal do Reino de Deus. Mas, pensando um pouco além da caixa, por que ela não pode se converter ao protestantismo?

O Brasil é o país em que os evangélicos mais crescem percentualmente em relação ao restante da população e estima-se que, em poucos anos, a religião predominante por aqui será o protestantismo. E precisamos ser honestos quando pensamos que praticamente nenhuma novela leva a sério a relação de fé que o brasileiro tem com este mote da crença no cristianismo - que, embora parecida, tem muitos pontos divergentes do catolicismo.

Precisamos lembrar que a Globo, maior produtora de teledramaturgia no Brasil, trata do catolicismo há muitos e muitos anos. Inclusive atualmente o Viva exibe a reprise de Mulheres Apaixonadas, folhetim de 2003 que mostrou as tentações de um padre para se manter na profissão de fé quando apaixonado por uma mulher. E não é só os católicos que são representados dentro da dramaturgia da emissora carioca, outras religiões também o são.

Por que a mocinha de Amor Sem Igual não pode se converter?

Vale lembrar que, em Joia Rara (2013/2014), um dos momentos mais marcantes da trama foi a oração feita pela menina Pérola (Mel Maia), que era a reencarnação de um monge budista, para a cura de seu avô Ernest (José de Abreu). Podemos citar ainda a atual produção do Globoplay, Desalma, que mostra de uma forma muito peculiar o universo da bruxaria, outra religião.

Quando a Globo decidiu tratar dos evangélicos em suas novelas, quase sempre foi com a caricatura equivocada e que em nada lembra a força da fé que a religião professa no Brasil. Seja em América (2005), com a falsa crente Creuza (Juliana Paes) ou até em Duas Caras (2009), que colocou a primeira música evangélica na trilha sonora de uma novela, mas que mostrava dois evangélicos completamente fora da casinha em seu fanatismo.

É bem verdade que o fanatismo faz parte do credo dos protestantes brasileiros e não se pode negar. Mas Silas Malafaia e afins não são os únicos representantes da religião no país e a segunda maior crença do Brasil precisa ser vista e representada nas nossas novelas porque faz parte da sociedade. Já passou da hora dos autores enxergarem as razões que levam pessoas simples a terem atos impensáveis em nome dessa religião, ao invés de apenas categorizá-los como loucos ou ignorá-los, como quase sempre acontece na dramaturgia.

Por que a mocinha de Amor Sem Igual não pode se converter?

Ninguém deve ser inocente ao pensar que a Record não tem interesses por trás dessa decisão criativa. Tanto tem que já liberou o QR Code na tela durante os capítulos de Amor Sem Igual, que leva o telespectador diretamente para o site do Templo de Salomão, sede da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil. Uma das maiores organizações evangélicas do país não iria perder a oportunidade de, ao evangelizar por meio da novela, indicar qual o melhor caminho para aqueles que querem se converter.

Independente dessa decisão controversa de fazer propaganda da Igreja dentro da novela, não se pode ignorar que o final de Amor Sem Igual é criativo e inédito na TV brasileira e é inegável que o folhetim pegou. Já tivemos novelas com personagens indo para o convento ou mesmo abraçando seu sincronismo dentro do espiritismo. Qual o problema de um personagem aceitar Jesus e virar evangélico? Qualquer um que veja isso como uma aberração na dramaturgia precisa assumir que sua opinião é apenas e exclusivamente preconceito. Nada além disso.

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