Sabia dessa? Há 45 anos, novela começou num canal e terminou em outro
Há 45 anos, uma esquecida novela percorreu um caminho incomum na história da televisão brasileira, estreando numa emissora e, posteriormente, sendo exibida em outra
Publicado em 23/07/2025 às 09:41
Uma esquecida novela de 45 anos atrás percorreu um caminho incomum na história da televisão brasileira: começou a ser exibida por um canal, que faliu, e teve sua produção retomada por outro.
Estamos falando de Drácula, da Tupi, que acabo virando Um Homem Muito Especial, pouco tempo depois, na Bandeirantes.
Durou pouco

Afundada em dívidas e com seus funcionários em greve, a Tupi praticamente não tinha salvação no início de 1980. Mesmo assim, a emissora preparava a estreia de duas novelas: além de Drácula, em 28 de janeiro, viria Maria Nazaré, em seguida. A primeira foi ao ar, com poucos capítulos exibidos. A segunda teve cenas gravadas, mas nem estreou.
Drácula era estrelada por Rubens de Falco, intérprete de Vladimir, o próprio Conde Drácula, que, nos anos 1920, deixava a Transilvânia e vinha ao Brasil para procurar seu filho, Rafael (Carlos Alberto Riccelli). Após encontrá-lo, se apaixona por sua nora, Mariana (Bruna Lombardi), que acredita ser reencarnação de seu único amor do passado. Paulo Goulart, Cleyde Yáconis e Isabel Ribeiro também estavam no elenco.
De acordo com o pesquisador Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, a ideia de contar a história do Conde Drácula na televisão nasceu após o diretor Walter Avancini constatar o sucesso do personagem Frank Langella na Broadway. “Com a ideia na cabeça, a Tupi, em sua fase decadente, resolveu fazer a novela, e o supervisor Álvaro Moya chamou Rubens Ewald Filho para escrevê-la. Após vários projetos que não foram adiante na emissora, enfim Rubens emplacava uma trama, justo na fase mais complicada da Tupi”, contou.
O canal, no entanto, passava por uma grave crise financeira, que culminou em seu fechamento, em 14 de julho daquele ano. Os artistas, técnicos e jornalistas entraram em greve no dia 25 de janeiro, por não terem recebido o pagamento referente a dezembro de 1979 – alguns não receberam, inclusive, o mês de novembro e o 13º salário. Os jornais nem divulgavam a programação da emissora, pois não se sabia o que seria exibido. No dia seguinte, a greve, que se iniciou em São Paulo, passou a ser geral, com adesão dos cariocas, complicando, ainda mais, a situação.
Sem opção, os poucos capítulos exibidos de Drácula passaram a ser reprisados; posteriormente, a novela foi tirada do ar. Outra trama, Como Salvar Meu Casamento, que estava na reta final, teve o mesmo problema e acabou saindo do ar, ficando sem final. No lugar das duas, entraram reprises de A Viagem (1975) e O Profeta (1977).
No dia 12 de fevereiro, sem qualquer condição de continuidade, a emissora demitiu todo seu elenco de teledramaturgia – incluindo aí os integrantes de Drácula, Como Salvar Meu Casamento e Maria Nazaré, além dos integrantes do programa vespertino Mulheres.
Nova versão
Alguns meses depois, no dia 6 de julho de 1980, a Band, na época ainda chamada de TV Bandeirantes, anunciou que produziria uma nova versão de Drácula, que seria chamada de Um Homem Muito Especial. O elenco seria praticamente o mesmo, bem como a direção, a cargo de Atílio Riccó, e a supervisão de Walter Avancini. Enquanto isso, a Tupi agonizava e sairia do ar alguns dias depois.
Uma grande festa foi realizada na badalada boate Gallery, na capital paulista, para lançar Um Homem Muito Especial. A trama estreou no dia 21 de julho de 1980 e seguiu sem as grandes complicações da breve versão anterior até 7 de fevereiro de 1981. Um fato curioso é que Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli deixaram a emissora pouco antes do final da trama e seguiram para a Globo, não finalizando suas participações.
Ainda no site Teledramaturgia, Nilson Xavier disse que, na Band, a novela ganhou menos cenários, mais nudez e violência e ainda mais atores. “Com o processo de criação dos mais impecáveis, Um Homem Muito Especial só não teve repercussão por ter passado por diversas fases desestimulantes. Consuelo de Castro terminaria de escrever a novela, que também teve capítulos escritos por Jaime Camargo, e transformou-a num bangue-bangue à brasileira”, comentou.
Foi um final melancólico para uma novela que começou num ambiente não menos conturbado.