Memória

Sabia dessa? Há 45 anos, novela começou num canal e terminou em outro

Há 45 anos, uma esquecida novela percorreu um caminho incomum na história da televisão brasileira, estreando numa emissora e, posteriormente, sendo exibida em outra


Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi em Um Homem Muito Especial
Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi em Um Homem Muito Especial

Uma esquecida novela de 45 anos atrás percorreu um caminho incomum na história da televisão brasileira: começou a ser exibida por um canal, que faliu, e teve sua produção retomada por outro.

Estamos falando de Drácula, da Tupi, que acabo virando Um Homem Muito Especial, pouco tempo depois, na Bandeirantes.

Durou pouco

Sabia dessa? Há 45 anos, novela começou num canal e terminou em outro

Afundada em dívidas e com seus funcionários em greve, a Tupi praticamente não tinha salvação no início de 1980. Mesmo assim, a emissora preparava a estreia de duas novelas: além de Drácula, em 28 de janeiro, viria Maria Nazaré, em seguida. A primeira foi ao ar, com poucos capítulos exibidos. A segunda teve cenas gravadas, mas nem estreou.

Drácula era estrelada por Rubens de Falco, intérprete de Vladimir, o próprio Conde Drácula, que, nos anos 1920, deixava a Transilvânia e vinha ao Brasil para procurar seu filho, Rafael (Carlos Alberto Riccelli). Após encontrá-lo, se apaixona por sua nora, Mariana (Bruna Lombardi), que acredita ser reencarnação de seu único amor do passado. Paulo Goulart, Cleyde Yáconis e Isabel Ribeiro também estavam no elenco.

De acordo com o pesquisador Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, a ideia de contar a história do Conde Drácula na televisão nasceu após o diretor Walter Avancini constatar o sucesso do personagem Frank Langella na Broadway. “Com a ideia na cabeça, a Tupi, em sua fase decadente, resolveu fazer a novela, e o supervisor Álvaro Moya chamou Rubens Ewald Filho para escrevê-la. Após vários projetos que não foram adiante na emissora, enfim Rubens emplacava uma trama, justo na fase mais complicada da Tupi”, contou.

O canal, no entanto, passava por uma grave crise financeira, que culminou em seu fechamento, em 14 de julho daquele ano. Os artistas, técnicos e jornalistas entraram em greve no dia 25 de janeiro, por não terem recebido o pagamento referente a dezembro de 1979 – alguns não receberam, inclusive, o mês de novembro e o 13º salário. Os jornais nem divulgavam a programação da emissora, pois não se sabia o que seria exibido. No dia seguinte, a greve, que se iniciou em São Paulo, passou a ser geral, com adesão dos cariocas, complicando, ainda mais, a situação.

Sem opção, os poucos capítulos exibidos de Drácula passaram a ser reprisados; posteriormente, a novela foi tirada do ar. Outra trama, Como Salvar Meu Casamento, que estava na reta final, teve o mesmo problema e acabou saindo do ar, ficando sem final. No lugar das duas, entraram reprises de A Viagem (1975) e O Profeta (1977).

No dia 12 de fevereiro, sem qualquer condição de continuidade, a emissora demitiu todo seu elenco de teledramaturgia – incluindo aí os integrantes de Drácula, Como Salvar Meu Casamento e Maria Nazaré, além dos integrantes do programa vespertino Mulheres.

Nova versão

Alguns meses depois, no dia 6 de julho de 1980, a Band, na época ainda chamada de TV Bandeirantes, anunciou que produziria uma nova versão de Drácula, que seria chamada de Um Homem Muito Especial. O elenco seria praticamente o mesmo, bem como a direção, a cargo de Atílio Riccó, e a supervisão de Walter Avancini. Enquanto isso, a Tupi agonizava e sairia do ar alguns dias depois.

Uma grande festa foi realizada na badalada boate Gallery, na capital paulista, para lançar Um Homem Muito Especial. A trama estreou no dia 21 de julho de 1980 e seguiu sem as grandes complicações da breve versão anterior até 7 de fevereiro de 1981. Um fato curioso é que Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli deixaram a emissora pouco antes do final da trama e seguiram para a Globo, não finalizando suas participações.

Ainda no site Teledramaturgia, Nilson Xavier disse que, na Band, a novela ganhou menos cenários, mais nudez e violência e ainda mais atores. “Com o processo de criação dos mais impecáveis, Um Homem Muito Especial só não teve repercussão por ter passado por diversas fases desestimulantes. Consuelo de Castro terminaria de escrever a novela, que também teve capítulos escritos por Jaime Camargo, e transformou-a num bangue-bangue à brasileira”, comentou.

Foi um final melancólico para uma novela que começou num ambiente não menos conturbado.

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