Autora da minissérie da Globo opina sobre nova versão de A Casa das Sete Mulheres
Livro que inspirou grande sucesso da TV em 2003 deve ganhar nova adaptação, pela HBO Max

Publicado em 20/06/2025 às 05:51,
atualizado em 20/06/2025 às 10:30
A autora da minissérie A Casa das Sete Mulheres, Maria Adelaide Amaral, opinou sobre a nova versão da história para o streaming. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha – a primeira parte da conversa foi divulgada na segunda-feira (16) –, a veterana escritora reagiu à notícia de que o livro de Letícia Wierzchowski, que inspirou a superprodução de 2003, viraria uma nova série, desta vez pela HBO Max.
Produzida e exibida pela Globo há 22 anos, A Casa das Sete Mulheres foi um grande sucesso de audiência e de crítica. No fim do ano passado, a coluna Play, do jornal O Globo, informou que a HBO Max, em parceria com a Boutique Filmes, faria uma série curta a partir do mesmo livro, adaptado agora por Ângela Chaves – criadora de Pedaço de Mim, da Netflix.
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“A Casa das Sete Mulheres não é Beleza Fatal”, crava Maria Adelaide, em referência à novela lançada pela HBO Max neste ano. “Beleza Fatal é uma novela que o Raphael Montes fez divinamente, com todos os exageros, mas tudo bem... Eles provavelmente vão comprar os direitos do livro, e a minissérie se tornou um sucesso exatamente porque nós saímos do livro.”
A trama da TV, escrita em parceria com Walther Negrão e dirigida por Jayme Monjardim, fez mudanças no romance de Letícia Wierzchowski e também trouxe referências de outro livro, Os Varões Assinalados, de Tabajara Ruas. Ambas as obras tratam da Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul no século XIX.
O fio condutor da minissérie era a paixão de Manuela (Camila Morgado) por Giuseppe Garibaldi (Thiago Lacerda), revolucionário italiano que se tornou combatente na Guerra dos Farrapos. Ela era sobrinha de Bento Gonçalves (Werner Schünemann), outro líder da Revolução Farroupilha, e pertencia a uma família em que as mulheres eram obrigadas a conviver com a guerra.

“A Casa das Sete Mulheres é um livro bonito, bem escrito, mas a trama se circunscreve àquelas mulheres que permaneceram na estância nos 10 anos da guerra. Ninguém daquela casa saiu para ir atrás de ninguém. No livro, a Manoela jamais deu para ninguém, jamais transou com o Garibaldi e morreu virgem aos 90 anos. Tanto que ela ficou conhecida em Pelotas como A Noiva de Garibaldi”, destaca a autora.
“Era tudo concentrado naquela estância. As mulheres ficavam a vida toda ali. Não teria condição de sustentar a minissérie com ela falando ‘Ai que saudade do Garibaldi’. Negrão disse: ‘Isso vai ser chato. Vamos precisar colocar a Manoela para ir atrás do Garibaldi. Esquece o que aconteceu e imagina o que poderia acontecer’. Essa história é nossa, pertence a nós e à Globo, porque foi um exercício de imaginação nosso.”
Maria Adelaide Amaral
A autora frisa que houve um grande investimento da Globo, principalmente nas sequências que retratavam a Guerra dos Farrapos. Uma das mais marcantes mostravam os lanchões de Garibaldi sendo transportados até o mar.
“Foi uma superprodução, com aquelas embarcações superpesadas. E, na hora da gravação, caiu a maior tempestade. Então, a equipe aproveitou tudo aquilo. Foi uma coisa linda, que não estava no roteiro. Aquela epopeia, na gravação, ganhou uma dimensão épica com todos aqueles raios e trovões. Isso aconteceu, foi aquele momento.”
“Eu duvido que a Max esteja disposta a botar a grana que a Globo botou. São outras condições, é outro momento. Sempre torço para dar certo, porque é tão sofrido o processo de se criar alguma coisa interessante e importante para a televisão. Mas não será uma superprodução como a que nós fizemos. Primeiro, porque não é a Globo. Segundo, porque não há mais, sequer na Globo, aqueles tipos de profissionais.”
Maria Adelaide Amaral
“Quanto mais material eu leio, mais possibilidade eu tenho de fazer um produto melhor”

Maria Adelaide Amaral começou a escrever minisséries depois de ser colaboradora em novelas e de assinar o remake de Anjo Mau em 1997. Ela foi uma das convocadas para apresentar histórias comemorativas no ano 2000, em meio às celebrações dos 500 anos descobrimento. “Hoje até seria politicamente incorreto. Em 1500, o Brasil já estava descoberto há muito tempo.”
O projeto apresentado foi A Muralha (2000), baseado no livro de Dinah Silveira de Queiroz. Outras obras que seriam levadas ao ar naquele ano acabaram canceladas, porque sairiam caras para a Globo. A de Maria Adelaide foi privilegiada porque a história já havia feito sucesso na Excelsior em 1960, em formato de novela.
“A Muralha fez um sucesso muito além do que a gente jamais poderia imaginar para uma obra que entrasse no ar depois da novela das nove. A partir daí, eu descobri qual era realmente o gênero que eu mais gostava na televisão, as minisséries.”
Maria Adelaide Amaral
A autora emplacou várias superproduções nos anos seguintes, “época das biografias autorizadas”. Ela festeja a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), há 10 anos, que afastou a exigência prévia de autorização para biografias. Para fazer JK (2006), por exemplo, Maria Adelaide viajou por dois anos pelo país a fim de convencer descendentes das personalidades retratadas na história.

“Não podia dar garantia nenhuma, só o meu nome e os trabalhos que eu fiz antes. Dizia que não iria escrever os capítulos para que as pessoas lessem, isso estava fora de cogitação. Eles teriam que confiar em mim, e não era todo mundo que confiava. Tinha gente que dizia: ‘Não quero que meu pai apareça na minissérie’. Então, não aparecia.”
Na mesma toada, ela fez títulos como Um só Coração (2004), Dalva e Herivelto: Uma Canção de Amor (2010) e Dercy de Verdade (2012). “A minissérie histórica precisava de um ano para fazer pesquisas, porque é durante a pesquisa que já começo a entrever as tramas e até a escrever as cenas. Quanto mais material eu leio, mais possibilidade eu tenho de fazer um produto melhor.”
Fora da Globo desde 2022, a escritora se dedica atualmente a projetos no cinema. Ela também tem trabalho no relançamento de seus antigos romances pela Editora Instante: Luísa, de 1986, voltou às livrarias em 2023; Aos Meus Amigos, de 1991, retornou em 2024; e agora é a vez de O Bruxo, publicado originalmente em 2000.