Porcina com Sinhozinho Malta

Final de Roque Santeiro, reprisado hoje, desafiou coautor, atriz e até o público

Último capítulo da novela foi ao ar nesta sexta-feira (4) no canal Globoplay Novelas


Regina Duarte e Lima Duarte em Roque Santeiro
Viúva Porcina (Regina Duarte) fica com Sinhozinho Malta (Lima Duarte) no fim de Roque Santeiro, o que gerou controvérsias nos bastidores - Foto: Divulgação/Globo

O final de Roque Santeiro, em que Viúva Porcina (Regina Duarte) fica com Sinhozinho Malta (Lima Duarte) e não com Roque (José Wilker), foi ao ar nesta sexta-feira (4), com o último capítulo da novela na reprise no canal Globoplay Novelas, na TV a cabo. Exibido há quase 40 anos, o desfecho desafiou o coautor da trama, a atriz, o público e até a ditadura militar.

Um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira, Roque Santeiro foi escrita por Dias Gomes (1922-1999) a partir de sua peça O Berço do Herói. Assim como a montagem no teatro, a trama foi censurada na TV em sua primeira versão, em 1975. Com o fim da ditadura em 1985, a atração finalmente pôde ir ao ar, com outro elenco e assinada com Aguinaldo Silva.

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Aguinaldo foi responsável pela maior parte dos capítulos. Já Dias, além de criador da história e dos personagens, reassumiu o texto na reta final. Enquanto o primeiro pretendia que a Viúva Porcina terminasse ao lado de Roque – desfecho que chegou a ser gravado, mas não foi ao ar –, o segundo optou pelo final da protagonista com o Sinhozinho Malta.

“Achava que a Porcina tinha que caminhar para o progresso, a mulher ambiciosa e vulgar se tornaria mais lúcida. Sempre encaminho as mulheres de uma maneira positiva, mas Dias Gomes tinha uma postura machista.”

Aguinaldo Silva em entrevista ao jornal Extra em 2010

O público da época também se disse frustrado com o desfecho. Pesquisa exibida pelo Fantástico, dois dias após o último capítulo, mostrou que 56% das pessoas ouvidas na enquete por telefone não haviam gostado do final. Alguns entrevistados compartilharam que queriam um desfecho romântico de Porcina com Roque, e que Sinhozinho Malta merecia uma punição por seus crimes.

A reportagem trouxe ainda parte da equipe da novela assistindo ao último capítulo na Casa de Criação Janete Clair. Regina Duarte opinou: “Me surpreendeu, porque eu sentia que a história toda caminhava para que ela terminasse com o Roque. Ela foi se tornando uma outra mulher ao longo dos últimos 50, 100 capítulos. Desde que o Roque chegou, ela foi se modificando”.

“De qualquer forma, não há como censurá-la por essa opção. Ela tem o direito de ser uma nova mulher hoje e escolher um homem que possa até parecer símbolo de um passado, de uma história ultrapassada na vida dela. Acredito que ela pode amar esse homem.”

Regina Duarte em fevereiro de 1986

Final de Roque Santeiro, reprisado hoje, desafiou coautor, atriz e até o público

Em outro momento do evento, Dias Gomes discorda quando Regina afirmou que Porcina e Roque formavam um par mais coerente para o desfecho. “Basta olhar na tela, a gente vê que um foi feito para o outro [Sinhozinho e Porcina]. Eles transmitem um tal magnetismo, que não tinha como. Eu quis fazer a Porcina ficar com o Roque, quem não quis foi a Porcina”, disse o autor.

“Roque representava um tipo de liberdade que a Porcina não estava preparada para desfrutar. Sinhozinho, além de ela ter uma relação afetiva muito intensa com ele, era um homem para a sua cabeça, realmente.”

Dias Gomes em fevereiro de 1986

Ele também explicou: “A novela deve terminar deixando o telespectador um pouquinho indignado, para que ele reflita sobre tudo o que foi mostrado. Se tudo acabar bem, como ele quer, aí as pessoas desligam a televisão, vão comer a sua pizza, tomar o seu chope, e acham que tudo acaba bem no final, que a justiça é feita, que os maus vão para o inferno e os bons vão para o céu. E, na realidade, não é assim”.

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Em cartaz com uma peça, Lima Duarte assistiu ao último capítulo de Roque Santeiro dos bastidores do teatro, ao lado de uma repórter, e se emocionou durante a entrevista. Já José Wilker (1944-2014) concedeu uma entrevista no dia seguinte e também demonstrou certa frustração.

“Acho que eles se completam mesmo, Porcina e Malta são as duas metades de um mesmo abacaxi. Eles tinham uma vida muito particular, criaram para eles um mundo muito recôndito, impenetrável. O Roque nunca conseguiu penetrar nesse universo. Independentemente das punições que os dois merecem, falo de amor. Estou [emocionado]. Não sabia que era esse o final.”

Lima Duarte em fevereiro de 1986

“Talvez eu quisesse mais da personagem. Talvez em alguma instância da minha cabeça, da minha sensibilidade, eu tivesse expectativa de que o Roque fosse o herói que eu imagino que devesse ser. O Roque foi o herói possível, a personagem possível. E desta personagem possível, eu gostei muito.”

José Wilker em fevereiro de 1986

Veja o final alternativo de Roque Santeiro, exibido pelo Fantástico em 1986:

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