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NaTelinha entrevista com exclusividade o autor Alcides Nogueira


“A decisão [de retirar da trama a impotência sexual de Conrado e o lesbianismo de Letícia] foi minha. Não quero criar polêmicas.”


De Desejo Proibido só deverá ficar o nome da protagonista: Laura. Adiantada em quase 5 semanas pela direção da Rede Globo, Ciranda de Pedra vai estrear já na próxima segunda-feira com cerca de 30 capítulos escritos e muito à base “de sangue” de Alcides Nogueira, que assina a produção.


A nova adaptação, que surgiu de uma sugestão da Globo ao autor, permitiu a Alcides Nogueira somar novos ingredientes como a classe média em ascensão da Vila Mariana, a efervescência de São Paulo em 1958 e a disputa de duas irmãs pelo mesmo homem, em meio a tantas crises de adolescência. Apesar disso, Alcides Nogueira achou melhor suprimir temas como a impotência sexual e o lesbianismo, porque a trama não seria exibida às 18 horas se ambas as temáticas fossem exploradas. “Não ficaria na superfície, no ôba-ôba. Procuraria tratá-los com profundidade”, afirma Alcides Nogueira.


Apesar de acreditar que a grande prospecção psicológica que fará dos personagens de Lygia Fagundes Telles e o retorno, no horário das 18h, à trama cheia de emoção e verdade serão suficientes para cativar os telespectadores, Alcides considera que ninguém coloca no ar um produto para não ser sucesso. Ainda assim “a Globo sabe que existe esse imponderável!”.


A partir de agora, você confere uma entrevista exclusiva com o autor Alcides Nogueira, feita por Bruno Cardoso para o NaTelinha:


 Depois de duas minisséries de época, desenvolvidas com Maria Adelaide Amaral, você escreve de novo uma trama de época. Gosta mais de desenvolver esse tipo de tramas?


Alcides Nogueira:
Gosto das tramas de época, porque o aspecto histórico me fascina. É um pano de fundo que acolhe muito bem o folhetim. E talvez seja um contraponto à minha escrita teatral, sempre contemporânea.



  De onde surgiu a necessidade de explorar o universo de Lygia Fagundes Telles e de sua Ciranda de Pedra? A Lygia te deu "carta branca" para fazer as modificações que quisesse na obra dela? Foi uma encomenda específica da Globo?


AN:
Não diria que foi uma encomenda, mas uma sugestão da Globo. Depois de "JK", eu fui escalado para uma novela das 18 horas e comecei a pensar em um bom tema. A emissora me sugeriu "Ciranda de Pedra". Como o universo da Lygia bate muito fundo em mim, gostei. Mas desde que eu não fizesse um remake da versão de 1981. O Teixeira Filho foi muito feliz em sua adaptação desse romance, que é bem complexo. Sua novela fez muito sucesso. Mas, em vez da visão social dele, eu estava interessado na prospecção psicológica que Lygia faz de seus personagens. Conversei com ela, e Lygia, generosa como é, me deu, sim, carta branca. Temos uma relação de respeito mútuo. Fiquei muito lisonjeado com isso.



  É mais difícil criar uma trama a partir de uma obra já existente ou criar uma trama de raiz?


AN:
Criar uma trama é sempre difícil, mesmo que você tenha uma matriz. Mesmo uma matriz fecunda, como o romance de Lygia Fagundes Telles. Eu já passei por isso no teatro, quando levei para o palco o "Feliz Ano Velho", do Marcelo Rubens Paiva. A partir do momento que você "assume" o universo de outro autor, ele passa a ser seu também... muitas vezes com enfoques totalmente diferentes. Uma obra derivada é sempre nova, com suas próprias características. Daí, as dificuldades. O que muda é o olhar sobre o universo enfocado.


  Em traços gerais, o que muda, principalmente, da primeira versão de Ciranda de Pedra para essa que você está idealizando?


AN: A primeira mudança foi trazer a trama de 1947 (como no livro e na primeira adaptação) para 1958. Só isso já se reflete, e muito, no comportamento dos personagens, e no desenrolar da história. Além disso, o livro da Lygia é vertical. Para conduzir uma novela, que é exibida durante meses, eu horizontalizei a trama principal, criei novos núcleos (como a Vila Mariana, por exemplo, que é apenas citada no romance), incluí humor, fui beber no cinema noir, e abusei, sem pudor algum, do folhetim, que sempre é a base saudável de uma novela. Revi muito os filmes de Douglas Sirk, de Fueller... dos italianos. Reli Balzac, Flaubert... E Machado, que sempre soube que o folhetim era essencial! Tanto que meu Natércio é quase um Dom Casmurro.



  Como serão desenvolvidas, especificamente, a questão do verdadeiro pai de Virgínia e o amor de Laura e do dr. Daniel?


AN: Na minha versão, há duas situações emblemáticas: o triângulo formado por Natércio, Laura e Daniel... e o rito de passagem, da adolescência para a maturidade, de Virgínia. Esses dois pontos nevrálgicos se entrelaçam o tempo todo. Virgínia é fruto da relação de Laura com seu médico Daniel, e isso mudou completamente a relação dela com o marido Natércio. Virgínia ama Conrado, mas é obrigada a disputá-lo com sua irmã Otávia. Natércio, mesmo de maneira prepotente e arrogante, ama Laura, mas duela o tempo todo com Daniel. São situações que se espelham. É como se Virgínia tivesse de achar uma saída para a rejeição, e Laura buscar uma saída para ser livre. Não podemos nos esquecer que Laura sofre de graves distúrbios emocionais, e Virgínia é uma adolescente que ainda está descobrindo o mundo. São momentos cruciais.  


  Você confirma a informação de que Laura, personagem de Ana Paula Arósio, vai morrer em torno do centésimo capítulo ou existe a possibilidade de, em caso de o público se identificar bastante com ela, poupar o personagem?


AN:
Não posso afirmar, com certeza, que Laura morrerá exatamente no centésimo capítulo. Mas morrerá. A trama pede isso. No livro de Lygia, Daniel pratica a eutanásia e depois se suicida. Na versão de Teixeira Filho, Laura morria em decorrência de um tumor. Não vou manter nenhuma dessas histórias. Laura irá fenecendo. Sua loucura a levará à morte. Mas o fato de Laura morrer não significa que ela saia da história. Ao contrário: a memória dela, a reavaliação que os outros personagens farão da sua trajetória, tudo isso irá trazer novos e, espero, emocionantes, elementos à trama. Além disso, Virgínia fica sabendo que Daniel é o seu pai biológico. É uma situação dura, difícil de ser enfrentada por ambos, ainda mais sob o constante bombardeio de Natércio. Dá caldo!


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