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Entrevista exclusiva com Alcides Nogueira - Continuação


 Por que a decisão de retirar da trama a impotência sexual de Conrado e o lesbianismo de Letícia?


AN: A decisão foi minha, sim. Não quero criar polêmicas. Tenho esse direito. E falo como um escritor que já polemizou muito no teatro e na televisão. Quando Lygia escreveu o livro, em 1954, esses temas eram muito impactantes. Hoje, acho mais importante Conrado ser um homem dividido emocionalmente, sendo obrigado a escolher entre Virgínia e Otávia, e não conseguindo... além de não ter coragem de fugir dos caminhos que o seu pai lhe impõe... do que ser impotente. Quanto ao lesbianismo de Letícia, sinceramente acho que não é a orientação sexual de uma pessoa que faz a diferença. Letícia não é ética, batalhadora, honesta por ser homossexual. Mas porque tudo isso faz parte do seu caráter. Ao contrário de seu irmão Conrado, ela procura se libertar e levar sua vida. Também pesou na minha decisão a questão da classificação etária: "Ciranda de Pedra" não seria exibida às 18 horas se eu explorasse esses temas. Eu não ficaria na superfície, no ôba-ôba. Procuraria tratá-los com profundidade. A história não perde nada com a supressão. Lygia concordou totalmente comigo.



  Que outras histórias importantes você destacaria na trama?


AN: Há vários: além da aristocracia do Jardim Europa, vou mostrar a classe média em plena ascensão na Vila Mariana; o Brasil que está mudando totalmente em 1958, com Juscelino na presidência, e a euforia que tomou conta do país (na economia, nas artes, nos esportes); vou retratar os imigrantes como pilares básicos de nossa economia e cultura... e muitos outros pontos. Mas o foco principal da novela são as "pequenas tragédias"... o olhar sobre o quotidiano das pessoas. Isso é lindo no livro da Lygia, e não pode ser deixado de lado.



  Você ficou realmente incomodado com a possível saída de Marcello Anthony para a trama do João Emanuel Carneiro, A Favorita? Foi difícil a escalação geral do elenco?


AN: Fiquei muito incomodado. Mas tinha a palavra do Marcello, de que ele faria "Ciranda de Pedra". O convite foi feito quando ele estava em férias, em Nova York. Já trabalhei com o Marcello várias vezes (a última foi em "Um Só Coração"). Tenho uma grande admiração por ele, como pessoa e como ator. Claro que havia o risco, pois, hoje em dia, está muito complicado montar o elenco de uma novela. Mas Marcello é muito ético: cumpriu sua palavra, e não houve pressão por parte da emissora, tanto que o João Emanuel encontrou outra solução. Em tempo: eu e o João nos damos muito bem. Quanto ao elenco em geral, Denise Saraceni, diretora do núcleo, e Carlos Araújo, diretor-geral da novela, têm muita respeitabilidade. Com paciência e olhar aguçado, conseguiram montar um time de primeiro escalão.



  Depois de duas novelas de época mal-sucedidas no horário das 18h, em termos de audiência, qual é a sua pretensão, nesse quesito, para a sua novela? Você sente alguma pressão da Rede Globo para, forçosamente, subir os índices baixos de Desejo Proibido?


AN: Quase não assisti "Eterna Magia", porque já estava trabalhando na sinopse, e depois viajei. Seria leviano se fizesse qualquer comentário.  Mas acho a Beth Jhin uma ótima autora. E, para mim, a única explicação para os baixos índices de audiência de "Desejo Proibido" foi o fato de ter estreado no horário de verão. A novela é muito bem cuidada. Eu não arrisco a fazer previsão alguma com relação ao que irá acontecer com "Ciranda". Como já disse várias vezes, vou procurar dar o melhor de mim para que seja uma linda novela. Por isso posso ser cobrado. Pelo ibope, não. Eu seria mentiroso se dissesse que estou sofrendo alguma pressão para levantar a audiência do horário. Claro que a expectativa da emissora é essa. Ninguém coloca no ar um produto para não ser sucesso. Mas a Globo sabe que existe o imponderável!



  Qual é o diferencial de sua trama em relação às tramas anteriores do horário?


AN:
Há vários diferenciais, mas acho que o principal é a volta ao folhetim, à trama urdida com emoção e verdade. Fora isso, eu e a direção estamos buscando uma linguagem elegante, tanto no texto quanto no visual. Para que o universo de Lygia seja retratado com fidelidade. Penso que, talvez, o espectador esteja carente de delicadeza.




  Você acha que o fenômeno da queda de audiência generalizada se deve à divulgação das outras mídias ou, em parte, à sucessão de tramas de época no horário das 18h que pode ter saturado os telespectadores?


AN:
Se a trama é boa (de época ou contemporênea) o público assiste. O que existe hoje é a migração dos espectadores para outros tipos de entretenimento, como a internet, o DVD, os canais pagos... Fora que, às 18 horas, muita gente nem está em casa. O trânsito está caótico. A cidade mudou. TODAS as emissoras - não só a Globo - precisam trabalhar com outros parâmetros de audiência. 




  Existe a possibilidade de, em caso de sucesso, esticar a trama de setembro para outra data a definir?


AN:
A novela vai terminar no dia 10 de outubro. Serão 137 capítulos. Isso já foi definido. Não existe a possibilidade de ser esticada, ou prejudicaria a próxima novela a entrar no ar. A produção foi programada para isso, assim como a minha estrutura narrativa. Já estiquei novela, já encurtei.... Tudo isso é sempre prejudicial. E faço questão de afirmar que o espectador brasileiro é MUITO inteligente. Ele percebe quando o autor está "enchendo linguiça", ou correndo demais. O público sabe a medida certa de uma novela.



  Como está sendo sua rotina de trabalho agora em tempo de escrita da novela e como está fluindo o trabalho com seus colaboradores e com toda a equipe envolvida na direção?


AN:
Gosto muito de escrever para a televisão. Mas não posso negar que se trata de um trabalho duríssimo. São horas e horas no computador. E, quando não se escreve, a cabeça gira o tempo todo, pensando em tramas, sub-tramas, diálogos etc. Hoje, com a sofisticação das novelas, só se consegue trabalhar com "alguma" margem de conforto - mínima - montando uma boa equipe. Estou com o Mário Teixeira, como co-autor, que é muitíssimo talentoso, e já possui uma experiência considerável em teledramaturgia, e com dois colaboradores: Lúcio Manfredi e Rodrigo Amaral, com quem trabalhei nas duas minisséries que assinei com Maria Adelaide. Quanto à direção, eu não poderia estar melhor. Há uma sintonia afinadíssima com Carlos Araújo, o diretor-geral, e a Denise Saraceni, diretora do núcleo, é incrivelmente competente e criativa. Conto ainda com o Alexandre Ishikawa, que é um diretor de produção que entende e procura lidar com os delírios criativos do autor (rsrsrsrs). 



  A estréia de sua novela adiantada, praticamente em 5 semanas alterou alguma coisa na produção da novela? Esta mudança exigiu mais de você?


AN:
Exigiu MUITO de mim. Os primeiros capítulos precisam ser escritos com calma, pois são eles que dão a embocadura da novela. Se o espectador não for seduzido logo no início, a coisa se complica. Você precisa apresentar muito bem a história que vai contar. Cinco semanas a menos fazem uma diferença terrível. Para a produção, é a mesma coisa. Vou estrear com trinta capítulos escritos... Mas à base de sangue (rsrsrsrs). Assim como os diretores e produtores estão trabalhando vinte e quatro horas por dia.



  Para terminar, como você definiria, em traços gerais, a sua trama para os internautas do NaTelinha?


AN:
É uma história que mexe com as emoções mais simples - e, por isso, as mais verdadeiras - dos personagens. A trama mescla emoção, romance, ação, com humor e suspense. Espero que isso seja o que o público queira ver.

 

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