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Globo e ex-funcionário disputam na Justiça pela autoria da vinheta "Brasil-sil-sil"

O sonoplasta José Cláudio Barbedo busca na justiça o reconhecimento pela criação da famosa vinheta exibida na Globo


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Divulgação/Globo

Os direitos autorais da icônica vinheta "Brasil-sil-sil", que acompanha as transmissões esportivas da Globo e virou referência sonora do país, vem sendo alvo de uma disputa judicial há oito anos entre a emissora e o ex-sonoplasta da Rádio Globo, José Cláudio Barbedo. O profissional busca o reconhecimento da autoria da vinheta enquanto a Globo, no processo, alega que pertence a ela e ao locutor Edmo Zarife (1940 - 1999).

José Cláudio Barbedo trabalhou durante 30 anos no Sistema Globo de Rádio. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Formiga, como é conhecido no meio radiofônico, afirma ser o criador da famosa vinheta, que, segundo ele, foi produzida numa tarde de domingo de folga, em 1969.

"A vinheta é uma criação minha. O que você tem na vinheta é um sinal eletrônico misturado com a  voz do locutor da época, chamado Edmo Zarife. Quem criou o sinal eletrônico, quem dirigiu o Zarife na locução, quem fez todo o processo da vinheta foi eu. Quando eu entrei com um processo contra a Globo, em 2011, eu descobri que a Globo registrou a vinheta em nome dela", conta Formiga, que atualmente presta consultoria para diversas rádios no país.

E completa: "O meu processo é para que eles reconheçam meus direitos, por eles terem registrado, ilegalmente e injustamente, a Rádio Globo e o Edmo Zarife como criadores da vinheta. Ele foi apenas o locutor e teria o direito de receber o direito de voz dele, mas não a criação da vinheta. A criação é minha".

O processo em que se discute a autoria da vinheta “Brasil-sil-sil” está sendo discutido na 18ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sob número 0165135-08.2013.8.19.0001 e tem como alicerce a Lei 9.610/98 (Lei de Direito Autoral).

Questionado sobre seu sentimento em torno do imbróglio judicial, o ex-funcionário da Rádio Globo foi enfático: "Injustiçado, claro. Melancólico, às vezes. Porque quando a vinheta toca, eu ouço a vinheta Brasil em diversas oportunidades, eu me lembro que eu não sou reconhecido financeiramente e nem como autor. Se eu não consigo ganho de causa, pode ser que essa vinheta, que vai ficar por aí, um dia eu desapareça, e as pessoas pense que ela é de criação de outra pessoa, de um CPNJ. Me sinto melancólico. Juridicamente falando, eu não deixei um legado".

Processo de criação

Globo e ex-funcionário disputam na Justiça pela autoria da vinheta \"Brasil-sil-sil\"

Utilizada pela primeira vez pela Rádio Globo durante as Eliminatórias da Copa de 70, José Cláudio Barbedo relembra à reportagem como foi o processo de criação da vinheta "Brasil-sil-sil".

"Por incrível que parece o processo de criação foi rápido. Isso foi em 1969. O Mário Luiz, que era diretor de programação, queria que gente fizesse algo pra a classificação da seleção brasileira. Então, foi eu num domingo pra lá (Rádio Globo) e comecei a testar vários tipos de efeitos. Reverbe, eco e fiz o efeito original dele e gravei numa fita. O (Edmo) Zarife chegou depois, entrou no estúdio, emulei a voz dele, alterei a rotação de máquina com durex, botei três gravadores juntos e passei por filtro e etc e tal. Até que falei: ‘Ok, Zarife. Vamos lá. Fala aí, Brasil’. Na terceira vez que ele falou ‘Brasil’, eu consegui o tempo de efeito. Achei bom e chamei ele. Ouvimos e tava pronto em quatro horas. Isso numa tarde de domingo de folga".

Num documentário sobre a rádio no Brasil, produzido em 1990 pelo Banco do Brasil, o locutor Edmo Zarife relatou sua versão sobre a criação da vinheta.

"Isso começou através de um trabalho, eu chamo ele de monstro sagrado da técnica, que é o José Cláudio Barbedo, o Formiga. Ficamos quase duas horas no estúdio gravando no fitão várias frases e vários bordões. E ouvindo a fita depois de toda gravada, ele, com o conhecimento, com aquela técnica apurada, falou: ‘Zarife, é essa’. Ouvimos a fita umas 30 vezes", contou.

Confira o vídeo:

Ao NaTelinha, a advogada de José Cláudio Barbedo, Lígia Valeria Bomfim Saraiva, explicou sobre a situação judicial do caso: "O processo se encontra em fase de conhecimento, sendo alvo de diversos recursos protelatórios das Rés. Todos os recursos até então promovidos pela Globo Comunicação e participações S.A e pela Rádio Globo não tiveram sucesso e esperamos em breve que seja designada a audiência para colheita da prova testemunhal, bem como seja realizada a perícia técnica requerida".

E completou: "Enquanto não for encerrada a instrução entendemos não ser prudente requerer a suspensão da vinheta, em que pese não haver notícias nos autos da ação quanto a renovação do contrato de cessão de direitos que foi assinado em 01/06/1998 com vigência de 20 anos para a veiculação da vinheta na grade de programação do conglomerado Globo. Destacamos que o contrato expirou em 01/06/2018 e foi assinado entre as empresas Globo e o locutor Edmo Zarife, tendo injustificadamente sido excluído o criador da combinação dos efeitos sonoros - radialista Formiga".

De acordo com a advogada, "a violação dos direitos autorias e patrimoniais é bastante expressiva, isto porque, ao considerarmos que a vinheta foi absorvida pelo conglomerado Globo e sido incluída em seu acervo intangível como marca corporativa para segmento esportivo,  a valoração da vinheta e a quantificação dos direitos autorais pela utilização atinge valores que somente podem ser auferidos através de perícia técnica".

"É uma vinheta que identifica um país. Ela é uma vinheta muito valiosa. Já está no inconsciente do Brasil. Com certeza a parte mais importante é a questão financeira ( para Globo não reconhecê-lo como autor da vinheta). Eu não tenho ideia de quanto eu deixei de arrecadar", lamenta José Cláudio Barbedo.

Procurada, a Globo não respondeu ao contato da reportagem.

A vinheta Brasil-sil-sil: 

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