Falas de Orgulho? Globo apaga representatividade com beijo gay infantilóide em Garota do Momento
Garota do Momento mostrou um beijo gay que parecia brincadeira de criança

Publicado em 24/06/2025 às 19:52,
atualizado em 24/06/2025 às 22:11
A Globo tenta se mostrar com a visão humanizada e vencer o reacionarismo, ao fazer o seu papel social e exibir um programa intitulado Falas de Orgulho, voltado para a comunidade LGBT+. Na mesma semana, contudo, a mesma emissora exibe um beijo gay que beira o ridículo tamanho o tratamento humilhante e apequenado em Garota do Momento.
Na última semana da novela, Guto (Pedro Goifman) voltou a ganhar espaço e finalmente aceitou o pedido de namoro de Igor (Gabriel Corasini). Pouco depois, os dois se beijaram, mas com um selinho que durou menos de um segundo. Em novelas como Carrossel (1990) e até no Sítio do Pica Pau Amarelo certamente houve beijos mais duradouros e que representavam melhor a paixão.
+ Atuação da Semana: Danton Mello inebria com cores fortes e minimalismo em Garota do Momento
+ Com bom texto, direção inteligente e ótimo elenco, Dona de Mim erra e não é uma boa novela
A escolha da direção da novela de não permitir um beijo verdadeiro, entre dois jovens, recheados de hormônios, vai na linha do que vem acontecendo nos últimos tempos em que o tratamento dado à relações da comunidade LGBT+ é para diminuir personagens, apagar relações e não exibir beijos ou demonstrações de amor, carinho ou paixões sexuais.
A decisão, portanto, parece editorial e não da autora de Garota do Momento ou do diretor da novela. O modelo parece querer abraçar parcela de um público reacionário e que defende sem o menor pudor sanções contra a comunidade LGBT+, num retrocesso que o mundo vive por conta do advento da extrema-direita.
Quando a maior emissora do país e uma das maiores do mundo tenta apagar a comunidade gay ao infantilizar um beijo, o escondendo do público e não mostrando como uma relação qualquer - no mesmo capítulo, um casal hétero foi visto quase chegando ao sexo explícito na novela - ela não flerta apenas com o reacionarismo, mas principalmente como um aval para os crimes cometidos contra a comunidade.
Adianta pouco exibir uma longa reportagem no dia da Parada LGBT+, resolve pouco criar um programa intitulado Falas de Orgulho, como se realmente valorizasse a comunidade. No dia a dia, o que se vê na dramaturgia, o principal motor do canal, é o apagamento de gays, a diminuição das pautas e o tratamento dado dispensa qualquer comentário positivo.
Quem tenta justificar o injustificável e defender que uma empresa deve abraçar todos os públicos erra. Um canal de TV tem responsabilidade social e se existisse televisão não seria aceitável evitar mostrar os desmandos da escravidão porque fazendeiros eram contra a abolição. O errado continua sendo errado e deve ser combatido, ainda que muita gente o abrace.
O capítulo de Garota do Momento é uma espécie de carimbo, da novela e da Globo, para que um gay que esteja assistindo a novela entenda que ele só pode dar um selinho. Os gays não têm direito de serem representados com paixões, com sexo e com desejos. Ao menos não na nova Globo.
O canal, que recentemente pediu desculpas por ter apoiado a Ditadura Militar, certamente terá que escrever novo editorial no futuro, se desculpando por tentar apagar a comunidade LGBT+ em troca de uma audiência não qualificada e puramente preconceituosa.