Garota do Momento foi "novelão", mas pecou por anacronismo e certa covardia
Trama que termina nesta sexta-feira (27) começou bastante elogiada, mas não conseguiu manter a popularidade até o fim

Publicado em 27/06/2025 às 14:45,
atualizado em 28/06/2025 às 12:38
Garota do Momento pode ser definida como um “novelão”. Não necessariamente por reunir muitas qualidades do gênero, mas por recorrer a clichês típicos dos folhetins e também pela duração exagerada, fora dos padrões atuais: no ar desde novembro, chega ao fim nesta sexta-feira (27) com 202 capítulos. Pesam ainda sobre a trama da Globo o anacronismo do texto e certa covardia com algumas abordagens.
É claro que a atração só foi “esticada” porque a emissora viu ali um produto lucrativo. A audiência foi discreta: a elevação nos últimos meses não a impediu de sair do ar com o terceiro menor índice das 18h desde 2020. Por outro lado, a repercussão nas redes sociais surpreendeu: a história criada por Alessandra Poggi era bastante comentada – e elogiada – nos primeiros meses.
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A parcela do público que aprovou a novela no início ignorou o fato de os personagens da década de 1950 agirem como se estivessem em 2024/2025. É, sim, possível trazer assuntos contemporâneos à tona em tramas de época com abordagens pertinentes aos dias de hoje, mas faltou uma preocupação em não trair ou comprometer a ambientação.
Temas como racismo, machismo e homofobia foram discutidos com os mesmos termos e discursos dos dias atuais. Quase sempre, as cenas eram dotadas de extremo didatismo e pouca naturalidade, como se o texto saísse de uma cartilha que explicasse cada discussão levantada – algo cada vez mais comum nas produções da Globo, a exemplo de Vale Tudo, atual cartaz das 21h.
O caminho seguido favoreceria as pautas sociais em detrimento da dramaturgia, mas nem isso a novela bancou. Afinal, houve um evidente receio em desagradar uma parcela conservadora – ou preconceituosa – do público.
Foi assim que Guto (Pedro Goifman, uma boa revelação) deu um “selinho gay” às escuras em certa altura da novela, em contraste com beijos mais insinuantes dos casais heterossexuais. Capítulos depois, ele perdeu seu par romântico e também o destaque que vinha conquistando na trama. Só ganhou um novo romance, desenvolvido às pressas, nos capítulos finais.
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A novela ainda passou a ser criticada pelo espaço reduzido dos personagens negros na reta final, a começar por Beatriz (Duda Santos). A protagonista ficou atrelada ao drama da mãe, Clarice (Carol Castro), enquanto os antagonistas Bia (Maísa), Maristela (Lília Cabral) e Juliano (Fábio Assunção) dominavam a ação, assim como entrechos cômicos sem muita graça.
Alguns personagens bem construídos ajudaram a contornar o problema. A vingativa Zélia (Letícia Colin, sempre ótima) conquistou o público, a ponto de sua morte nos últimos capítulos ter gerado comoção. Outro que roubou a cena foi Basílio (Cauê Campos), um malandro irresistível. O casal maduro Lígia (Palomma Duarte) e Raimundo (Danton Mello) também teve bons momentos.
Um grande mérito de Garota do Momento foi o de conseguir manter a história por oito meses no ar sem perder tanto o ritmo. A autora soube explorar o potencial folhetinesco de sua criação, e a direção de Natalia Grimberg, apesar de alguns tropeços, garantiu boas cenas. A novela não foi nenhum desastre, mas, por decisões questionáveis na concepção e no desenrolar da trama, chega ao fim com saldo mediano.
A novela Garota do Momento é criada por Alessandra Poggi e escrita com Adriana Chevalier, Aline Garbati, Mariani Ferreira, Pedro Alvarenga e Rita Lemgruber. Tem direção de Matheus Malafaia, Mayara Aguiar e Tande Bressane, direção geral de Jeferson De e direção artística de Natalia Grimberg. A produção é de Juliana Castro e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.