Troféu APCA 2018 faz justiça a esquecidos no "Melhores do Ano" do Faustão
Publicado em 12/12/2018 às 11:23
A tradicional premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) chegou à sua 62ª edição nesta terça-feira (11), dia em que foram anunciados os vencedores das principais categorias em várias áreas. Com a divulgação dos indicados, no fim de novembro, ficou claro que houve uma maior prioridade para as séries, em um ano de uma confusa safra de novelas. A escolha dos vencedores reafirmou ainda mais esta impressão e ainda fez justiça a nomes que ficaram de fora do “Melhores do Ano”, a “festa da firma” promovida pelo “Domingão do Faustão”.
São os casos de Fábio Assunção e Marjorie Estiano, vencedores como Melhor Ator e Melhor Atriz, respectivamente. Fábio, envolto em problemas pessoais e escândalos na mídia, aparentemente não deixou estes contratempos interferirem em seu ímpar desempenho como o juiz corrupto e assassino Ramiro da supersérie “Onde Nascem os Fortes”. Com impacto e força, Assunção encarnou exemplarmente a figura de conhecidos coroneis do sertão nordestino, famosos pela truculência e pela fama de justiceiros que amedronta a população das pequenas cidades, em uma atuação repleta de intensidade e entrega, que lhe valeu o prêmio ao lado de atores igualmente merecedores, como seu colega de série Jesuíta Barbosa (que interpretava seu filho Ramirinho), Antônio Calloni (o Dr. Roger Sadala de “Assédio”, do Globoplay), Edson Celulari (grande destaque da novela das sete, “O Tempo Não Para”) e Júlio Andrade (mais uma vez indicado pelas séries “Sob Pressão” e “Um Contra Todos”, da Fox, pelas quais venceu ano passado).
Se Andrade foi o vencedor de 2017, agora a primorosa “Sob Pressão” foi representada por sua parceira Marjorie Estiano, consagrada como Melhor Atriz. A intérprete da destemida Dra. Carolina brilhou especialmente nesta temporada, ao reviver a dor da personagem no reencontro com seu pai (vivido por Luís Melo), que abusava da médica quando esta era criança. Sua parceria com Júlio Andrade segue cada vez mais forte e reafirma a competência de Marjorie, que teve como concorrentes as também talentosas Alice Wegmann (Maria de “Onde Nascem os Fortes”), Patrícia Pillar (Cássia, da mesma supersérie), Adriana Esteves (pela vilã Laureta de “Segundo Sol” e pela Stela de “Assédio”) e Letícia Colin (pela Rosa de “Segundo Sol”). Ainda assim, é inevitável registrar o lamentável esquecimento de Gabriela Duarte, que também merecia estar entre as indicadas por sua brilhante composição da Julieta Bittencourt, da primorosa “Orgulho e Paixão”.
Aliás, a novela das seis de Marcos Bernstein também não foi indicada, o que é igualmente incompreensível. Em função de um ano inconstante para as novelas, foi adotada a categoria Dramaturgia, mesclando os folhetins com as séries. Entre as obras escolhidas, a única indicação equivocada foi a de “O Tempo Não Para”, folhetim de Mário Teixeira que começou com uma premissa original?—?o conflito de uma família de 1886 que congela no tempo e precisa se adaptar aos costumes de 2018?—?, mas perdeu fôlego e parece apenas cumprir tabela, sem despertar o mesmo interesse. Ao lado dela, concorreram as excelentes séries “Sob Pressão”, “Assédio”, “O Negócio” (HBO) e “Onde Nascem os Fortes”, escolhida como vencedora. A trama de George Moura e Sérgio Goldenberg trouxe um enredo forte e repleto de mistério, mas pecou em partes por uma visível lentidão no meio de sua trajetória. Ainda assim, é um prêmio justo.
A categoria de Melhor Diretor, por sua vez, premiou Amora Mautner, por seu impecável trabalho em “Assédio”, série do Globoplay inspirada na trajetória criminosa do médico Roger Abdelmassih, condenado por inúmeros estupros. A direção de Amora, aliada ao texto de Maria Camargo, soube se desligar das características novelísticas e imprimir um ritmo de série que não deixa a desejar para nenhuma produção estrangeira. O impecável trabalho da diretora?—?que já foi motivo de piada por sua malfadada “caixa cênica” em “A Regra do Jogo” (2015-16)?—?também se viu no tom adotado pelo elenco, em especial os impecáveis desempenhos dos já citados Calloni e Esteves e também de Hermila Guedes, Paula Possani, Paolla Oliveira, Jéssica Ellen e a novata Elisa Volpatto.
Amora concorreu com José Padilha (da polêmica “O Mecanismo”, da Netflix), José Luiz Villamarim (“Onde Nascem os Fortes”), José Eduardo Belmonte (“Carcereiros”) e Jayme Monjardim (“Tempo de Amar”)?—?esta, a única indicação equivocada da categoria, que poderia facilmente ser substituída pela exemplar dupla de “Sob Pressão”: Andrucha Waddington e Mini Kerti.
Entre os indicados em Humor, Marcelo Adnet, o vencedor, se notabilizou não apenas pelo “Tá no Ar”, mas especialmente pelas imitações dos candidatos à Presidência da República nas eleições de 2018, em um trabalho feito para o jornal O Globo. Adnet concorreu com Fábio Porchat (que não renovou com a Record TV), o grupo “Choque de Cultura” (que estreou um programete nas tardes de domingo na Globo), com seu próprio programa (“Tá no Ar”) e com Tatá Werneck, que estreou mais uma temporada do elogiado “Lady Night” no Multishow.
Na lista de Melhor Programa, a vitória foi para a décima primeira temporada de “Amor & Sexo”. O programa comandado por Fernanda Lima investiu ainda mais em temas relacionados à igualdade entre sexos e respeito às minorias, embora tenha sofrido com a baixa audiência, o evidente desgaste do formato?—?em função do tom às vezes beirando o didático?—?e a reação de grupos conservadores. Seus concorrentes foram os talk-shows “Conversa Com Bial” e “Lady Night” e os realities “Drag Me As a Queen” (E!) e “Fábrica de Casamentos” (SBT).
Finalizando a seleção, a categoria Esporte refletiu a cobertura da Copa do Mundo de 2018, na qual a França conquistou seu segundo título. A talentosa Fernanda Gentil foi a vencedora, por sua competência no comando do “Esporte Espetacular”?—?a apresentadora é uma das maiores apostas da Globo e foi anunciada recentemente a sua saída do Esporte para a divisão do Entretenimento, caminho também seguido por Tiago Leifert. Ao lado dela, concorreram o narrador Luís Roberto, elogiado por seu desempenho na Copa; os programas “Sportscenter” (ESPN) e “Seleção SporTV” e o projeto “Mulheres Na Copa”, do Fox Sports, que apostou em mulheres narradoras no canal 2.
Mesmo com a falha em ignorar nomes elogiados (como “Orgulho e Paixão” e Gabriela Duarte), o prêmio APCA mais uma vez mostrou sua credibilidade e primou pela justiça em boa parte das categorias. E ainda fez mais que isso: fez justiça a nomes que foram solenemente excluídos da “festa da firma” de Faustão, como Fábio Assunção e Marjorie Estiano.