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Sem querer, as crianças adultas de "MasterChef Kids" explicam a sociedade

Estação NT


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Foto: Divulgação
Um dos participantes do "MasterChef Kids" na Band, ao mesmo tempo que descreve  com detalhes aos jurados a receita exótica que irá preparar, chora ao perceber que não terminará de cozinhá-la a tempo.
 
Em seu perfil no site da atração, ele descreve suas matérias favoritas na escola e os desenhos animados de sua preferência. "Não sei se terei psicológico para assistir a esse programa", declara um telespectador no Twitter durante a exibição de um dos episódios. A perspectiva de ver crianças de 9 a 12 anos manipularem facas, fogões e outros utensílios de cozinha, além de serem eliminadas da competição com direito a muitas lágrimas, provoca reações semelhantes Internet afora. 
 
Seguindo a lógica do gênero reality, ponto para a Band. Afinal, o que impulsiona este tipo de programa é a estranheza, a curiosidade. No rastro do sucesso da sua versão adulta na emissora, o "MasterChef Kids" é exibido no mundo todo, mas com variações em relação à competição original: jurados (bem) menos truculentos, receitas mais simples, nível de exigência pouco massacrante, isto é, o que se esperaria de uma atração envolvendo crianças. 
 
Neste sentido, a versão brasileira adiciona um tempero exclusivamente tupiniquim. A saber, o modo meloso, beirando o constrangimento, de se tratar os jovens participantes. Característica que vai dos jurados (Erick Jacquin, Paola Carosella e Henrique Fogaça, os mesmos da edição adulta) aos familiares do elenco, todos ansiosos em tornar o programa palatável, em adoçar a pílula tanto para o telespectador quanto para os candidatos, que por sua vez, se posicionam como semiadultos diante das câmeras, usando termos como "risoto de arroz negro" e "defumação a base de açúcar". 
 
Esta indefinição dos papeis, esta corda bamba nos quais se equilibram crianças, pais, jurados, telespectadores e apresentadora (Ana Paula Padrão), é o que provoca o sorriso desconfortável na audiência, sentimento já espalhado pelas redes sociais. Enquanto se busca, nos estúdios, uma imagem idealizada dos guris (ingênuos, brincalhões e etc.) apesar das suas altas habilidades diante das panelas, também se escancara a forma grotesca com que esta mesma sociedade trata os mais jovens. Uma das candidatas do programa, de apenas 12 anos, foi alvo de comentários sexuais de internautas adultos, e alguns episódios depois, os trejeitos afeminados de um garoto se tornaram piada entre grande parte do público. 
 
Com Ibope e repercussão medianos, a final de "MasterChef Kids" acontece nesta terça (15). Independente de ter ou não outra edição, o programa mostrou, mais do que qualquer estudo de sociologia, a infantilização dos adultos e a adultização das crianças, fenômeno que vem ocorrendo há alguns anos, mas raramente tão desnudada em rede nacional. 
 
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.
 
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