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Com boas histórias, "Totalmente" peca pelo excesso de rebeldia de Eliza

Coluna "Enfoque NT" analisa trajetória de "Totalmente Demais" e rebeldia demasiada da protagonista Eliza


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Fotos: Divulgação/TV Globo
Depois de mais um mês da estreia de "Totalmente Demais", os telespectadores já puderam observar como a história escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm vem se desenhando.
 
Com um conto de fadas moderno que nada lembra a insossa da antecessora “I Love Paraisópolis”, os autores mostram que estão em plena forma e sabem como dar reviravoltas sem cair na pieguice ou ter um didatismo digno de sono.
 
O texto, sempre muito bem construído, vem acompanhando a saga de Eliza (Marina Ruy Barbosa) que tem como objetivo de vida levar sua família para o Rio de Janeiro, longe de seu padrasto Dino (Paulo Rocha). 
 
Mas temos que considerar as histórias paralelas que já estão caindo na graça do público. Não por acaso. A novela das sete, que por anos a fio tinha um perfil de telespectador tido como incógnita, aos poucos vem se “desvendando”, clamando, é claro, por uma boa história de amor convencional com uma grande pitada de humor. Na realidade, nada tão diferente dos outros horários.
 
“Totalmente Demais” vem cumprindo isso e tem como um dos pontos altos o núcleo de Florisval (Aílton Graça) com seus três (ou dois?) filhos com duas mulheres brigando pelo mulherengo, Maristela (Aline Fanju) e Rosângela (Maria Galli), sua ex-mulher. É uma excelente válvula de escape dentro da trama. “Fascinante”, diria Florisval.
 
Fatinha de novo?
 
Fatinha era uma personagem que Juliana Paiva interpretava na temporada 2012 de “Malhação”, mas ainda há resquícios daquela que fez um grande sucesso na novelinha. Basicamente, é a mesma. Mas, temos que fazer justiça: os anseios e aspirações de Cassandra e Fatinha também eram praticamente idênticos e Juliana já mostrou competência nesse tipo de papel. 
 
Manifestações
 
Um núcleo bastante utilizado nos primeiros capítulos perdeu força com o passar do tempo. A turma de Fabinho (Daniel Blanco) liderava movimentos para que o rio Tamanduá não fosse poluído. Tudo um pouco confuso, querendo aparecer a qualquer custo com tintas, megafones e até então, poucos argumentos.
 
O grupo se desfez, Fabinho passou a namorar a estudante de jornalismo (e sua colega de manifestação), Leila (Carla Salle) e o propósito do grupo ganhou corpo, com o filho de Germano apresentando o projeto à empresa do pai, Germano (Humberto Martins), Bastille, que produz produtos de cosméticos. Tudo já mais ponderado e verossímil, sem desordem por desordem.
 
Aliás, um dos conflitos mais interessantes de “Totalmente Demais” é o de Fabinho com Germano, que tenta a todo custo provar seus valores ao pai, o que nem sempre dá certo. Lili (Vivianne Pasmanter), por sua vez, o trata de maneira diferente, aquela que acredita ser a correta: excesso de amor e passando a mão na cabeça do rapaz por diversas vezes. Pai e mãe fazem o contraponto em relação ao filho.
 
Lili, que não conseguia  esquecer a morte da filha Sofia (Priscila Steinman), parece ter dado uma trégua. Essa lamúria interminável balançou diversas vezes o casamento com Germano, que se via obrigado a procurar qualquer mulher que lhe aparecesse na frente, se tornando um galanteador incurável. Mas que já se curou. Lili parece não ter se esquecido, mas ao menos superado para não causar ainda mais tremores ao matrimônio. 
 
Água mole em pedra dura
 
 
O núcleo mais irritante, sem dúvida, é o amor de Lu (Julianne Trevisol) por Rafael (Daniel Rocha). Suas tentativas em se aproximar do fotógrafo chega a ser patético, obsessivo e até repetitivo. 
 
Talvez, com a descoberta que sua ex-namorada não era quem ele pensava, consiga afrouxar o coração. Até lá...
 
Novela sem vilões
 
“Totalmente Demais” é diferente. Não há vilões bem delineados. Todos ali têm seu lado humano, e é o caso de Carolina (Juliana Paes), diretora da revista com o título do folhetim. 
 
Ela passar por cima de quem for para conseguir o que quer, mas tem em si um lado materno forte, que sacrificou para prosperar na carreira. Agora, seu desejo é engravidar de Arthur (Fábio Assunção) e o desenrolar dessa história vem sendo muito bem contada, com situações constrangedoras e divertidas.
 
Carolina, na realidade, não pode ser considerada uma vilã, embora, até o momento, tenha mostrado mais facetas de uma. O fato é que ela também já mostrou seu lado humano e tem seus pontos fracos.
 
Excesso de rebeldia
 
 
O que chama a atenção é a rebeldia de Eliza (Marina Ruy Barbosa). Pode ser que pelo constante assédio do padrasto na adolescência e começo da fase adulta, seu comportamento arisco e hostil tenha predominado na relação com outras pessoas. 
 
Mas a maneira de lidar com qualquer outro da novela chega a ser espantoso. Briga, discute e faz cara feia para qualquer um, digam o que for. Só de olhar, ela já ameaça “dar uns tapas”. A psicologia talvez explique um comportamento tão rude, mas nesse ponto os autores estão pecando em colocá-la como uma leoa sem chance de domesticação.
 
Esse exagero tende a diminuir conforme ela venha tendo contato com o “mundo lá fora” já que precisa ganhar o Concurso Garota Totalmente Demais para trazer a família ao Rio de Janeiro. A relação interpessoal, ponto fraco de Eliza, é algo gritante e até questionável, mas que inevitavelmente vai melhorar. 
 
Jonatas (Felipe Simas) também convence como um “empresário das ruas”, mas que agora já dá expediente na Bastille para ajudar mãe e irmãos. O papel para o ator caiu como uma luva e vem desempenhando sua função com bastante veracidade. Não à toa, o público torce bastante por um final feliz entre Eliza e Jonatas.
 
Falando em rebeldia, Jojô (Giovanna Rispoli) também tem problemas de comportamento nesse sentido, mas pode ser facilmente explicado pelo "abandono" dos pais Arthur e Natasha (Lavínia Vlasak). Além disso, Jojô é amável com a empregada da casa, enquanto Eliza custou muito ser assim com Jonatas, por exemplo. Comportamentos semelhantes, mas é claro que com histórias e idades diferentes. Fica ressaltado.
 
A audiência vem correspondendo, com cerca de 25 pontos médios, mas isso não quer dizer nada. “Totalmente Demais” é agradável, fugindo um pouco dos temas apresentados nos folhetins das 21h, por exemplo, com “excesso de realidade”, favelas, mau-caratismo e traições deliberadas.
 
“Totalmente Demais” é um conto de fadas bem contado. Com histórias paralelas sólidas (e uma central bastante consistente) e bons autores para desenvolvê-las. O público merece fugir um pouco da realidade que nos assola, e esta novela das sete certamente vem conseguindo fazer isso com bastante competência.
 
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Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter: @tforatto
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