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"Os Dez Mandamentos" chega ao fim surpreendendo até os mais otimistas
Coluna "Enfoque NT" analisa trajetória do maior fenômeno da Record dos últimos anos, "Os Dez Mandamentos"

Por Thiago Forato
Publicado em 23/11/2015 às 22:18
Quando “Os Dez Mandamentos” estreou, há exatos oito meses, nem os mais otimistas poderiam imaginar o tamanho do estrago que a novela faria na programação da Globo. Tampouco sonhar com o final frustrante que ela teria.
Sem um grande sucesso há alguns anos e sem balançar a grade da Globo desde 2008, a Record apostou no que vem fazendo com muita competência desde 2010 com minisséries bíblicas. No entanto, readequar uma construção desse formato para novela, definitivamente, foi algo ambicioso e desafiador.

Com 176 capítulos, a autora Vivian de Oliveira teve que buscar formas de prender o telespectador por meses a fio numa narrativa que bem ou mal, todos conhecem. Afinal, a Bíblia é um livro “com alguns anos” de existência e sabido por todos. Outro fator é que “Os Dez Mandamentos” não é a primeira adaptação da história de Moisés.
Entretanto, foi a primeira emissora a produzir num formato de telenovela, em um horário que a Globo tem o combalido “Jornal Nacional” e o SBT vinha num segundo lugar tranquilo com suas novelas infantis “Carrossel” e “Chiquititas”. Já na primeira semana, a Record conseguiu conquistar o segundo lugar, e a trama não parou de crescer e conquistar público.

Um dos pontos que poderiam vir a contar negativamente foram os nomes dos personagens como Henutmire, Apuki, Aoliabe, Gahji, Zelofeade, dentre outros. Mas nada disso foi um empecilho para o verdadeiro fenômeno que a novela se tornou.
O vocabulário por vezes contemporâneo da novela em nada apaga a produção que teve detalhes técnicos minuciosos, figurinos impecáveis, paisagens deslumbrantes e fotografia cuidadosa com a direção de Alexandre Avancini, que soube conduzir e dirigir cenas de alto calibre, como a abertura do Mar Vermelho, impressionando a quem assistia.
As dez pragas

A história de Moisés enquanto cumpre missão dada por Deus, que é salvar o seu povo que é feito de escravo pelo faraó Ramsés, teve clímax com o início das famosas Dez Pragas do Egito. Muitos duvidaram do visual que a Record poderia dar à cenas que exigiriam diversos efeitos especiais. Tudo bem executado, que em nada lembra os "defeitos especiais" de "Os Mutantes", que beirava o tosco. Ver o Rio Nilo cheio de sangue foi a porta de entrada para as nove pragas restantes e mostrou que a emissora alcançou um patamar dramatúrgico, como já opinou este espaço, verdadeiramente invejável e provou que é possível sair do comum.
Somente um profissional com o poderio, gabarito e pulso como Avancini poderia ajudar a construir um folhetim que quebrou barreiras e fez história entrando para o hall de telenovelas a terem desbancado a Globo, e mais do que isso, ter gerado uma repercussão assustadora em todo o Brasil. Fazer sucesso fora da rede carioca é muito mais difícil, o que também é inegável.

Alexandre Avancini é um dos protagonistas de todo esse sucesso, mas uma produção desse tamanho não se faz sozinho. Com um orçamento estimado em R$ 700 por capítulo, todos ali têm que ser ovacionados, passando por figurinistas, atores e emissora por terem apostado num projeto ousado, que poderia, por que não, ter dado errado e milhões terem ido para a lata do lixo.
Barriga
O esticamento que o folhetim teve implicou bastante na falta de agilidade da história, que abusou dos flashbacks e diálogos vazios. Embora parte da qualidade do produto tenha sido comprometida, não desmereceu o restante da novela que foi repleta de méritos. De fato, não é fácil lidar com essa adversidade.

Último capítulo?
“Os Dez Mandamentos” terá uma segunda temporada, o que pode, claro, ser um tiro no pé, a exemplo do que a Record já fez com “Caminhos do Coração” anos atrás. Esse tipo de situação é bastante delicada e o canal, ao que parece, não sabe lidar com sucessos dessa magnitude, atropelando as coisas e metendo os pés pelas mãos.
Com isso, a novela chegou ao fim sem exatamente "aquele final", um desfecho com cara de folhetim, anunciando uma segunda temporada de "Os Dez Mandamentos" para março de 2016, transformando o produto em uma espécie de "série continuada" ou algo do gênero, com autora e atores contando o sucesso que a novela fez e prometendo "novas histórias" e "novos conflitos" para essa nova jornada, além do anúncio do filme para fevereiro.

O público 'perdeu' oito meses assistindo a uma trama que não teve desfecho, sendo ele prometido só para março do ano que vem. Difícil digerir.
Tanto é verdade que a Record não sabe lidar com sucesso desse porte, é que “Escrava Mãe”, prevista para estrear nesta semana, foi engavetada com a promessa de ser exibida em 2016, inteiramente gravada.
Que venha, então, as reprises dos produtos bílicos que a Record já produziu.
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Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter: @tforatto
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