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"JG" especial ataques na França é a melhor edição de telejornal do ano

Território da TV


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Divulgação

Repare bem no título desta coluna. Ele atribui o "Jornal da Globo" desta sexta-feira (13) como a melhor edição “de” telejornal de 2015, não “do”. Ou seja, o jornalístico comandado por William Waack não teve apenas o seu melhor desempenho em algumas centenas de vezes que foi ao ar no ano, como também supera as milhares dos demais telejornais regulares da televisão brasileira.

Quase que ironicamente, a completíssima edição sobre os ataques terroristas em Paris, que voltaram a colocar a Cidade Luz em pânico somente 11 meses após o caso Charlie Hebdo, em que a caçada e a prisão dos terroristas já havia movimentado o telejornalismo também no Brasil.
 
Waack, agora em voo solo, se transformou em um excelente âncora. Deixou de lado a sisudez dos tempos em que Christiane Pelajo o acompanhava para raciocinar de forma mais aberta e fugir do roteiro padrão que se espera.

Com ele sozinho, o “JG” se transformou ainda que timidamente em um espaço mais interessante de análise. Foi o que ocorreu com a primeira grande cobertura no novo modelo.

Primeiramente, é bom se destacar que a grade de programação foi alterada para comportar essa edição especial. A série "Lista Negra" estava programada para ir ao ar após o confronto entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias, mas acabou sendo limada para que o “JG” pudesse ser maior em duração e em plateia.

Mas não foi um grande dia do telejornal somente em tempo no ar. Afiado, ele contou apenas com notícias sobre o drama em Paris na escalada. Nada mais. O “JN” achou espaço para inúmeras outras pautas em sua abertura, quebrando o tom entre o primeiro impacto e começo da cobertura de fato.

O editorial de começo também foi forte, destacando a frieza dos terroristas, ao classificar os alvos buscados por eles como “fáceis”, como os torcedores de futebol que acompanhavam a partida entre as seleções da França e da Alemanha e os fãs da banda de rock que se apresentava na boate Bataclan. “A França e as vítimas são o nosso lado, o da civilização. O dos terroristas é o da barbárie”, completou.

Ao longo da edição, que seria encerrada sem trilha, em sinal de luto, Waack se revezou entre Roberto Kovalick, de Londres, e Jorge Pontual, de Nova York. Experientes e com tempo para falar, ambos conduziram bem seus raciocínios dessa vez, expondo os olhares do resto do continente europeu e da maior potência do planeta diante da fatalidade.

Foi um grande revés, claro, a ausência de um repórter em Paris. A Globo não possui base fixa na cidade, concentrando seus escritórios na Europa em Londres, Lisboa, Berlim e Roma. Ao que isso foi compensado pelo menos parcialmente pela exibição de vídeos quase amadores, mas capazes de sintetizar em poucos instantes como estava o clima na cidade.

A participação do quase onipresente cientista político Heni Ozi Cukier também ajudou no aprofundamento sobre o que o atentado pode causar nos dias seguintes, algo que o “JG” faz bem desde os tempos de Ana Paula Padrão, quando também contou com uma brilhante edição no 11 de setembro.

Dessa vez, o único “respiro” editorial foi um sucinto bloco esportivo com informações sobre o empate da Seleção nas Eliminatórias para a Copa do Mundo e os treinos livres para o Grande Prêmio de Interlagos de Fórmula 1. Ambas as pautas claramente posicionadas para inserção das vinhetas dos patrocinadores do futebol e do automobilismo.

Uma rápida pausa que não tirou a completude das informações. A edição foi transmitida ainda durante o auge do terror, mas a plenitude de ângulos que buscou fazia parecer praticamente como se o ataque tivesse ocorrido há cerca de um dia inteiro. Trabalho ágil, de fácil entendimento e digno de todos os elogios, que vieram quase que instantaneamente também pelo Twitter. 

E que não se limitou ao “Jornal da Globo”. Coube a William Waack e sua equipe ainda o comando dos boletins nos intervalos da novela “A Regra do Jogo” e em toda a madrugada, passando das 4 da manhã com inserções ao vivo, que se fizeram presentes até durante o futebol, horas antes.

A noite foi de coroação para a guinada no “JG”, que pode ter reforçado teses ideológicas nas pautas políticas e econômicas habituais, mas que no momento em que o máximo de essência do jornalismo era necessário soube o extrair da melhor maneira. 

O colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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