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Saída de Pelajo do "JG" desperta mais atenção pelas dúvidas do que certezas

Território da TV


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Divulgação/TV Globo

Diferentemente do que ocorreu em outras situações, como quando Fátima Bernardes deixou o “Jornal Nacional” ou mesmo na recente saída de Tiago Leifert do “Globo Esporte São Paulo”, o anúncio do adeus de Christiane Pelajo ao “Jornal da Globo” não desencadeou diretamente uma análise da sua contribuição ao jornalístico durante os últimos 10 anos ou maiores aprofundamentos sobre esse ciclo.

Não que sua passagem tenha sido dispensável no posto. Pelo contrário. Chris fez parte de grandes coberturas. Por muitas vezes, quase amanheceu no ar, como nas eleições americanas e na caçada aos suspeitos dos atentados em Paris.

Em outras tantas, saiu da bancada para cobrir os mais variados eventos. Ancorou, por exemplo, o “JG” ao vivo da capital fluminense em 2011 na retomada do Rock in Rio. E também de frente para as fachadas da escola Tasso da Silveira e da boate Kiss, respectivamente palcos do massacre de Realengo e do incêndio em Santa Maria.

Uma versatilidade que ajudou a dinamizar a atração ao longo desse período. É justamente essa multiplicidade que pode fazer falta agora.

William Waack é um profissional tarimbado, com as mais variadas coberturas no currículo, notado especialista em economia e política, as principais pautas do “JG” habitualmente, além de se deleitar quando há espaço para exercer seus conhecimentos sobre cultura germânica ou aviação.

Mas dá para o imaginar no meio da Cidade do Rock ou numa cobertura de alta voltagem emocional? Dificilmente. A opção em o deixar sozinho agora pode se revelar perigosa nessas situações, quando possivelmente repórteres serão praticamente co-apresentadores.  

Saliente-se que o “JG” é folgadamente entre os telejornais tradicionais da Globo (excluindo-se o recém-lançado “Hora Um”) o que mais combina com a ancoragem individual, já que demanda de um variado leque de especialistas. Mas essa “cara” também possui certos ônus.

Nos últimos tempos, Carlos Alberto Sardenberg, comentarista de economia, vinha sendo o substituto de Waack em seus recessos. Mas é claro que com essas esporádicas experiências não é possível lhe incumbir do peso de assumir todo o noticiário para o vídeo após o fim do “JN”. Ou seja, há uma lacuna sobre quem será esse “número 2”, sem que nenhum candidato desponte com favoritismo.

Afinal, vale lembrar que qualquer “Plantão” a partir da faixa da novela das 21h, que pelo menos até dia desses era a principal da TV brasileira, é de responsabilidade da redação do “JG”.

Foi com essa prerrogativa que Pelajo em seu período interrompeu a programação para narrar ao vivo acontecimentos marcantes, como a condenação do goleiro Bruno, a prisão do autor do atentado na maratona de Boston e o resgate dos mineiros do Chile.

Mas ela poderá continuar fazendo coberturas do gênero em outras faixas, formatos ou até canais. Ao contrário do que se tornou comum, sua saída não implica numa migração para o entretenimento. O “novo projeto” ao qual será designada será também do jornalismo.

Na bolsa de apostas das redes sociais, com a escassez de faixas de lançamento para novos produtos e a negação preliminar de que esse seria o estopim de uma nova dança das cadeiras, a ideia mais forte é a de que ela irá assumir o “Jornal das Dez” na Globo News (onde começou a carreira televisiva), substituindo Eduardo Grillo, que recentemente se desligou do Grupo Globo. O “J10” vem em uma linha descendente de audiência desde que perdeu Mariana Godoy, há mais de um ano.

O “JG” também não navega em números explosivos, tendo seus índices voláteis de acordo com a entrega da atração anterior e o conteúdo da concorrência. Foi facilmente batido, por exemplo, pela reta final do “MasterChef”, da Band.

Mas não terá mudanças profundas, informa o próprio comunicado oficial da emissora. Assim como a saída da própria Pelajo foi de repente, novidades após esse período também entrarão de surpresa, sem a marcação de um dia para um pacote de inovações entrar no ar, como fez o “Jornal Nacional” recentemente.

A expectativa é de que a informalidade consiga se sobrepor no hoje mais sisudo dos telejornais da Globo. Para isso o uso dos convidados no estúdio para manter o ritmo conversado e evitar um monólogo de William Waack pode ser essencial.

E fica ainda o mistério em torno de outro ponto do tal comunicado: o conteúdo da série de reportagens ao qual Pelajo vem se dedicando e que ainda entrará no ar, em data a ser definida.

Espera-se também, no mínimo, que quando a sequência de matérias especiais for exibida ela possa ganhar no ar a justa despedida após o longo período em que exerceu as suas funções, até como forma de esclarecer grande parte do público sobre o novo momento da carreira.

É de se aguardar que a elegância e o bom senso predominem por essa opção, já que até Carla Vilhena, trocada do “Bom Dia SP” durante as férias, se não pode se despedir ao vivo, ao menos gravou um VT que foi ao ar depois explicando a situação.

Se despedir com “até amanhã” no estúdio em um dia e simplesmente nunca mais retornar seria explicável se a situação fosse de rompimento, o que não confere dessa vez, já que ela segue contratada do canal e com a perspectiva de ganhar seu novo espaço em breve.


O colunista colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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