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Inconsequente, Globo contraria sua história com atrasos na programação

A coluna "Enfoque NT" analisa estratégia da Globo em atrasar exibição de "A Regra do Jogo"


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Parte do elenco de "A Regra do Jogo": a trama ainda não emplacou - Divulgação
Não é segredo pra ninguém que uma guerra de audiência se instalou desde a última semana com a estreia de “A Regra do Jogo”, nova novela das 21h (ou 22h?) da Globo
 
Alardeada como a produção que tem a mesma autoria do fenômeno “Avenida Brasil”, João Emanuel Carneiro ainda não conseguiu fazer seu produto emplacar. Não conseguiu por motivos circunstanciais, encontrando um horário em cacos deixado por “Babilônia” e, para piorar, com a concorrência de “Os Dez Mandamentos”, da Record, a novela de maior sucesso do canal dos últimos sete anos. Além das tramas infantis do SBT, que já estão consolidadas. 
 
 
O cenário realmente não era nada fácil, mas enquanto muitos na Globo viam em “A Regra do Jogo” uma esperança em reverter o quadro rapidamente, agora já se tornou motivo de preocupação e até desespero. A Record certamente vai esticar “Os Dez Mandamentos”, tentando minar qualquer possibilidade de fazer a nova trama da rede carioca emplacar.
 
Agora, a Globo também tem sua parcela de culpa nisso tudo.
 
Não é a primeira vez que ela sofre apuros com a audiência de uma novela das 21h. Mas é a primeira vez em que ela coloca o “vulnerável” “Jornal Nacional” para bater de frente por tanto tempo, e de maneira proposital, contra o produto mais forte de uma concorrente.
 
 
Na semana passada, a Globo deu uma de SBT dos anos 1990 e início dos 2000 e exibiu “A Regra do Jogo” cada dia em um horário, atrasando o quanto pudesse sua exibição, fugindo do confronto com “Os Dez Mandamentos”, ajudando ainda mais a Record a se consolidar.
 
Nesta semana, não está sendo diferente. Por conta do amistoso da seleção nesta terça (08) e o Campeonato Brasileiro nesta quarta (09), a novela vai ao ar mais cedo, mas na quinta e sexta-feira, por exemplo, já está programada para entrar por volta das 21h40. Isso se não começar ainda mais tarde.
 
A novela das nove sempre foi o produto mais forte da Globo. Ainda que “Babilônia” tenha sido um fracasso colossal e avassalador, durante quase todas as semanas foi o programa mais visto da Grande São Paulo e também do Brasil.
 
O caso mais famoso
 
Quem não se lembra da “Casa dos Artistas”, possivelmente já deve ter ouvido falar. E falar também o quanto este programa causou um estrago na programação da Globo.
 
 
Além de surrar o “Fantástico” por sete domingos consecutivos, Silvio Santos colocou a “Casa” para bater de frente com “O Clone”, em 2001. É claro que o reality do SBT nunca venceu o folhetim de Glória Perez na média, mas a Globo nunca ultrapassou a linha do “JN”, por exemplo, para fazer “O Clone” fugir do programa do SBT. Simplesmente porque sua novela era um produto mais forte para fazer frente a qualquer outro.
 
Outros tempos
 
A Globo, acuada, resolve adotar uma estratégia bastante esquisita. Algo que certamente não veríamos no tempo do Boni: fazer seu principal produto fugir da concorrência de outra novela. E pior, voando com a grade de programação numa clara contradição ao que sempre pregou: TV é hábito. 
 
Como fidelizar o telespectador com um programa que cada dia começa num horário? Em salvo raras exceções como uma partida de futebol do Brasil, por exemplo, é inadmissível que por uma “estratégia de grade” comprometa tanto o horário de sua programação, a ponto de quem assiste simplesmente não saber qual hora a novela vai começar. Surpreendente.
 
O “Jornal Nacional”, historicamente, sempre foi mais vulnerável que uma novela das nove, por mais que ela tenha sido um fracasso. E de repente, a Globo o coloca para combater o produto de maior sucesso da Record chegando a ficar por mais de uma hora no ar.
 
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Não à toa, aliás, o SBT quase sempre usou o horário das 20h30 para o lançamento de suas novelas, apostando na contra-programação e uma maior facilidade em fisgar público quando não se tem um produto dramatúrgico na Globo.
 
O que vemos a rede carioca fazer hoje é de fato irreconhecível. Ela percebe o sucesso da concorrente, mas está visivelmente desesperada e não sabendo lidar com a situação, atropelando sua política e respeito para com quem lhe assiste. 
 
Com as constantes mudanças, o quadro pode se agravar. E é sempre bom lembrar: nada é tão ruim que não possa piorar.
 
 
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter: @tforatto
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