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Bipolaridade da Record no Pan deixa dúvidas para a Olimpíada do Rio

Território da TV


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Divulgação

A Record é uma emissora de fortes emoções. E extremas. Consegue ao mesmo tempo ampliar o espaço da dramaturgia diária enquanto especula-se a terceirização de suas futuras tramas. Dia desses, Britto Jr. comandava dois programas na casa. Já hoje...

Com o esporte, o tratamento não é muito diferente. O canal chegou a exibir nos Jogos Pan-Americanos de Toronto longas horas de competições de provas como saltos ornamentais, nado sincronizado e até levantamento de peso sem chances de medalha para os brasileiros, enquanto disputas mais fortes, como a final do basquete masculino e uma das semis do vôlei feminino ficaram de lado.

Justiça seja feita, havia um único e claro critério de coerência: o de que, perdoem o trocadilho, a novela “Os Dez Mandamentos” era sagrada. Nada a abalou nem mesmo para uma mudança de faixa horária. Provas nobres, como as da natação, foram solenemente ignoradas.

Mas nem tudo foi pensando na margem de erro imediata da audiência. Em alguns casos, ficou nítida a falta de traquejo para lidar com um evento esportivo de grande porte, fruto da falta de outras exibições regulares.

O “Jornal da Record”, ao vivo, coincidiu com diversas competições e pódios de atletas brasileiros. Muitas vezes, enquanto havia um representante nacional disputando ou celebrando medalha, o telejornal exibia matérias gravadas sobre os próprios Jogos. Em outros casos, a exibição terminava segundos antes de uma prova.

A falta de cuidado geral, da divulgação ao pouco caso com a cerimônia de encerramento, colocada em um compacto na madrugada, evidenciam que a Record apenas colheu o que plantou.

Ao tratar o Pan como um evento menor do que fez em 2011 nos Jogos de Guadalajara, a emissora também colheu índices inferiores, apesar de que bem mais qualificados. É um público que raramente passaria pelo canal se em vez de Arthur Zanetti e Thiago Pereira estivessem na tela Luiz Bacci ou Geraldo Luís.

Uma parcela que só retornará em 2019, dada a falta de opções para manutenção do telespectador. Em 2016, o canal estará novamente na exibição olímpica, mas fica difícil vislumbrar bons números quando vistas as circunstâncias. Se dessa vez o canal esteve sozinho ao lado da sua rede de notícias na TV aberta, na Olimpíada do Rio haverá a concorrência direta de Globo e Band.

Uma que tem a capital fluminense como seu “quintal” e além dos direitos de transmissão também virou apoiadora de mídia do Comitê Olímpico Internacional, sendo cotada até mesmo para colaborar na geração de imagens no vôlei de praia.

A outra é o canal com maior flexibilidade para fornecer uma cobertura mais extensa e ainda conta com uma tradição de décadas no ramo. Além delas, haverão SporTV, ESPN e Fox Sports com transmissões massivas na TV por assinatura.

Assim, é sombrio pensar o que o futuro breve pode reservar. Afinal, qual o espaço que sobra para Record nesse meio tão competitivo? Tivesse repetido a postura do ciclo Vancouver-Guadalajara-Londres, a aposta em entrar no nicho com um ufanismo diferenciado do global podia ser certeiro.

Mas saindo de desempenhos aquém das expectativas em Sochi e Toronto, o bom time nos nomes individuais, por mais que se esforce, não deve ser um grupo de peso na briga pelo pódio daqui a 1 ano.
 

No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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