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Globo completa 50 anos ditando moda, hábitos e costumes pelo Brasil

A coluna "Enfoque NT" traça a história da emissora, tendências criadas por ela e diversidade na programação


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Emissora completa 50 anos hoje, 26 de abril - Divulgação

A Globo chega ao meio século de operações neste domingo, 26 de abril. São 50 anos em que sua história e a da televisão se confundem, assim como, de certa maneira, da cultura brasileira.

Ao longo desses anos todos, é inegável dizer que a emissora da família Marinho criou hábitos, embora alguns tenham se perdido ao longo do tempo, em função da concorrência mais forte e da proliferação de outras mídias, mas o fato é que a Globo contribuiu - e muito - para ditar hábitos, modas e costumes por todo o Brasil.

Da febre das meias de lurex usadas por Sônia Braga em "Dancin' Days" (1978) ao bordão ''Tô certo... ou tô errado?'', do Sinhozinho Malta de Lima Duarte, balançando as pulseiras em "Roque Santeiro" (1985)... O melhor exemplo disso é a telenovela. Não é segredo pra ninguém que é a Globo quem produz as melhores novelas do mundo, e também as mais “complexas”. O gênero se difundiu no Brasil a partir da década de 1960 ganhando popularidade e prestígio junto ao público e mercado publicitário pela inovação da emissora em tratar do cotidiano brasileiro contemporâneo de forma mais realista. 

 
O modelo ideal de programação, criado no final daquela década por José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, se mantém intacto até hoje, com três novelas e dois telejornais entre elas para segurar o público. O pilar e a estrutura inicial ainda se mostra eficaz, apesar dos pesares e das dificuldades em se manter com alta audiência com um público muito mais participativo e exigente e cheio de opções que o daquela época.
 
 
A novela é o que é hoje, o grande produto da televisão brasileira, muito graças a Globo. Já dizia Boni: “Um programa muda a audiência de um horário. A novela muda a posição de uma emissora”. E não é que é verdade? Afinal, foi por esse caminho que a Globo chegou onde chegou. E as ameaças que ela sofreu em perder o primeiro lugar, também. Vide as tentativas da extinta TV Manchete, Record e até mesmo o SBT, embora Silvio Santos tenha conseguido utilizar de outras armas durante a década de 1990 e começo dos anos 2000 como realities, games e jornalísticos. Entretanto, ficou provado que foram apenas espasmos.
 
 
Nada tão sólido como telenovelas. E a sua popularidade é uma das “culpadas” pelas famigeradas séries estadunidenses não se darem tão bem em terras tupiniquins. Foram poucas em televisão aberta que realmente se destacaram. O culpado? Nosso processo cultural foi outro dos estadunidenses, canadenses ou europeus. Não há paciência em se esperar um episódio por semana, já que criou-se o hábito de acompanhar a mesma história todos os dias. Tanto é que algumas séries fizeram relativo sucesso por aqui pelo formato exibido: diário.
 
Referência
 
Este texto não é para rasgar seda à Globo, até porque ela não precisa disso. E como todos os outros canais de televisão por aqui têm seus defeitos e qualidades, e uma destas qualidades está no padrão de qualidade ainda implantado por Boni há quase 40 anos. É uma identidade que já tentou, sem sucesso, ser copiada. 
 
 
No intuito de não ser uma emissora segmentada, ou seja, de atender os telespectadores sem distinguir idade, sexo e classe social, a Globo cerca seus projetos de pesquisas qualitativas e quantitativas.
 
Não por acaso, na vontade de atender aos desejos do telespectador com pluralidade, a programação foi se tornando, ao longo desses 50 anos, cada vez mais própria. Hoje mais de 90% do que vai ao ar na Globo é produção doméstica - boa parte concebida num espaço de 1,6 milhão de metros quadrados, a Central Globo de Produção ou Projac, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Inaugurado em 1995, o Projac é um mundo de sonhos, com estrutura ultramoderna, que aumentou a força produtiva da emissora. O resultado foi a multiplicação de minisséries, seriados e programas especiais num número invejável, exportando parte do que é produzido para o mundo todo.
 
 
Afinal, por que a Globo é líder?
 
Muitas opiniões permeiam este assunto, mas a Globo é o que é, além da excelência indiscutível de suas produções, o canal de televisão aberto mais completo. Há de tudo: dramaturgia, humor, filmes, esportes, jornalismo e programas de auditório. Justamente por não ser segmentada e atender todas as demandas, é uma televisão sem “nicho”. Feita para a massa.
 
Enquanto outras têm overdoses de jornalismo, como a Record ou o SBT, que no caso se lambuza de infantis e enlatados, a Globo mantém um equilíbrio em sua grade de programação. 
 
Últimos anos
 
De um tempo pra cá, é notório que a Globo mudou muita coisa. Dá mais liberdade de criação, repaginou sua programação visual e tem aquilo que hoje é denominado de “descontrole de casting”. Isto é, quando um ator, por exemplo, sai de uma novela diretamente pra outra e aparece em várias produções num curto espaço de tempo. Isso tem ocorrido, bem como a repetição de temas em novelas e programas da casa, levando muitos a acreditarem que ela esteja perdendo “padrão”. 
 
Tudo isso é muito delicado e precisa ser tratado realmente com mais cuidado, mas a Globo completa 50 anos hoje num primeiro lugar confortável mesmo numa crise aguda que ronda seu horário nobre e a novela das 21h.
 
É preciso continuar fazendo a manutenção diária de sua liderança e qualidade para que ela não se perca nesse futuro, que como ela mesma faz questão de dizer: “já começou”.
 
 
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter e Instagram: @tforatto
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