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Narrativa de "Felizes para Sempre?" mostra um espectador ainda conservador

Estação NT


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Divulgação/TV Globo

Quase em seu final após dez episódios, a minissérie “Felizes para Sempre?”, no ar desde 26 de janeiro na Globo, inverteu a famosa ciranda de fulana-que-amava-beltrano-que-amava-ninguém, e como a interrogação irônica no título sugere, a sua trama gira em torno de casais em crise. Ou seja, fulana-frustrada-com-beltrano-que-amava-a-si-mesmo, a tônica das relações pós revolução sexual.

Acostumada a produções grandiosas no passado, a emissora carioca tem investido em histórias mais próximas do cotidiano, com linguagem cinematográfica, sexo coreografado e foco nos diálogos.

Roteirista experiente em abordar os relacionamentos, Euclydes Marinho reciclou a trama da sua minissérie de 1982, “Quem Ama Não Mata”, com detalhes condizentes aos novos tempos (cenas mais picantes, relação lésbica, trama ambientada em Brasília, cujos escândalos políticos e as manifestações de 2013 servem de pano de fundo). Mas os problemas conjugais se repetem, no limite do chavão: o casal idoso (vivido por Selma Egrei e Perfeito Fortuna) repentinamente atraído por antigos namorados, a esposa recatada (Maria Fernanda Cândido) envolvida com a amante do marido (Paolla Oliveira e Enrique Diaz), o homem que questiona a mulher (João Miguel e Adriana Esteves) sobre a paternidade do filho.

Em tensão crescente, as histórias desembocam na obsessão e na violência, graças ao texto habilidoso de Marinho e a direção de Fernando Meirelles, que não usa piruetas visuais para narrar a trama, se concentrando em fazer uma história puxar a outra. A simetria de Brasília, em contraste com as vidas atribuladas mostradas na tela, ironiza o quanto os personagens tentam controlar os próprios acontecimentos.

Talvez seja o horário ingrato pós-“BBB” ou a narrativa mais lenta que façam “Felizes para Sempre?” ser mais comentada pelas cenas sensuais de Denise, a prostituta de luxo interpretada por Paolla Oliveira, do que por suas demais qualidades.

Ou todo esse burburinho indica o quanto o espectador é menos liberal do que imagina ser.
 

Ariane Fabreti é a nova colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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