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Tradição perde espaço e novidades como "MasterChef" se destacam em 2014

Território da TV


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Fotos: Divulgação

Duas novidades que estrearam sem despertar tanta expectativa assim acabaram se tornando as melhores atrações de entretenimento levadas ao ar em 2014.

Ambas levantadas por profissionais com imensa moral acumulada, mas que não tinham grande brilho em seus trabalhos recentes. Mas o talento se sobressaiu neste ano.

Marcelo Adnet, após o fracasso de "O Dentista Mascarado", se juntou com Marcius Melhem para desenvolver o "Tá no Ar: a TV na TV". Um formato que lembra "TV Pirata" e "Casseta e Planeta", mas também mostrou personalidade para marcar época por si só.

Com piadas antes inimagináveis levadas ao horário nobre da Globo, como imitações de concorrentes e críticas internas. E tudo isso sem precisar partir para o anarquismo e passar do ponto. Um feito.

O programa ainda respeitou em sua primeira temporada o tempo necessário para seguir no ar em nível alto e deu uma devida pausa para possivelmente retornar no mesmo ritmo agora em 2015.

De longe, foi o melhor que surgiu no campo do humor. Folga igual a que o "MasterChef" possuiu no campo dos realities.

Com uma Ana Paula Padrão mostrando que joga em todas as posições, um trio de jurados com uma bela química e edição caprichada, a atração culinária se mostrou um sucesso, até liderando a audiência em sua grande final. É outra que já tem o passaporte carimbado para 2015.

E o "MasterChef" salvou o ano da Band de ser um fracasso na área do entretenimento. Os então carros-chefes viram seus números e repercussão encolherem cada vez mais.

"Pânico na Band" e "CQC" vivem crises de personalidade e audiência. Perderam relevância, não emplacam mais comentários e precisarão de reformulações.

As mais radicais virão no programa das segundas. Marcelo Tas se despediu da bancada que estreou e será substituído por Dan Stulbach na próxima temporada. E Dani Calabresa também deixa suas funções.

Em compensação, Rafael Cortez e Rafinha Bastos se juntarão de novo após terem tido anos de 2014 completamente diferentes.

Cortez viu sua nova tentativa de emplacar na Record naufragar. De tão irrelevante, o "Me Leva Contigo" nem chegou a ter sua temporada completa exibida.

Já Rafinha finalmente superou o estigma da piada com Wanessa Camargo e vem cada vez melhor na condução do "Agora é Tarde", que se transformou no grande talk-show desse fim de ano.

O "The Noite", de Danilo Gentili, teve um começo extremamente superior e segue engraçado, mas com o tempo ficou óbvio e passou a dar um espaço desproporcional para temas políticos, reforçando convicções pessoais do apresentador a liberdade concedida pelo SBT.

O "Programa do Jô" ficou marcado mesmo pelo tempo de reprises que levou ao ar, enquanto o apresentador estava internado. Mas finalizou o ano com ele já recuperado e agora em férias, podendo retornar na próxima temporada com mudanças profundas no formato.

Jô é mais um dos veteranos da Globo que sofre para manter o status de outras épocas. Xuxa pode deixar a emissora após mais um ano na geladeira. E Renato Aragão foi utilizado em apenas dois telefilmes.

Mas como diz-se que Deus ajuda quem cedo madruga, Ana Maria Braga e Fátima Bernardes tiveram anos tranquilos e se isolaram na liderança de audiência. Em parte pela crise no "Hoje em Dia", da Record, que acabou o ano trocando todo o seu trio de apresentadores. Saem Celso Zucatelli, Chris Flores e Edu Guedes e entram César Filho, Renata Alves e Ana Hickmann.

Assim, Ana deixa o enfadonho "Programa da Tarde", que continua com Britto Jr., Ticiane Pinheiro e possivelmente a repetição absoluta da "Patrulha do Consumidor" de Celso Russomano e do "Além do Peso".

Mas engana-se quem pensa que o "PdT" foi o pior das tardes no ano. Luiz Bacci e seu "Tá na Tela" se esforçaram para merecer o posto com um sensacionalismo bizarro e que foi prontamente rejeitado, causando o cancelamento da atração.

Quem apelou para o caminho sensacionalista, mas com cuidado em mixar suas atrações, foi o "Domingo Show" de Geraldo Luis. Com anão, choro e muita polêmica, a atração aumentou a audiência da Record na faixa.

E deu trabalho para o "Domingo Legal", onde Celso Portiolli pode se destacar nos quadros em que tem mais liberdade para brincar, como o "Passa ou Repassa". Sucessores de horário de Geraldo e Celso, Eliana e Rodrigo Faro passaram o ano alternando a vice-liderança, mas sem grandes novidades.

Na guerra dominical, o "Esquenta" de Regina Casé segue brega, mas tentando se movimentar com edições ao vivo, esquema frequente que ficou como legado da Copa do Mundo. O "Caldeirão do Huck" seguiu o mesmo caminho.

Já Fausto Silva viu seu espaço ser reduzido entre os jogos do Mundial, mas seguiu brilhando com a "Dança dos Famosos" e agora nas premiações de fim de ano.

Silvio Santos também dominou as noites de domingo. Cada vez mais solto, o apresentador mostra porque é o maior comunicador brasileiro esbanjando sua vitalidade e bom humor por quatro horas semanais.

E também segue com suas apostas indo e voltando na grade de programação do SBT. O "Arena" de Lívia Andrade não mostrou a que veio e saiu do ar, mesmo destino do divertidíssimo "Caso Encerrado", telebarraco dublado que revelou aos brasileiros que Ana Maria Polo pode ser capaz de fazer Christina Rocha parecer chata.

Na mesma linha de ousadia editorial, o "Teste de Fidelidade" de João Kleber chegou a encarnar uma fase em que quase tudo era liberado, mas finaliza o ano mais careta.

Outra que ficou mais regrada em 2014 foi Sabrina Sato, agora na Record. Seu novo programa é bem feito, mas peca pela ausência de identidade. Parece mais uma entre tantas atrações de auditório.

Para sua sorte, de melhor nas noites de sábados, só o "Altas Horas". O "Legendários" se salva apenas na época de "A Fazenda" pelo "Vale a Pena Ver Direito", enquanto o "Zorra Total" passará por profundas mudanças para tentar retomar uma graça.

As tardes do primeiro dia do final de semana também não vivem situação melhor. Enquanto isso, Serginho Groisman acertou ao investir em programas temáticos e abandonou o vício de comemorar um aniversário por mês.

Além do "Zorra", mudanças profundas também virão no complicado "Vídeo Show", que virou saco de pancadas da concorrência ao mudar de formato.

Outros que não devem escapar de apimentadas em suas fórmulas são os realities "Big Brother Brasil", "A Fazenda" e "Aprendiz", que não tiveram suas piores temporadas, mas também não empolgaram. O "The Voice Brasil" sofreu do mesmo mal, mas em grande parte pela decaída no nível dos participantes.

Nesse nicho, o "Esse Artista Sou Eu", boa novidade do SBT, também merece destaque. A atração teve um cuidado digno de nota na caracterização dos participantes.

Enquanto esse gênero se reinventa, a programação infantil tem seu espaço cada vez mais reduzido. Na Globo, deve sair até mesmo dos sábados. Com isso, canais como Cartoon Network e Discovery Kids, líderes na TV por assinatura, agradecem.

E é nesse ritmo de crescimento de outros mercados que a TV aberta será obrigada a seguir se renovando para manter seu entretenimento vivo e atraente não só em 2015, mas por todos os próximos anos. Nem precisa se inventar muito para isso, como provam as duas elogiadas novidades do começo dessa coluna.

Na próxima retrospectiva desta coluna, falaremos sobre o ano no jornalismo.

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No NaTelinha, o colunista Lucas Félix irá mostrar um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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