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Copa e eleições tiraram a previsibilidade do telejornalismo em 2014

Território da TV


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Fotos: Divulgação

Todos já sabiam e ansiavam quais seriam os dois grandes eventos de 2014 para o Brasil. O que ninguém esperava é como eles se tornariam tão surpreendentes.  

No "Show da Virada" realizado há praticamente um ano, Ana Paula Araújo destacou em suas primeiras palavras que começava um ano "muito importante". E neste ano de Copa do Mundo em casa e das eleições presidenciais mais acirradas desde a redemocratização, ambos se destacaram pelos acidentes de percurso inimagináveis caso fossem previstos por alguém em janeiro.

Mas o primeiro grande evento esportivo do ano foi ocorrido bem distante daqui. Mais precisamente na Rússia, as Olimpíadas de Inverno de Sochi ganharam um inédito espaço para as geladas competições na Globo, porém foram subutilizadas pela Record, que repetiu seu pouco caso com o Mundial de Natação.

Porém, nem eles tiveram como escapar do clima de Copa do Mundo, mesmo sem os direitos de transmissão do evento. E até o "Cidade Alerta" entrou no clima do que era até então a busca pelo hexa. Enquanto isso, Band e Globo repetiram esquemas bem sucedidos que já haviam adotado na África do Sul.

Só que fez falta mesmo foi uma figura consagrada em 2002 entre a Coreia do Sul e o Japão: agora com seu "Encontro", Fátima Bernardes ficou afastada da cobertura direta da competição. Sua lacuna foi relativamente suprida por Fernanda Gentil, que se transformou na musa da vez. Ela acabou alçada ao "Globo Esporte" de São Paulo enquanto Tiago Leifert apresentava o "The Voice Brasil".
 
Outra musa, dessa vez na Band, também colheu os frutos do Mundial. Larissa Erthal viu sua edição carioca do "Jogo Aberto" ganhar cada vez mais espaço na rede.

Nos canais fechados, que quase ficaram totalmente dedicados ao evento, a novidade mais comentada foi o "Extra Ordinários", do SporTV. E entre as vozes que roubaram a cena nas narrações, Alex Escobar não foi tão bem visto na Globo, enquanto José Luiz Datena divertiu os telespectadores do BandSports. Outra rede que fez uma aposta na diversão foi o Fox Sports 2, que colocou Paulo Bonfá em sua cobertura.

Infelizmente, duas grandes vozes saíram de cena ainda antes da Copa: morreram os narradores Luciano do Valle e Maurício Torres.  
 
A Copa das Copas foi marcada por momentos curiosos, como os sucessivos beijos de turistas na repórter global Sabina Simonato ou o vazamento dos exercícios vocais de Patrícia Poeta, que percorreu todo o país ao lado de Galvão Bueno acompanhando a Seleção Brasileira desde a preparação.

Até a terça-feira de 8 de julho de 2014, quando os comandados de Felipão retornavam ao Mineirão, que já havia sido palco da batalha contra os chilenos nas oitavas de final, com uma vitória suada nos pênaltis.

Dessa vez, não houve aperto ou tensão. Mas sim um choque. Ou melhor: sete. A maior goleada da história em cima da Seleção Brasileira tornou o Maracanaço pequeno diante do placar humilhante.
 
E o que até então era pura festa com o evento ocorrendo acima das expectativas pelas ruas de 12 capitais brasileiras se transformou numa cobertura diferente do que já havíamos visto nas eliminações de 2006 e 2010.

Roberto Carlos e Felipe Melo foram vilões fáceis nos Mundiais passados. Pequenos erros mataram os jogos. Mas como lidar com um massacre? Diante da falta de respostas imediatas, a imprensa se baseou em desenvolver diversos conteúdos explicando a crise em geral do futebol brasileiro.

Ao menos, a festa também não foi argentina. Com a consagração alemã também na final, o futebol internacional ganhou mais espaço na programação global. E na TV fechada também, que agora convive com quatro grandes forças após a surpreendente conquista dos direitos da Liga dos Campeões pelo Esporte Interativo.

Enquanto isso, os times brasileiros decepcionaram. Sem Libertadores e assim também fora do Mundial de Clubes, a grande final do ano foi a da Copa do Brasil, que assim como a eleição, teve um duelo de mineiros. Deu Galo. E com o clássico regional exibido para o Brasil inteiro.

O outro grande evento, citado desde a abertura desta retrospectiva, foi a eleição. E o Brasil foi apresentado para a disputa em escala máxima muito antes do que pensava. Uma tragédia colocou o cenário político em evidência logo na reta inicial do horário político.
 
A morte de Eduardo Campos em 13 de agosto deixou o Brasil perplexo. E colocou todas as grandes redes em coberturas ao vivo com a repercussão do acidente aéreo no litoral paulista. O "Jornal Nacional" do dia pela primeira vez desde a estreia do estúdio-redação acabou o abandonando. E encerrou a edição em silêncio, assim como em outra das grandes perdas do ano, que ocorreu na dramaturgia, com o falecimento de José Wilker. O expediente foi repetido ainda nas despedidas de Bellini, campeão do primeiro título mundial em 1958, e do cinegrafista Santiago Andrade, sobre o qual falaremos mais adiante.

Retornando para a tragédia em Santos, o falecimento do candidato do PSB mudou completamente o tabuleiro eleitoral, forçando a entrada de Marina Silva como um furacão na disputa. Mas desidratada em doses homeopáticas pelos concorrentes, ela cedeu a vaga no segundo turno para Aécio Neves.

Enquanto o trio ainda trocava farpas, um dos poucos espaços em que suas próprias ideias era o tema central de suas falas ocorria nas bancadas dos telejornais em que eram entrevistados.
 
O "Jornal Nacional" chamou atenção pela forma "agressiva" (mas igualitária, diga-se) com que tratou os presidenciáveis, mas a mais eficaz rodada de entrevistas foi no "Jornal da Record".

Nos debates, com confrontos diretos entre os candidatos, o tom entre eles foi evoluindo a cada novo encontro. Mas da parte das emissoras, em geral, o primeiro turno foi sem grandes sustos editoriais, com a RedeTV! se destacando pela amplitude de sua cobertura.

Com Dilma e Aécio definidos no segundo turno, a campanha em certo momento descambou para a mais completa baixaria. Mas nada como uma intervenção do Tribunal Superior Eleitoral para acalmar os ânimos e colocar o foco natural nos eleitores indecisos.

Por uma margem apertada que deixou o Brasil prendendo a respiração durante boa parte do dia 26 de outubro, Dilma Rousseff foi reeleita e terá mais quatro anos de poder.

A cobertura de sua posse já deixará o início de 2015 agitado no telejornalismo, mesmo com a grandiosidade obviamente sendo inferior diante da passagem da faixa em 2011.

Curiosamente, ao contrário de quatro anos atrás, a famosa vinheta do "Plantão", conhecida para informar as notícias urgentes, não foi utilizada para informar sobre o novo mandato presidencial. A Globo preferiu antecipar o "Fantástico".

Assim sendo, apenas duas vezes no ano a temida inserção interrompeu a programação da emissora. Em 29 de setembro, para noticiar o fim de um sequestro em um hotel de Brasília. Já em 12 de fevereiro, surgiu às 4 e 38 de manhã, quando era anunciada a prisão de Caio Silva de Souza, o homem que atirou o rojão que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade durante um protesto no Rio de Janeiro.

Era o auge de uma cobertura que vinha sendo mostrada há dias, desde que Santiago ainda lutava para viver.
 
Além da Band, que inseriu uma tarja de luto em seu logotipo, a Globo se dedicou a destacar o caso, incluindo a leitura de um firme editorial por William Bonner em pleno "JN".

A repercussão chegou a fazer com que imagens exclusivas da Record do suspeito fossem exibidas e devidamente creditadas pela Globo News. E é da Globo News que vem uma das mais surpreendentes trocas de canal de 2014 entre os jornalistas. Mariana Godoy deixou o "Jornal das 10" e fechou acordo com a RedeTV! para 2015. Ela alega que o principal motivo foi a mudança do Rio de Janeiro para São Paulo. Já Paulo Vinicius Coelho, o PVC, faz o caminho inverso, estreando em primeiro de janeiro na Fox Sports após sua longa trajetória na ESPN.

Quem fez uma mudança mais curta foi César Filho. Com o êxito do "Notícias da Manhã" direto da Anhanguera, ele estará em 2015 na Barra Funda comandando o "Hoje em Dia" ao lado de Renata Alves, ex-repórter do "Domingo Espetacular", e Ana Hickmann.
 
Neila Medeiros assumiu bem suas funções e já deu nova cara ao noticiário do SBT na concorrida faixa matinal, que em 2014 teve a boa estreia do "Hora Um" pela Globo, que tirou o "Globo Rural" diário do ar após anos para lançar o novo telejornal com Monalisa Perrone, um dos destaques da transmissão do Carnaval de São Paulo.

No Rio, Fátima Bernardes voltou para a Sapucaí, mas foi ofuscada por Tiago Leifert. E com Zeca Camargo vendo seu "Vídeo Show" em crise, o destaque entre os profissionais de jornalismo que migraram para o entretenimento foi de Ana Paula Padrão, que pode experimentar sua versatilidade ao máximo.

Outro que saiu de um jornalístico da Record para o entretenimento da Band foi Luiz Bacci, que vinha liderando a audiência na antiga emissora, mas decepcionou com o excesso de baixaria de seu "Tá na Tela", que já teve seu devido fim decretado. Em 2015, ele vai tirar uma hora de exibição do excelente "Café com Jornal", que ainda não emplacou, apesar da boa qualidade.

As manhãs foram alvo de tanta valorização que até as de sábado ganharam uma novidade: o "Como Será?", de Sandra Annenberg, que faz um conteúdo educativo sem ser chato.

Sandra, Evaristo Costa, Christiane Pelajo e William Waack ganharam ainda novos espaços com a reformulação da redação paulista da Globo.  

Da capital paulista, vieram ainda sinais dos novos tempos com uma programação mais regionalizada e predominantemente ao vivo, o que se ampliou com o aumento de 30 minutos da edição local do "Bom Dia" neste fim de ano.

Outros momentos de sinais sutis, mas relevantes, foram o apelo para imagens violentas, ocorrido na cobertura do assassinato do dançarino DG, e a maior atenção para o que é dito nas redes sociais.

Agora, até o "Jornal Nacional" tem chamada feita em forma de selfie e postada unicamente no Twitter, não mais no G1. "JN" que ganhou nova apresentadora em 2014. Após desempenhos medianos na Copa do Mundo e nas eleições, Patrícia Poeta foi rifada do posto e ainda não tem planos para o para o próximo ano, estando na geladeira.

Em seu lugar, surgiu Renata Vasconcellos, que já era considerada a sucessora natural de Fátima Bernardes. No lugar de Renata no "Fantástico", uma aposta: Poliana Abritta. E ambas deram conta do recado nas novas funções desde o começo.

O "Domingo Espetacular" fez sua troca antes do concorrente direto. Saiu Fabiana Scaranzi, entrou Thalita Oliveira, ex-"Fala Brasil". Donas de um talento discreto, elas fazem um estilo bem diferente de Rachel Sheherazade, que polemiza desde o começo do ano e acabou proibida de dar opiniões no "SBT Brasil".

De quase unanimidade sobre o telejornalismo da emissora de Silvio Santos, só mesmo a recente cobertura da despedida de Roberto Bolaños, que também ganhou destaque até na Globo.

Agora, apenas o Réveillon deve reunir o olhar de todos os canais simultaneamente.

Já para o longo de 2015, existe a programação de dois eventos continentais de maior destaque, mas que deverão ficar mais nichados para suas respectivas exibidoras.

A Globo exibirá a Copa América, com a Seleção Brasileira em busca de recuperar a moral após os vexames no Mundial e no próprio torneio local de 2011, quando sucumbiu ao Paraguai.

Já a Record irá até Toronto para destacar os Jogos Panamericanos, marcando a aproximação cada vez maior dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, quando aí sim ela, Globo e Band se unirão também com as redes fechadas (e põe plural nisso. Só do SporTV, estão previstos 16 canais) para uma das maiores coberturas de todos os tempos.

Ou seja, na agenda, não há muito o que se marcar para 2015. Mas se há alguma coisa que fica mais provada a cada ano, é que o imprevisível transforma pautas em passe de mágica.

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No NaTelinha, o colunista Lucas Félix irá mostrar um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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