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Entre a leveza e o clichê, "Alto Astral" retoma novelinha clássica das 19h

Estação NT


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Divulgação/TV Globo

Qualquer semelhança não seria mera coincidência. “Alto Astral”, a nova novela das 19h da Globo, abre o seu primeiro capítulo com uma cena grandiosa de acidente aéreo, assim como “Boogie Oogie”, a novela das 18h há três meses no ar.

Não que o autor de “Alto Astral”, Daniel Ortiz, tenha plagiado alguma obra ou folhetim, mas esta repetição indica uma estrutura que vem despontando nas novelas da emissora. As cenas de turismo em algum país estrangeiro, praticamente regra nos anos 90, deram lugar ao choque, ao rompimento da narrativa, só que retomando a linguagem tradicional de folhetim no momento seguinte. O casal sofredor, a disputa por poder, o amor à primeira vista debaixo de chuva e tudo o mais.

E “Alto Astral” não esconde a sua proposta em ser uma novela clássica, com todos os elementos acima. Thiago Lacerda traz a sua estampa de galã para o médico arrogante e ciumento do irmão, vivido por Sérgio Guizé, que com seu ar de menino desprotegido, completa o par filho bom/filho mau que dará o tom do enredo. Nathalia Dill repete o papel da mocinha descolada e boa-praça que será disputada pelos dois, enquanto ao seu redor estão outros personagens bem familiares ao espectador: o avô bonachão, os irmãos atrapalhados, a mãe desaparecida.

Coloque aí uma pitada de espiritismo meio cômico/meio sério e, como cenário, a cidade pequena fictícia que a Globo sabe construir tão bem. A assinatura de Jorge Fernando na direção é visível pela comédia pastelão encarnada por alguns personagens, como a vidente charlatã de Cláudia Raia, que, por estar na mão de um diretor velho conhecido seu, promete bons momentos.

Jorge Fernando, aliás, entendeu o recado de “Alto Astral” e, por que não, da própria Globo. Depois das ousadias (sem resultado) nas tramas anteriores do horário, decidiu-se retomar o folhetim padrão, na forma (cenas ágeis sim, mas sem grandes sacadas de câmera ou edição) e no conteúdo. A história leve e despretensiosa pode  resgatar o público perdido, contudo, ajustes são bem vindos para não melar demais a fórmula: amenizar o didatismo do texto e a caricatura de alguns personagens, como os vilões de Thiago Lacerda e Débora Nascimento, além de a música “Alma” de Zélia Duncan pela milésima vez em uma novela da casa também não ajudar.

No mais, “Alto Astral” retoma a já conhecida filosofia da emissora, ou seja, prometer um produto e entregá-lo com embalagem caprichada ao espectador.


Ariane Fabreti é a nova colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há seis anos.

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