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Capricho de "Dupla Identidade" enche os olhos, mas tem gosto requentado

Confira a estreia da coluna "Estação NT"


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Fotos: Divulgação/TV Globo

Diz a lenda que, para reconhecer um filme ou série policias feitos no Brasil, é só perceber as cenas de perseguição, bem distantes do padrão americano. A frase teria um fundo de verdade pelo menos na época da TV feita no improviso.

A série “Dupla Identidade”, escrita por Glória Perez e exibida pela Globo desde setembro, confirma que pelo menos em termos de produção, o nosso polícia-e-ladrão já superou o amadorismo.

A figura do serial killer, tão comum nas produções acima da linha do Equador, aqui é interpretado por Bruno Gagliasso, um matador de mulheres que circula pela alta roda da política sem despertar qualquer suspeita. Os episódios são cheios de referências a tudo que já vimos nos seriados e nos filmes americanos: o par psicanalista forense esquisita/detetive durão (interpretado por Luana Piovani e Marcello Novaes), a tecnologia de ponta nos laboratórios de investigação, os rituais macabros dos assassinatos.

Fã do gênero, Glória Perez sempre citou em entrevistas a sua inspiração em Hollywood para criar “Dupla Identidade”, fato que causou discussões quentes na internet, com telespectadores comparando a série da Globo com a americana “The Killing”. A história, os personagens e até o enquadramento das cenas seriam idênticos.

O telespectador não precisa de muito para notar que “Dupla Identidade”, apesar do capricho na direção de Mauro Mendonça Filho, é americanizada até a medula. O enredo mostra pontos estranhos à realidade brasileira, como a delegacia ultra equipada e os personagens distantes.

Já reprisada pelo canal Viva, a série “As Noivas de Copacabana” de 1992, escrita por Dias Gomes, trazia pela primeira vez o tema do serial killer, mas em cores locais. A polícia precária, o delegado desiludido e mulherengo, as vítimas que iam desde a perua da zona sul carioca até a evangélica do subúrbio, o assassino charmoso mas impotente. Cada episódio era um raio X das taras e hipocrisias da família brasileira, à moda de Nelson Rodrigues (aliás, não se esperaria outra coisa de Gomes, autor de “O Bem Amado” e “Roque Santeiro”).

“Dupla Identidade” pode ter um verniz hollywoodiano, só que é fria como comida enlatada, outra criação do tio Sam. Talvez mais valha uma produção modesta, mas que nos coloque no espelho, do que uma inovação sem rosto.


Ariane Fabreti é a nova colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há seis anos.

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