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Colunista convidado, Fábio Rabin questiona: "nada se cria, tudo se copia?"


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Divulgação

Confira a nova edição do "Colunista Convidado", onde um famoso é convidado pelo site para escrever um artigo de tema livre e gerar debate com os internautas:


Nada se cria, tudo se copia?
Por Fábio Rabin, artista convidado do NaTelinha


Desde que entrei no meio das artes vejo uma interminável discussão em torno da seguinte frase: "Nada se cria, tudo se copia"!
 
A primeira vez que ouvi essa frase, tive vontade de desistir de tudo! Pois que graça haveria em trabalhar para construir algo que já foi feito? Para muitas pessoas não há problema, no caso dos comediantes então, há muitos que ganham a vida apenas decorando piadas de gibi e falando elas com uma propriedade absoluta como se fossem eles mesmos quem criaram.

No meio televisivo, uma incessante repetição de formatos e quadros que foram feitos nos países de primeiro mundo, afim de copiar uma fórmula antes testada e que deu audiência faz com que a originalidade suma da vista do brasileiro, pelo menos na maioria dos canais televisivos, principalmente os da chamada TV aberta.
 
Alguns que leem o meu texto aqui e que conhecem meu trabalho devem estar pensando: - Que moral esse cara tem para falar? Ele faz stand up comedy, um gênero por si só americano! Uma cópia do humor internacional que vem dando certo no Brasil. Que hipócrita!
 
Porém, acredito que se o stand up comedy, assim como outras coisas são temas ou gêneros que se não tivessem sido inventado antes seriam descobertos mais tarde por outras pessoas, pois há uma necessidade em fazê-lo, e dentro deste gênero crio sim minhas piadas, da minha cabeça, sem copiar.

Outro exemplo mais claro é o de Édipo Rei. A história criada na Grécia Antiga é contada novamente, de diversas formas, como por exemplo em "Guerra nas Estrelas". O filho exilado que volta para matar seu pai. Neste caso o que há é uma referência. Uma boa história contada sobre uma nova ótica. Pois centenas de anos se passaram, então, nada mais justo do que uma adaptação, mas uma adaptação criativa e muito bem-vinda!
 
O que estou combatendo aqui é a pirataria criativa! Pessoas com um talento meramente mercadológico trabalhando numa área que deveria ser artística, mas não é! Com a necessidade de dar audiência, para não espantar o departamento comercial – área esta que move o canal e que se tornou portanto uma empresa - a televisão que deveria ser uma expansão da arte, em particular do teatro, um desdobramento do cinema para milhares de pessoas assistirem, se torna um meio de vendas, um shopping center dentro da casa das pessoas, com sua publicidade altamente corrosiva e suas tramas baratas que mostram mais corpo e cópia e cada vez menos as relações humanas. E os atores por seu lado se veem em constante conflito entre fazer teatro para poucas pessoas, ou se vender à TV e ganhar público, porém fazer parte de uma máquina de atrofia do pensamento da população.
 
Sou daqueles que não acredita que tudo se copia! Pelo menos não por mim! Tudo o que me dá prazer em fazer eu crio e se alguém já criou a mesma coisa que criei, não estou copiando e sim seguindo os passos inconscientemente de alguém que um dia foi um artista. Isso me estimula, mas se me acomodar com o pensamento "Nada se cria, tudo se copia", não irei mais criar, pararei de escrever minhas piadas, minhas ideias de filmes, meus roteiros, inclusive este texto, este pensamento que já deve ter sido discutido milhares de vezes, não precisaria perder meia hora do meu dia para escrevê-lo, bastaria ter dado um copy paste.

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Fábio Rabin é humorista e tem 32 anos. É considerado um dos melhores nomes do humor na nova geração, sendo um dos precursores do stand-up comedy no Brasil.

Na televisão, passou pelo "Pânico na TV", da RedeTV!, e pela extinta MTV Brasil. Atualmente, é um dos integrantes do programa "Fritada", no Multishow.

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